BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A pedido do Palácio do Planalto, ruralistas que apoiam o presidente Jair Bolsonaro (PL) devem enviar 28 tratores para participar do desfile cívico-militar de 7 de Setembro na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

A duas semanas das comemorações do feriado da Independência, a organização do desfile está praticamente fechada. Serão mais de 5.700 pessoas desfilando a pé, em viaturas ou a cavalo.

São integrantes das três Forças, além de policiais federais, rodoviários federais, bombeiros, veteranos e estudantes de escolas públicas do Distrito Federal, entre outros.

Os tratores devem ser incluídos na exibição oficial. Segundo aliados do Planalto, a ideia é que eles representem a pujança do agronegócio para a economia brasileira.

O segmento é muito próximo a Bolsonaro, que está em campanha pela reeleição. Ele já convocou apoiadores para irem "às ruas pela última vez" no feriado do Bicentenário da Independência.

Tradicionalmente, não há discurso de autoridades no desfile de 7 de Setembro. Mas, como há previsão de manifestações em apoio a Bolsonaro na sequência, a expectativa entre aliados é que o presidente fale em um carro de som antes de viajar ao Rio de Janeiro.

Na capital fluminense, ele deve participar de manifestação favorável ao governo em Copacabana, onde as Forças Armadas devem realizar demonstrações da Marinha e da Força Aérea. Também está programada uma apresentação da banda marcial.

Além de disponibilizar os tratores para o desfile da Independência em Brasília, os ruralistas devem levar para a Esplanada o carro de som em que o chefe do Executivo possa discursar.

O carro de som deve ficar estacionado perto do Ministério da Saúde, do lado oposto ao evento cívico-militar no Eixo Monumental. O equipamento só deve se deslocar para o ato, que deve ocorrer em frente ao Congresso Nacional, depois do fim do desfile militar, por volta de 11h30.

Segundo integrantes do governo, o apoio do agronegócio ocorre por meio do Movimento Brasil Verde e Amarelo ?grupo bolsonarista do segmento, que participou nos atos do 7 de Setembro do ano passado, quando manifestantes atacaram instituições, entre elas o STF (Supremo Tribunal Federal).

Aliados de Bolsonaro estão receosos com o tom que as manifestações podem tomar neste ano. Em 2021, a data foi marcada por ataques de Bolsonaro contra o Judiciário e por falas golpistas do mandatário e apoiadores, o que acirrou a crise entre o Executivo e o Judiciário.

Para este ano, inicialmente a ideia era que Bolsonaro desse um tom mais protocolar para o desfile em Brasília e deixasse declarações políticas para o evento no Rio de Janeiro.

Assessores do presidente, no entanto, dizem que ele é imprevisível e não descartam uma fala mais radical já na manifestação na capital federal, após o desfile.

O entorno do chefe do Executivo, principalmente integrantes da campanha, tentam convencê-lo a cessar com ataques mais diretos ao Judiciário, especialmente ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Há uma avaliação de que, se os atos forem de teor golpista, isso pode consolidar rejeição a Bolsonaro a menos de um mês da eleição ?além de que já foi constatado por estrategistas da campanha que deslegitimar o processo eleitoral não traz votos.

Os 28 tratores previstos para o desfile oficial já são uma novidade deste ano, mas a ideia inicial era de que fossem muito mais. O Planalto queria levar 300 veículos desse tipo para a Esplanada, mas a organização argumentou que era preciso reduzir o número.

A justificativa para o número de tratores é que o maquinário do campo deve representar os estados da federação ?o 28º foi escalado para guiar os demais no desfile.

Neste ano, outras entidades também pediram para participar do ato oficial, mas receberam negativas da organização. O entendimento é que a cerimônia, que já vai durar cerca de duas horas, se estenderia pelo domingo caso todos que quisessem desfilar fossem incluídos.

A Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência) foi procurada pela reportagem, mas não se manifestou.

Nos últimos dias, representantes do Movimento Brasil Verde e Amarelo participaram de reuniões com Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, Comando Militar do Planalto, Presidência da República e outros órgãos públicos que tradicionalmente enviam representantes para o desfile.

Os tratores devem ser transportados até a capital federal por caminhões, que não poderão ficar na Esplanada dos Ministérios durante o 7 de Setembro.

O STF definiu como prioridade para a segurança no Bicentenário da Independência impedir que caminhões entrem na Esplanada, como fizeram nos atos de teor golpista do ano passado.

Na ocasião, os veículos foram usados para pressionar pela derrubada dos bloqueios que davam acesso ao Supremo e ao Congresso Nacional.

A segurança do Supremo vê os atos do 7 de Setembro deste ano como de risco elevado à corte, com a expectativa de que manifestantes de diversos locais do país ?muitos hostis ao tribunal? se encontrem na capital.

Fundado em 2017, em meio ao embate sobre dívidas de produtores com o Funrural (Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural), o Movimento Brasil Verde e Amarelo ganhou notoriedade no governo de Bolsonaro por ter em suas filas membros que defendem atos antidemocráticos.

Um dos principais integrantes do grupo é Antônio Galvan (PTB), ex-presidente da Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja). Ele se licenciou do cargo para entrar de vez na sua campanha ao Senado por Mato Grosso.

Galvan foi alvo no ano passado do inquérito instaurado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, por suposta incitação à prática de atos violentos e ameaçadores contra a democracia. À época, a Aprosoja afirmou não ter laços com as manifestações de 7 de Setembro de 2021.

O ruralista é próximo do general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, e do secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, Luiz Antonio Nabhan Garcia.

Nas redes sociais, o movimento compartilha vídeos de Galvan convocando manifestantes para o 7 de Setembro, com trechos do discurso de Bolsonaro durante a convenção do PL.

"Convoco todos vocês agora para que todo mundo, no dia 7 de Setembro, vá às ruas pela última vez", disse Bolsonaro na ocasião, em fala reproduzida nas redes do Brasil Verde e Amarelo.

Com apoio de ruralistas e empresários, o grupo pretende ainda oferecer transporte e apoio a manifestantes em Brasília.

Integrantes do Movimento Brasil Verde e Amarelo se lançaram candidatos a deputados federais nas eleições deste ano. É o caso, por exemplo, de Armando Mattiello (PTB-MG), Chico da Capial (PTB-AL) e Jeferson Rocha (PTB-SC).

Na corrida ao Senado, Galvan não integra a chapa com Bolsonaro em Mato Grosso. O presidente apoia a reeleição de Wellington Fagundes (PL-MT).

"Os candidatos podem ir e participar das manifestações, mas devem ficar fora da organização e do carro de som para evitar virar um ato de campanha", disse Rocha, um dos fundadores do movimento.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, o plano de segurança para a data ainda está em elaboração.

Em nota, a pasta informou que "a área destinada ao desfile será bloqueada pelas instalações de arquibancadas e tapumes, garantindo o isolamento e o controle de acesso ao evento, sem interferências de manifestações, que possam ocorrer na área externa".


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