Ailton “Mago” Ferraz

Matheus Brum Matheus Brum 15/08/2017

O Tupi vem surpreendendo muita gente. Entre torcedores e membros da imprensa, a equipe conseguiu deixar para trás o medo do rebaixamento para se consolidar como um forte candidato à classificação para o mata-mata decisivo do Campeonato Brasileiro da Série C.

Não tirando o mérito de cada jogador, que tem entrado em campo para fazer seus respectivos trabalhos. Mas, há uma pessoa importantíssima por trás deste sucesso: Ailton Ferraz.
O treinador chegou no início do Campeonato Mineiro, depois do desastroso início de Éder Bastos. Assumiu na quarta rodada do estadual, no empate diante do Tricordiano, em Três Corações. De lá pra cá são 22 jogos, com nove vitórias, oito empates e cinco derrotas. 53% de aproveitamento. Foram 23 gols marcados e 21 sofridos. Fora os números, o técnico conseguiu impor um padrão de jogo.

Hoje, o torcedor que vai ao Estádio Municipal Radialista Mário Helênio sabe a forma como o time se porta em campo. Dentro de casa, é uma equipe que busca propor o jogo. Com quatro homens no meio de campo, é fácil perceber o papel de cada um. Marcel faz o trabalho sujo, sendo o responsável pelos desarmes. Mas, o camisa 5 tem tido uma grande cresceste no que tange ao início das jogadas. Quando a bola cai nos pés do volante, ele sabe o que fazer, conseguindo, inclusive, fazer lançamentos longos, para os laterais ou atacantes que buscam a linha de fundo.

Leandro Brasília é o “motor” da equipe. Quando está bem, todos jogam. Porém, quando está mal, todos caem de produção. O papel tático do camisa 7 é importantíssimo, já que é o responsável por conduzir a bola na transição defesa/ataque. Precisa ter mais confiança para arriscar de fora da área, já que muitas vezes recebe em condição de finalização, mas prefere tocar para o companheiro.

Diego Luís é uma das gratas surpresas do plantel. Veste a camisa 8, mas as vezes joga como 7 ou 10, sendo um dos pilares da equipe. Tem a capacidade de ir e voltar, marcar e atacar, com a mesma qualidade. Ajuda na recomposição, mas se torna válvula de escape no momento ofensivo.

Andrey é a revelação. Com apenas 21 anos, enverga a 10 e tem decidido. Ágil e habilidoso, é o “diferente” do Galo. É dele que se espera, mesmo que jovem, a jogada que pode decidir uma partida.

O destaque fica por conta do meio de campo justamente por ser a zona do campo por onde mais se passa o jogo. Contudo, o dedo de Ailton vai além de fazer os jogadores produzirem individualmente. Eles se sobressaem pelo conjunto. Como uma perfeita máquina, cada um tem sua engrenagem, que realiza determinadas funções. Quando todas estão em pleno funcionamento, o resultado aparece.

No início da Série C, foi detectado, após a derrota para o Ypiranga-RS, que a equipe não produzia jogando em Juiz de Fora. O próprio comandante confirmou o problema. Mas, ao invés de usá-lo como desculpa em qualquer adversidade, resolveu trabalhar. Com o tempo, isso se modificou. No Mário Helênio, o Tupi toca a bola, procura jogadas pelo meio, busca triangulações, passes rápidos e tem o cruzamento (apensar de algumas deficiências dos laterais na função), como válvula de escape.

Longe de Minas, busca recuar a equipe, mantendo as linhas defensivas bem fechadas, explorando o contra-ataque. Em alguns jogos, modifica o sistema, jogando com três zagueiros, dando liberdade para os laterais atuarem como alas, aproveitando justamente a velocidade.

O único problema do time é a conclusão. Os atacantes não têm conseguido dar conta do recado em termos de gols. Ítalo é o único da posição que marcou: três vezes. Apesar da contribuição defensiva de Romarinho e Marcinho, quando entram, a dupla precisa mostrar mais poder de fogo. Com a competição afunilando, aproveitar o máximo de oportunidades criadas é essencial. Tanto que, em todos os jogos que empatou, com gols, fora de casa (Tombense, Joinville e Ypiranga), abriu o placar. Todavia, não soube botar no fundo do barbante as chances criadas, quando o adversário abria espaços em campo.

Por fim, os elogios também precisam vir do extracampo. Em um futebol cada vez mais polido, em que todas as falas passam pelo crivo da assessoria de imprensa, é bacana ver como Ailton se posiciona após cada partida. Os dois últimos jogos do “Fantasma do Mineirão” não foram bons. Perdeu para o São Bento por 2 a 0, em Sorocaba-SP, e venceu o Macaé, em casa, por 1 a 0, não jogando bem. Na coletiva, falou abertamente que o time precisa de uma mudança de atitude.

Em alguns clubes que estão nas primeiras divisões, não vemos esta transparência. Tudo é escondido atrás do velho discurso clichê de “vamos trabalhar”, “está tudo bem”, “foi só um jogo ruim”. Ailton mostra que num clube com vários problemas de estrutura, é possível fazer um belo trabalho aliando conhecimento, vontade, transparência e união.

Outros destaques

Fiz, recentemente, meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), abordando dois momentos ímpares do esporte de Juiz de Fora. Analisei a campanha do Sport, no Campeonato do Centenário (conquistado pelos periquitos), em 1950, e do Tupi, o “Fantasma do Mineirão”, em 1966. Em ambos os casos, consegui fazer descobertas incríveis. Sobre o Carijó, tema desta coluna, relembrei histórias esquecidas nas páginas do jornal Diário Mercantil, conversei com uma pessoa que trabalhou nos lendários jogos em Belo Horizonte, e consegui chegar ao paradeiro daquele que pode ser o “pai” da expressão. Quem tiver interesse em ler, basta mandar uma mensagem para o e-mail: matheustbrum@gmail.com ou mensagem pelo Twitter, através do meu perfil: @matheustbrum

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