RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A saudade de um amor arrancado por tiros fez Monica Benicio levar uma marreta para o cemitério do Caju, no Rio de Janeiro. Queria tirar o corpo de Marielle Franco da sepultura e lhe dar um último abraço. Desistiu, bebeu uma garrafa de vinho e dormiu em cima do túmulo, olhando o céu estrelado.
O relato está no livro "Marielle & Monica, uma história de amor e luta" (Rosa dos Tempos), que será lançado em abril. Nele ela fala de como as duas se conheceram, do relacionamento de 14 anos e do preconceito de alguns conhecidos pelo relacionamento lésbico. E, sobretudo, de luta e amor.
Hoje vereadora, também pelo PSOL, no Rio, Monica afirmou, por meio de sua assessoria, que não gostaria de dar entrevistas neste período. Nesta quarta (14) faz seis anos que Marielle foi assassinada.
Em 14 de março de 2018, o carro em que Marielle estava -e que era conduzido por Anderson- foi alvejado por 13 tiros. Os motivos e os mandantes do crime permanecem desconhecidos.
O dia do homicídio dividiu a vida de Monica em antes e depois, a mesma separação utilizada no livro. No início, fala sobre o amor romântico e as cartas de amizade que viraram paixão e companheirismo. Um encontro que causou reação física logo no primeiro olhar. "Meu coração e alma se expandiram", escreveu Monica, sobre a primeira vez que viu Marielle.
Depois da morte, Monica conta sobre o vício do álcool e a sua superação com terapia; narra episódios de depressão e fala também sobre morte de outra pessoa querida: seu amigo David Miranda, ex-deputado federal pelo PDT-RJ. Miranda morreu aos 37 anos, em maio de 2023, após ficar quase nove meses internado por causa de uma infecção gastrointestinal. Em razão da sua resistência, ela revela um apelido que foi dado a ele no hospital: Fênix.
Nas 239 páginas do livro também estão relatos de como Monica acompanhou a entrada de Marielle na política e a vida na Maré, a luta pelo direito de passar pela viuvez e também como dedica sua vida para manter vivos os ideais e a voz de Marielle -ou "A.D.M.V.", como ambas costumavam assinar em código suas cartas: "amor da minha vida".
INVESTIGAÇÃO
Atualmente, o Ministério Público do Rio de Janeiro e a Polícia Federal tentam convencer Ronnie Lessa, suspeito de ter feito os disparos contra Marielle e Anderson, a fazer uma delação. Oficialmente, os promotores não falam sobre o caso, mas a Folha apurou que o documento ainda não foi enviado para homologação.
As últimas ações dos investigadores miraram o poder econômico de milícias que seriam ligadas aos suspeitos do crime.
Nesta semana, a Promotoria apresentou suas alegações finais na ação penal movida contra o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, e pede que ele seja levado a júri popular por participação no crime.
Suel também responde por tentativa de homicídio contra Fernanda Gonçalves Chaves, assessora de Marielle que estava no carro atingido pelos tiros que mataram a vereadora e o motorista; e pela receptação do veículo Chevrolet Cobalt usado no crime.
Ele foi preso no ano passado acusado de ter participado das campanas que monitoravam a parlamentar. Ele foi citado na delação do ex-PM Élcio de Queiroz, que também está preso por ter participado do assassinato. Queiroz afirmou que fez conduziu o carro utilizado no crime.
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