BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, Nabhan Garcia, expressou desconfiança nos juízes encarregados de garantir a lisura do processo eleitoral ao pedir doações para a campanha de Jair Bolsonaro (PL) à reeleição, em mensagem de áudio enviada a produtores rurais no sábado (27).
No apelo, o pecuarista diz que não confia nos ministros do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral e cobra o apoio dos produtores para assegurar uma vitória de Bolsonaro nas eleições de outubro, que seria a única forma de garantir o patrimônio dos ruralistas e sua liberdade.
"Eu confio na instituição, mas não nas pessoas que estão lá", diz Nabhan, que é presidente licenciado da UDR (União Democrática Ruralista) e está no ministério desde o início do governo. "Eu não sou obrigado. Vivo em um país livre ainda, graças ao Bolsonaro, mas eu não sou obrigado a confiar na urna eletrônica."
Segundo Nabhan, alguns apoiadores do presidente acreditam que ele será eleito no primeiro turno e, por isso, não precisa de ajuda. "É por isso que eu fico mendigando mesmo", diz no áudio. "Muita gente que pode e não ajuda se finge de surdo, de cego e de mudo para não ajudar e depois ainda dizer: 'Ajudei'."
Nesta segunda (29), Nabhan disse à coluna Painel, da Folha de S.Paulo, que nesse trecho da mensagem respondia a um interlocutor que teria considerado a eleição de Bolsonaro garantida. "Confio nas instituições. Respeito as instituições. Em um país todo democrático, tem que existir esses Três Poderes, esse é o ponto crucial", afirmou. "Agora, não sou obrigado a confiar em membros daquela corte como também não sou obrigado a confiar na urna."
No áudio, o pecuarista menciona a participação das Forças Armadas na fiscalização do processo eleitoral e sugere que ela se deu por decisão de Bolsonaro. Na verdade, as Forças Armadas foram convidadas pelo TSE a participar do monitoramento, junto com a Polícia Federal e organizações da sociedade civil.
"Se não trabalhar para valer e se não tiver em cima e fazendo o que o presidente Bolsonaro fez, pondo até as Forças Armadas para ficar ali olhando, vocês vão ver onde vai parar a liberdade de vocês e onde vai parar as tralhas de vocês: fazenda, boi, soja, trator, casa, o catso", diz Nabhan na mensagem de áudio.
O secretário afirmou à coluna Painel que a menção às Forças Armadas tinha como finalidade argumentar que ela garante a lisura do processo. As Forças Armadas fizeram diversos questionamentos técnicos ao TSE nos últimos meses, mas não apontaram nenhuma fragilidade no sistema eletrônico de votação.
"Eu nunca pedi um centavo para mim, pelo contrário", diz Nabhan no áudio, que afirma ter enviado a grupos de aplicativos de mensagens com centenas de participantes. "Eu sempre me ferrei porque eu abandonei tudo, as minhas tralhas, para cuidar do direito de propriedade, para cuidar da nossa liberdade."
Nabhan disse ao Painel não ver conflito entre a iniciativa e sua atuação no Ministério da Agricultura porque mandou a mensagem num sábado, fora do horário de serviço, e não usou prerrogativas do seu cargo. Na pasta, ele é responsável por assuntos relativos a assentamentos e regularização fundiária.
O secretário disse ainda não ver problema em pedir recursos para a campanha de Bolsonaro porque não o faz em eventos oficiais, apenas em âmbito privado ou quando procurado por integrantes do agronegócio.
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