PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) - Pela primeira vez em 40 anos, o eleitorado gaúcho não terá o número 15 entre suas opções de voto.

A decisão do MDB em declinar da candidatura de Gabriel Souza e indicá-lo a vice de Eduardo Leite (PSDB) quebra a tradição de candidaturas próprias ao Governo do Rio Grande do Sul e faz com que o partido inicie a campanha ainda com cacos a recolher.

A consciência de que existem arestas a aparar se reflete na agenda de Leite e Souza. O governador e seu recém-indicado vice vêm concedendo entrevistas conjuntas para afinar o discurso já no início da campanha.

Um deles, já sinalizado por Leite no debate de domingo na Band, é modular o discurso sobre seu antecessor, José Ivo Sartori (MDB), justamente o candidato superado por Leite em 2018, quando concorria à reeleição.

Os emedebistas reclamam, por exemplo, de um vídeo divulgado na convenção do PSDB dizendo que Leite colocou as contas do Rio Grande do Sul em dia. Encaram como referência a Sartori, que lidou por 36 meses com parcelamento de salários e atrasou repasses a prefeituras.

Por outro lado, foi o governador que obteve a liminar junto ao STF (Supremo Tribunal Federal) para deixar de pagar a dívida com o governo federal enquanto negociava adesão ao regime de recuperação fiscal, garantindo o caixa do governo tucano.

Leite deverá manter o discurso de que o estado tem "um projeto de desenvolvimento em curso", mas deve enfatizar que as reformas começaram no governo anterior.

Líder do governo Sartori e presidente da Assembleia no governo Leite, Souza faz coro.

"Talvez tenha alguém que conheça o governo Sartori tanto quanto eu, mas não mais do que eu. Ele e Leite tinham governos programaticamente muito semelhantes. Um continuou o trabalho do outro e o desafio é agora continuarmos trabalhando em conjunto", diz Souza.

Delegados do MDB favoráveis à candidatura própria saíram da convenção do dia 31 surpresos e lamentando não ter havido um último esforço, dado que o resultado foi bem mais parelho do que o imaginado.

Foram 239 votos pela indicação do vice, contra 212 pela candidatura de Souza. Esperava-se cerca de 70% dos votos favoráveis à aliança com Leite.

Conforme um parlamentar emedebista gaúcho, uma virada da candidatura própria surpreenderia o candidato. Embora Souza tenha votado, evidentemente, pela própria candidatura, ele almejava ser superado.

O combinado, ainda conforme o parlamentar, seria ele receber o apoio do Leite caso o tucano não concorresse à reeleição e fazer o inverso caso concorresse, contando com apoio do tucano no futuro.

Pesou na adesão do MDB as dificuldades de fazer frente às demais candidaturas sem alianças.

Embora Sartori tivesse iniciado a campanha de 2014 com um percentual tímido de intenções de votos em pesquisas, o MDB contava com uma aliança de oito partidos.

Em 2018, quando concorreu à reeleição, eram nove. Além disso, Leite assegurou o apoio da maior parte dos deputados e prefeitos do MDB, que se mantiveram próximos ao Piratini mesmo após a renúncia do tucano em março passado.

"Votei pela candidatura própria porque acreditava que valia a pena tentar construí-la. Mas não há demérito em concorrer a vice-governador. Pode se revelar o melhor caminho para voltar a administrar o estado. Ocorreu na Prefeitura de Porto Alegre, por exemplo, em que o atual prefeito Sebastião Melo primeiro teve a experiência de ser vice-prefeito [de José Fortunati (PDT), entre 2013 e 2016]", declara José Fogaça (MDB), ex-senador e candidato ao governo do RS pelo MDB em duas eleições (1990 e 2010).

Souza e o MDB miram o longo prazo, em 2026, quando Leite, caso eleito, não poderá concorrer à reeleição. E 2026 também pesou no racha que antecedeu sua indicação.

Havia emedebistas que desejavam que Souza concorresse em 2022 sem chances de vitória, livrando caminho para outros nomes na eleição seguinte, como o do atual prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo.

O prefeito não quis se pronunciar nesta reportagem.

O MDB indicava candidatos desde 1982. Das 10 eleições desde então, venceu 4 vezes, com Pedro Simon (1986), Antônio Britto (1994), Germano Rigotto (2002) e José Ivo Sartori (2014).

Com o MDB, Leite consolida uma coligação com PSDB, PSD, Cidadania e União Brasil, a mais robusta em tempo de TV e recursos do fundo partidário.

Seus principais adversários são Onyx Lorenzoni (PL, Republicanos, PROS e Patriota), Edegar Pretto (PT, PSOL, PC do B, PV e Rede) e Luis Carlos Heinze (PP e PTB).


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