BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - "Do lado do Lula, do lado do povo." "A união entre o presidente Jair Bolsonaro e o senador Carlos Viana pode transformar o futuro de Minas." As frases representam parte da estratégia adotada pelos principais adversários de Romeu Zema (Novo) na disputa pelo Governo de Minas Gerais.

Com o governador, que busca a reeleição, com larga vantagem nas pesquisas de intenção de voto, as campanhas de Alexandre Kalil (PSD) e Carlos Viana (PL) apostam no apoio de Lula e Bolsonaro como estratégia para levar a disputa ao segundo turno.

Ao mesmo tempo, também buscam intensificar viagens ao interior.

O plano tem sido seguido à risca sobretudo por Kalil, ex-prefeito de Belo Horizonte e que aparece como segundo colocado nas pesquisas.

Desde que a aliança com Lula foi selada, Kalil tem buscado colar sua imagem na do ex-presidente, seja em entrevistas, debates, hashtags nas redes sociais (#LulaeKalil) e slogans ("Do lado do Lula, do lado do povo").

Atualmente, pesquisas apontam Zema com chances de vitória ainda no 1º turno --levantamento feito pela Quaest e divulgado na última sexta (12), por exemplo, mostra o governador com 46% das intenções de voto, ante 24% de Kalil. Viana, hoje senador pelo estado, aparece em terceiro, com 6%.

A mesma pesquisa, no entanto, mostra que, quando tem seu nome vinculado a Lula, Kalil chega a 33%, contra 23% de Zema, associado ao candidato ao Planalto pelo Novo, Felipe D'Ávila. Já Viana, se associado a Bolsonaro, chegaria a 19% das intenções de voto.

Ex-secretário-geral de governo e vice na chapa de Zema, Mateus Simões (Novo) reconhece que pode haver transferência de votos devido ao apoio dos presidenciáveis a outros candidatos. Mas nega preocupação.

"A decisão do governador é se manter fora da polarização nacional", afirma ele, com a justificativa de que Zema apoia o candidato do próprio partido à Presidência.

Não foi sempre assim. Em 2018, Zema chamou a atenção em um debate por pedir votos a Bolsonaro em um momento em que o Novo tinha em João Amoêdo o representante na corrida ao Palácio do Planalto.

A postura atual evidencia uma tentativa do governador, cujos primeiros anos de mandato vinham mostrando forte alinhamento ao presidente, de se descolar da imagem de Bolsonaro.

Inicialmente, a ideia do PL, partido do presidente, era que ele dividisse o palanque com Zema no estado, tido como reduto estratégico por ser o segundo maior colégio eleitoral do país.

O governador, porém, resistiu à medida, temendo, segundo aliados, que o alto índice de rejeição a Bolsonaro afetasse sua campanha. Em julho, pesquisa Datafolha apontou que 55% dos mineiros não votariam em Bolsonaro, contra 36% de Lula.

Sem conseguir levar o plano adiante, o PL decidiu então lançar a candidatura de Viana em Minas como forma de assegurar um palanque a Bolsonaro no estado.

A amplitude do apoio do presidente a Viana, porém, ainda gera dúvidas. Embora tenham estado juntos no primeiro ato de campanha do presidente em Juiz de Fora, o senador não teve espaço para fala em comício com o presidente, tendo sua participação restrita a momentos anteriores.

Questionado, ele minimiza o ocorrido. "O presidente me abraçou, me levou ao lado dele e me citou como candidato ao Governo de Minas. No comício da rua, estava prevista só a fala do presidente e primeira-dama. Cumprimos o que estava previsto na programação", disse à Folha.

Esse não foi o único impasse. Segundo integrantes da campanha, ao firmar a aliança com o senador, Bolsonaro também pediu que ele preservasse críticas a Zema, de olho na possibilidade de dividir palanque com o governador em um eventual segundo turno no estado.

De forma geral, a avaliação das campanhas é que a entrada de Viana na disputa tem potencial de retirar votos de Zema no campo bolsonarista e conservador. Pesam também para esse cenário o fato de ele ser evangélico e ter desenvoltura vista como boa em debates.

Na prática, a situação tenderia a favorecer um eventual segundo turno entre Zema e Kalil, hoje segundo colocado.

Para Felipe Nunes, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e diretor da Quaest, o alto número de eleitores de Lula e Bolsonaro que dizem desconhecer quais os candidatos apoiados por eles indica que o cenário pode ser alterado com o início da campanha eleitoral.

"Metade dos votos do Zema hoje é também do Lula, enquanto a outra metade é do Bolsonaro. Não seria de se estranhar se Zema perdesse um percentual considerável de suas intenções de voto para Kalil e Viana", afirma.

Segundo ele, uma possível mudança tende a ficar mais nítida após o início do horário eleitoral na TV em 26 de agosto, quando os candidatos poderiam explorar imagens com seus aliados.

Atualmente, Lula lidera a corrida presidencial entre os eleitores de Minas, com 42% das intenções de voto, de acordo com pesquisa Ipec divulgada na terça (16). Bolsonaro aparece com 29%.

"Hoje as pesquisas mostram que a maior parte dos eleitores mineiros prefere um candidato que seja ligado a Lula, embora estejam votando no Zema. E isso pode ser explicado pelo fato de que muita gente ainda não sabe quem é o candidato apoiado por Lula no estado", diz o diretor da Quaest.

Simões, vice na chapa de Zema e um dos responsáveis pela campanha, diz ver outra justificativa. "Tanto Lula quanto Bolsonaro têm alguns milhões de votos embaixo do nosso eleitorado. O que isso indica é um reconhecimento do trabalho do governador."

Para o deputado federal Rogerio Correia (PT-MG), que acompanha a campanha de Kalil, Zema e Bolsonaro são "almas gêmeas".

"O que Zema tenta fazer é fugir da rejeição de Bolsonaro em Minas. Mas ele tem um dilema: se foge demais, o voto vai para o Viana. Se não foge, o desgaste do Bolsonaro prega nele. Com isso, a meu ver, ele dificilmente leva a eleição no primeiro turno."

Já Kalil poderia ganhar fôlego em eventos ao lado de Lula, avalia. Nesta quinta (18), ambos devem dividir o palanque em Belo Horizonte. Pelo Twitter, o ex-presidente fez um aceno a Kalil, a quem definiu como alguém que parece "brabo, mas cheio de garra".

Além dos apoios, integrantes das campanhas apostam em agendas no interior como forma de conquistar eleitores.

A medida é vista como um dos principais desafios do ex-prefeito de Belo Horizonte. Favorito nas pesquisas na capital, Kalil é desconhecido no interior -onde Zema tem larga vantagem e apoio de prefeitos.

Com a dianteira, o governador tem sido o principal alvo dos demais candidatos em entrevistas, o que também ocorreu no primeiro debate no estado, do qual Zema não participou.

Um dos temas que aparecem nesse contexto é a possibilidade de mineração na Serra do Curral, cartão-postal de Belo Horizonte. A medida, autorizada por Zema e hoje alvo de debates na Justiça, é criticada pelos demais candidatos.

Em entrevistas, Kalil tem repetido que o governador deixou o estado "abandonado". Em contrapartida, Zema tem frisado recentemente críticas à gestão do ex-governador do PT, Fernando Pimentel, em uma tentativa de atingir a aliança de Kalil, do PSD, com o partido na disputa.

Além dos três principais colocados, a corrida eleitoral em Minas conta com um candidato do PSDB, Marcus Pestana, que já declarou apoio a Ciro Gomes (PDT) na disputa nacional.

Pestana tem o atual vice-governador, Paulo Brant (que deixou o Novo em 2020), como candidato a vice em sua chapa. O tucano aparece com 2% das intenções de voto na pesquisa Ipec.

A disputa também conta com Cabo Tristão (PMB), Lorene Figueiredo (PSOL), Lourdes Francisco (PCO), Renata Regina (PCB), Vanessa Portugal (PSTU) e Indira Xavier (UP) --no levantamento do Ipec, todos têm igual ou menos de 1% cada.

Reprodução redes sociais - Zema, Kalil e Carlos Viana candidatos à Governador de Minas

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