SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em entrevista para a revista Harper's Bazar, em março deste ano, Serena Williams, 40, foi perguntada sobre o legado que deixaria para o tênis.
Recusou-se a responder.
"Deixe-me viver", disse. "Isso não é algo que eu pense ou queira. Não quero imaginar o que estou deixando para trás."
Ela terá de começar a pensar nisso. Nesta terça-feira (9), em texto publicado no site da revista Vogue, confirmou que vai se aposentar, embora tenha deixado claro que não acredita se encaixar nesta palavra. Vê a si mesma "em evolução".
Isso significa, segundo a própria, ter chegado a hora de priorizar a família, quem sabe ter outros filhos ou filhas (ela é mãe de Olympia, 4) e focar em novos projetos.
"Nunca quis escolher entre tênis e família. Não acho que seja justo. Se eu fosse um rapaz, não teria de escrever isso porque estaria lá fora, jogando e ganhando enquanto minha mulher estaria fazendo o trabalho físico de aumentar nossa família. Talvez eu seria mais como Tom Brady se tivesse a oportunidade", escreveu, citando o quarterback da NFL, que continua na ativa aos 45 anos.
Embora tenha falado sobre o desejo de se retirar do esporte, não colocou uma data específica. O final de conto de fadas seria no US Open, que começa no fim deste mês. É o torneio que, quando criança, sempre imaginou vencer ?e o fez seis vezes, a última, em 2014. Foi também seu primeiro título de Grand Slam, em 1999, pouco antes de completar 18 anos.
Serena se aposentará como uma das maiores tenistas da história e uma das atletas mais dominantes de todos os tempos. Segunda no ranking de títulos de Grand Slam (23, um a menos que Margaret Court) e quinta com mais conquistas no circuito da WTA (73), é a terceira na lista das que ficaram mais tempo na primeira colocação do ranking (319 semanas).
Só em premiações, faturou US$ 94,6 milhões (R$ 485,22 milhões pela cotação atual). Mas isso conta parte da história. A Forbes estima que neste ano a esportista recebeu cerca de US$ 30 milhões (R$ 153,9 milhões), mas apenas US$ 300 mil (R$ 1,5 milhão) foram obtidos pelos seus resultados em quadra.
Ela e sua irmã, Venus, dominaram o tênis feminino por quase um ano. A partir de Roland Garros de 2002 até o Aberto da Austrália de 2003, em quatro torneios consecutivos de Grand Slam, as duas fizeram a final. Serena ganhou todas.
Seu estilo de jogo chamou a atenção pela potência do saque (capaz de ultrapassar 200 km/h) e o golpe de direita avassalador. Ela mesmo reconhece que sua confiança e a capacidade de aprender com os próprios erros (e dos outros) foram determinantes.
"Nas viagens com Venus para torneios, observava suas partidas e, quando ela perdia, sabia porque havia perdido. Dizia a mim mesmo que não cometeria os mesmos erros", explicou.
Em entrevista à AFP, seu treinador Patrick Mouratoglou opinou que a atleta "mudou o tênis", "abriu portas" e "inventou a intimidação".
Após o lançamento do filme "King Richard", em 2021, que fala sobre as irmãs Serena e Venus e o pai delas, Richard, Venus brincou que o futuro das duas após as carreiras como tenista seria como fisiculturistas. Mas Serena tem outras ideias.
Uma delas é entrar na briga pela questão da igualdade de gênero e por maiores oportunidades para mulheres, não apenas no esporte.
Ela se lembra de conferência que assistiu no banco JPMorgan Chase. Foi apresentado dado que apenas 2% dos investimentos em novas empresas eram destinados a mulheres. Serena achou ter entendido errado e depois foi confirmar a informação. Ela havia escutado direito.
"Eu entendi naquele momento que alguém como eu deveria começar a assinar esses grandes cheques. Homens estão escrevendo esses grandes cheques uns para os outros e, para mudar isso, mais pessoas como eu precisam estar naquela posição", explica. Ela criou a Serena Ventures, uma empresa de capital para ajudar a promover diversidade de gênero. Arrecadou US$ 111 milhões (R$ 569 milhões).
A questão do sexismo está presente em sua carreira há tempos. O episódio mais controverso aconteceu na final do US Open de 2018. Ela acusou o juiz de cadeira Carlos Ramos de sexismo e de ser um "ladrão" por aplicar-lhe uma punição.
Para o árbitro, Serena recebia instruções do seu técnico durante a partida, o que é ilegal.
"Estou aqui lutando pelos direitos das mulheres e pela igualdade entre as mulheres e todas essas coisas. Para mim, dizer 'ladrão' para ele e receber como punição a perda de um game me pareceu como algo sexista. Ele nunca faria isso com um homem", acusou.
O filme foi apenas um dos aspectos que expuseram Serena como uma figura que transcende o esporte. Como ícone fashion, ela criou em 2018 sua linha de roupas, a S by Serena, e, no ano seguinte, uma marca de joias.
"Estou acostumada a superar situações difíceis, a ter desafios. Isso aconteceu sempre na minha vida e na minha carreira. Faz parte de quem eu sou", afirmou, em entrevista em 2016.
Em 2003, sua meia-irmã Yetunde foi assassinada a tiros em Los Angeles. Sete anos depois, Serena sofreu cortes nos pés após pisar em cacos de vidros. Em março de 2011, uma embolia pulmonar quase a matou.
Nos últimos anos, a carreira avassaladora deu lugar a resultados menos marcantes. Serena entrou neste mês no Aberto do Canadá apenas por ter recebido um ranking especial. Sua vitória sobre a espanhola Nuria Párrizas Díaz, na segunda (8), foi a primeira em torneios de simples após 14 meses.
No circuito da WTA, seu último título foi o Alberto da Austrália de 2017.
"É um momento sempre difícil quando você ama tanto alguma coisa. E, meu Deus, eu gosto do tênis", resumiu em postagem no Instagram.
Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!