SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O número de pessoas mortas por policiais no estado de São Paulo, nos meses de janeiro e fevereiro de 2024, foi o dobro em relação ao mesmo período do ano passado. Foram 147 mortos por policiais militares e civis nos dois primeiros meses do ano -ante 74 vítimas de intervenções policiais em 2023.
Com isso, as polícias paulistas na Tarcísio de Freitas (Republicanos) chegaram ao patamar mais letal para o período em quatro anos. A última vez que o estado teve um número tão alto de vítimas em intervenções policiais foi em 2020 -no segundo ano da gestão João Doria (então no PSDB)-, quando 183 pessoas foram mortas.
O aumento de 98,6% na letalidade policial ocorreu em meio à Operação Verão na Baixada Santista, que ganhou um reforço de efetivo após a morte do soldado Samuel Wesley Cosmo, 35, da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), no dia 2 de fevereiro. Ele foi assassinado durante patrulhamento em uma favela de palafitas na periferia de Santos.
Desde então, apenas as ações da operação deixaram um total de 53 mortos. A estatística divulgada pela SSP (Secretaria de Segurança Pública) nesta segunda-feira (25), no entanto, registra as mortes que ocorreram apenas até o fim de fevereiro.
A região da Baixada Santista teve um aumento de 293% na quantidade de mortos pela polícia, se comparados os bimestres deste ano e os de 2023. Foram 63 pessoas mortas por policiais na região em janeiro e fevereiro. Nesse período do ano passado, antes do início da primeira Operação Escudo, foram 16 mortos.
As operações Escudo têm sido uma nomenclatura usada pelo governo para todas as ações com o objetivo de responder ataques a policiais, que tenham resultado em morte ou não. Organizações da sociedade civil têm chamado atenção para o caráter de vingança dessas ações.
Desde o início da primeira Escudo na Baixada Santista, familiares e moradores têm denunciado mortes de inocentes desarmados, suspeitas de tortura, ameaças às comunidades, adulteração das cenas de crime e omissão de socorro. Dois PMs da Rota se tornaram réus pela morte de um suspeito em julho, sob acusação de terem forjado provas e bloqueado suas câmeras corporais.
A Ouvidoria das Polícias publicou relatórios que apontam irregularidades em 18 mortes, ao todo, nessas operações policiais.
Quando questionado sobre essas denúncias, o governo estadual diz que "todos os casos de morte decorrente de intervenção policial são rigorosamente investigados pelas polícias Civil e Militar, com o acompanhamento das respectivas corregedorias, Ministério Público e Poder Judiciário".
Também diz que as mortes "decorreram de confrontos com criminosos, que têm reagido de forma violenta ao trabalho policial" e destaca resultados da Operação Verão como, a "prisão de 1.010 criminosos, incluindo líderes de facções criminosas, e na apreensão de 948 quilos de drogas, além de 111 armas ilegais, como fuzis de uso restrito".
A cidade de Santos, como mostrou a Folha de S.Paulo, teve seu mês mais violento desde janeiro de 2013. Foram seis vítimas de homicídio no mês passado, e apenas uma em fevereiro de 2023. Outras regiões do estado também tiveram aumento expressivo da letalidade policial.
Houve, por exemplo, um aumento de mais de 100% na área atendida pelo Deinter-1 (Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior), que tem sede em São José dos Campos e recebe ocorrências de municípios do vale do Ribeira e do litoral norte, como Cruzeiro, Guaratinguetá, Jacareí, Taubaté, São Sebastião e cidades em seus entornos.
Em janeiro e fevereiro do ano passado, toda essa região registrou um total de cinco mortos por policiais. Neste ano, foram 11 mortos. Na região metropolitana de São Paulo, houve um aumento de mais de 50% na letalidade policial.
No ano passado, o primeiro da gestão Tarcísio, o número de pessoas mortas por policiais militares já teve um aumento de 38%. O estado vivia uma queda no número de mortos por PMs em serviço até 2022.
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