BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A busca pelos dois detentos que fugiram da penitenciária federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, completa 21 dias nesta terça-feira (5) e já supera o tempo de procura por Lázaro Barbosa, serial killer cuja fuga da cadeia demandou 20 dias de operação policial no Distrito Federal e em Goiás, em 2021.
Segundo especialistas em segurança pública, o tempo de busca pelos fugitivos de Mossoró ainda é considerado aceitável, dada a complexidade da região.
"A princípio, não vejo o tempo como problema, [pois] depende muito das características da região. Além do mais, as reportagens mostraram que eles estavam tendo ajuda", disse Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Manter a eficácia da operação por um período prolongado, no entanto, pode ser um desafio. O especialista em segurança pública Luís Flávio Sapori é categórico ao afirmar que a situação pode se tornar mais complicada após um mês de buscas, devido aos custos crescentes da operação.
"A recaptura seria uma forma de resgatar a credibilidade do sistema penitenciário federal, que funciona bem e do qual não podemos abrir mão para ajudar no combate a facções. A recaptura é fundamental, tem que ter paciência, não há como definir um prazo, mas se passar de 30 dias começaremos a ter problemas", afirmou.
O tempo é minimizado por integrantes do governo, que argumentam, sob caráter reservado, que a captura dos fugitivos é uma questão de honra para o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Mesmo assim, relembram dificuldades como a geografia complexa da região.
Para justificar a questão do tempo, argumentam que este não é um caso isolado, mencionando outras fugas notórias no Brasil e no mundo, como o caso envolvendo o brasileiro Danilo Cavalcante, 34, que em 2023 escapou de uma penitenciária federal nos Estados Unidos, e a operação contra Lázaro.
No primeiro caso, a caçada durou 14 dias. Durante esse período, Cavalcante conseguiu escapar das autoridades em várias ocasiões, furtou uma van, entrou em contato com duas pessoas em busca de ajuda e roubou uma arma. A operação para capturar o detento envolveu aproximadamente 500 policiais.
Já Lázaro foi capturado na cidade de Águas Lindas de Goiás após 20 dias. Ao ser encontrado, foi baleado e morreu no hospital. Cerca de 270 agentes participaram da operação.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública ainda não divulgou um relatório sobre os gastos da operação, que conta com o dobro de agentes que atuaram na captura de Lázaro. A justificativa apresentada é de que a operação ainda está em andamento.
Por meio de um comunicado oficial, o ministério disse manter total confiança em suas instituições e continuar empenhado em garantir que a situação seja resolvida da maneira mais rápida e segura possível.
As forças de segurança tentam desde o dia 14 de fevereiro capturar Rogério da Silva Mendonça, 36, conhecido como Martelo, e Deibson Cabral Nascimento, 34, chamado de Tatu ou Deisinho. Segundo as investigações, ambos são ligados à facção criminosa Comando Vermelho.
Apuração da Polícia Federal apontou que a facção está bancando uma rede de apoio destinada a ajudar os dois detentos. Entretanto, investigadores dizem acreditar que nos últimos dias eles passaram a agir sozinhos.
Na madrugada do último domingo (3), os dois presos invadiram um galpão e agrediram um agricultor que dormia no local. A agressão teria acontecido após o homem dizer que não tinha um celular.
As buscas continuam concentradas na zona rural de Baraúna (RN), onde os fugitivos foram vistos na última semana, e na divisa com o Ceará.
A fuga, fato inédito em presídios federais do país, expôs o governo de Lula (PT) a uma crise justamente em um tema explorado por adversários políticos, a segurança pública.
"O tempo para captura só é problema para o governo que precisa dar uma resposta rápida, ele tem que apresentar o culpado por isso. O presídio de segurança máxima não é um boteco, tem que ter responsabilidade. Isso pode motivar outras fugas", disse o deputado Alberto Fraga (PL-DF).
O tempo prolongado das operações de busca alterou os planos de membros do governo federal. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, visitou Mossoró em 18 de fevereiro e inicialmente anunciou que o secretário da Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais), André Garcia, permaneceria até a conclusão das buscas.
O retorno, porém, ocorreu antes do previsto, devido à avaliação de que as buscas não tinham um prazo definido. Além disso, havia várias demandas sobre o tema a serem atendidas em Brasília.
Desde a fuga, o Ministério da Justiça e Segurança Pública implementou 25 medidas para aprimorar a segurança nos presídios. Entre as ações realizadas na unidade de Mossoró, por exemplo, o governo instalou três barras de ferro na parte interna, onde ficam as luminárias, em todas as celas e vivências.
Outras iniciativas, como a construção de muralhas, a modernização do sistema de videomonitoramento e o aprimoramento do controle de acesso aos presídios federais com um sistema de reconhecimento facial para presos, visitantes e administradores, ainda aguardam processo de licitação.
"A instrução dos processos está em fase interna. O que significa dizer que o projeto existente e a planilha orçamentária (estimativa de custos) estão sendo revisados; e que está em curso a elaboração de Estudo Técnico Preliminar, Mapa de Risco, Projeto Básico, Edital, Minuta de Contrato, entre outros, todos indispensáveis à regular instrução do processo licitatório vindouro", disse o ministério, em nota.
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