RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Novos depoimentos de amigos do belga Henri Maximilien Biot, 52, morto na sexta-feira (5), indicam que o relacionamento dele com o cônsul alemão Uwe Herbert Hahn, 60, principal suspeito do crime, era abusivo. A informação é da delegada Camila Lourenço, titular da 14ª DP no Leblon, no Rio de Janeiro.

"Esses depoimentos foram reveladores e só corroboraram a tese que a Polícia Civil já havia levantado de que havia um contexto de violência doméstica, opressão, (de) relacionamento abusivo", disse a delegada nesta terça-feira (9).

Hahn está preso desde o último sábado (6). A reportagem procurou Leonardo Monteiro Villarinho, advogado do cônsul alemão, mas ele não atendeu às ligações.

Ela classifica o que o cônsul fazia com o belga como violência doméstica e psicológica. "Temos um agravante de um cidadão estrangeiro que não trabalhava, dependia do seu marido, estava longe de seus familiares e amigos".

Para a conclusão do inquérito, ainda faltam alguns depoimentos e resultado do exame toxicológico da vítima, cujo sangue é analisado por um laboratório da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Nesta segunda (8), a delegada afirmou não haver dúvidas em relação à existência de crime intencional contra a vítima.

Ela detalhou que as marcas no corpo do belga evidenciavam crime doloso, sustentando assim que o marido da vítima seja o principal suspeito do homicídio.

"Dizem que cadáver não fala, mas ele fala sim. Através das múltiplas lesões espalhadas pelo corpo a gente consegue ter uma noção de como ocorreu aquele evento."

Suspeito de assassinar o próprio esposo, com quem nutria uma relação de 23 anos, numa cobertura em Ipanema, na zona sul do Rio, o cônsul alemão encontra-se preso preventivamente desde sábado (6).

A morte, decretada às 22h35, teria acontecido, segundo depoimento do suspeito, após seu esposo, o belga, passar mal subitamente e cair frontalmente no chão, na divisa da sala com a varanda, batendo a cabeça.

Profissionais que atuaram na hora da ocorrência relataram à reportagem, sob condição de anonimato, que o cônsul parecia nervoso como alguém que acaba de perder um ente querido, não tendo levantado suspeita em seu comportamento inicial.

O corpo de bombeiros afirma ter sido acionado por volta das 19h07, mas que, quando chegou ao local do ocorrido, o SAMU já se encontrava lá. O policial do 23° BPM explicou, em depoimento, que quando chegaram para lidar com o caso, na hora tido apenas como mal súbito, os bombeiros já haviam constatado o óbito.

O corpo da vítima estava repleto de hematomas e escoriações em áreas distintas, que a princípio não coincidiam tão somente com a queda.

Além disso, segundo consta no depoimento da secretária do cônsul, na noite de sábado, ela teria limpado o chão por ele a fim de impedir que o cachorro se mantivesse lambendo a poça de sangue. Procurada pela reportagem, a secretária preferiu não se pronunciar.

O juiz Rafael de Almeida Rezende converteu para prisão preventiva neste domingo (7) sob a justificativa de que sua liberdade "poderia acarretar sérios gravames à colheita das provas", citando que a casa foi limpa antes da chegada da perícia.

No inquérito policial, a defesa de Hahn argumentou que a imunidade diplomática do cônsul tornaria arbitrária e ilegal a prisão dele.

Contudo, também no relatório policial, consta que "sob o ponto de vista de imunidades consulares, a Convenção de Viena sobre Relações Consulares (Decreto 61.078, de 25 de julho de 1967), citada no verso da Carteira de Registro Diplomático do senhor Uwe Herbert Hahn, prevê, como regra geral, que funcionários consulares não poderão ser detidos nem presos preventivamente, porém abre exceção para 'caso de crime grave e em decorrência de autoridade judiciária competente'".


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