"Nesta edição, colocamos o holofote no cinema de animação, que envolve uma produção de resistência e de resiliência. Existe uma dificuldade muito grande de continuidade. De um ponto de vista da história, vamos abordar as várias descontinuidades. A proposta é abrir um espaço de diálogo, de encontros e de entendimento do que é a produção do passado e de hoje, com as diversas tecnologias e os diversos estilos e desenhos", explica a coordenadora-geral da CineOP, Raquel Hallak.
Referência no calendário cinematográfico nacional, a CineOP é organizada pela Universo Produção, que também é responsável pela tradicional Mostra de Cinema de Tiradentes (MG). O evento surgiu em 2006 com o intuito de suprir uma demanda do setor audiovisual por um festival estruturado em três eixos: patrimônio, educação e história. Para cada um deles, há uma vasta programação, totalmente gratuita, que mobiliza cineastas, pesquisadores, restauradores, professores, críticos, estudantes e cinéfilos em geral. São realizados debates, rodas de conversas, oficinas, apresentações musicais, atrações infantis e outras atividades.
O tema da edição deste ano é Cinema de animação no Brasil: uma perspectiva histórica. Dos 153 filmes selecionados, 15 são longas-metragens, um média e 122 curtas, produzidos em 18 estados brasileiros e em mais seis países (Angola, Argentina, Benin, Colômbia, França e Portugal). Segundo Raquel, a programação atende uma demanda dos produtores. "Existe essa lacuna. O Anima Mundi, que é um festival importante da animação, não acontece desde 2019. Então, tinha já uma reivindicação do setor para que a animação fosse destacada dentro de uma das nossas mostras."
Na cerimônia de abertura, o homenageado deste ano, Alêu Abreu, recebeu o Troféu Vila Rica. Ele é diretor do longa-metragem O Menino e o Mundo, que foi indicado ao Oscar 2016 na categoria de melhor animação.
Ao todo, 31 animadores estarão presentes na CineOP. "Vamos focar em vieses de discussão: a animação ontem e hoje, as autoras na animação, a animação em Minas, que tem uma formação muito forte através das universidades públicas – UFMG [Universidade Federal de Minas Gerais] e UEMG [Universidade do Estado de Minas Gerais] – e a animação de invenção, que envolve os traços autorais desses artistas", acrescenta Raquel.
Patrimônio
Uma das principais marcas da CineOP é o Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros, que ocorre dentro da programação do eixo Patrimônio. Trata-se de um dos principais fóruns em que se discutem políticas públicas voltadas para preservação dos filmes nacionais. A pauta inclui temas como prioridades para a restauração, processos de digitalização, acesso da população aos filmes e organização de bancos de dados.
Na edição deste ano, o Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros conta com a presença da ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Carmen Lúcia.
"A preservação era tida como o 'patinho feio' entre os temas envolvendo a cadeia produtiva do audiovisual. Desde que a colocamos em pauta na primeira edição da CineOP, pudemos testemunhar vários avanços. Sempre fazemos um alerta sobre a necessidade de pensar a preservação antes de começar a filmar. Isso vale para qualquer gênero, inclusive para a animação. E a ideia é gerar uma reflexão. Onde que estão esses filmes? Qual o estado da cópia desses filmes? Quem é dono desses filmes?", questiona Raquel Hallak.
Ela destaca a animação como uma arte coletiva: "são várias mãos fazendo. Muitas vezes você tem o animador e tem outro diretor. Então, tem mais de uma autoria dentro do sistema da animação. E realmente existe essa preocupação sobre como que esses filmes estão preservados."
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