SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O comunicador e humorista André Marinho, filho do empresário e político Paulo Marinho, um dos principais articuladores da campanha de Jair Bolsonaro (PL) ao Planalto em 2018, conta em detalhes -sem deixar o humor de lado- os bastidores no livro "O Brasil (Não) É uma Piada" (editora Intrínseca), lançado nesta terça-feira (20), em São Paulo.

O comunicador presenciou de perto desde o relacionamento entre os membros do clã Bolsonaro até os desdobramentos do atentado contra o então candidato do PSL em Juiz de Fora (MG) e a reação deles com a vitória nas eleições. A casa da família Marinho no Rio de Janeiro foi transformada em uma espécie de quartel-general da campanha de Bolsonaro.

"Nós nunca fizemos parte do núcleo íntimo deles [dos Bolsonaro], mesmo estando dentro de casa, só íamos onde nós éramos chamados. Nunca houve deslumbramento da nossa parte com aquilo tudo", afirma Marinho sobre a família, que rompeu com Bolsonaro depois de ele ser eleito.

André Marinho diz que teve o privilégio de ser testemunha ocular de vários episódios "surreais e alucinantes" nos bastidores da campanha. Uma dessas passagens que estão no livro ele revelou, com exclusividade à coluna de Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, que foi a primeira-dama Michelle Bolsonaro pedir para ele imitar o marido que tinha acabado de ser esfaqueado.

Neste mesmo dia, Michelle revelou para Marinho e para o pai dele que a levaram de carro a Juiz de Fora, como conheceu Bolsonaro e sobre o início do relacionamento. Michelle contou que certo dia estava saindo do banheiro e que o presidente disse que ela seria sua esposa. "Michelle lembrou com bastante clareza que eles se beijaram pela primeira vez em um carro. Ela disse que o beijo foi péssimo porque Bolsonaro não sabia beijar e ela teve que ensinar."

Quando Bolsonaro já tinha sido transferido para um hospital em São Paulo, Michele comentou com o pai de Marinho que o marido estava sentindo muito frio durante a internação. "Meu pai, que de mesquinho não tem nada, foi ao Shopping Iguatemi, em São Paulo, e comprou três blazeres da Ralph Lauren. Ele entregou para Michelle."

O comunicador conta que em uma visita a Bolsonaro, Michelle disse que os casacos ficaram pequenos e o empresário fez a troca na loja de grife e entregou pessoalmente alguns dias depois ao então candidato. Marinho recorda que ele estava ainda muito debilitado e usando um casaco da Adidas.

Segundo Marinho, seu pai precisou ajudar a colocar um pesado colete à prova de balas no então candidato, que se tornou ainda mais imprescindível depois da facada. "Ele começou a seguir meu pai com os olhos, esboçou aquele sorriso típico de quem está prestes a fazer uma piada e falou: 'Para o cara me dar três casacos de grifes é porque deve estar querendo me comer'", conta Marinho.

Em outro trecho do livro, o escritor revela o desdém de Bolsonaro com um folheto da campanha do filho Flávio ao Senado, que tinha uma lista de propostas. "Ele pegou o flyer se virou para mim e falou: 'Garoto, tu acha que alguém leu essa merda? Porra nenhuma, isso e nada é a mesma coisa, pode jogar fora", disse Bolsonaro.

Outro episódio que chamou a atenção de Marinho foi a reação dos filhos à vitória de Bolsonaro. No livro, ele relata que durante a festa encontrou Renan Bolsonaro sozinho perdido em seus pensamentos e se aproximou para puxar conversa. "Perguntei a ele como se sentia. Ele me respondeu: 'Só estou pensando no tanto de mulher que eu vou pegar a partir de agora'", conta Marinho.

Em seu livro de estreia, Marinho compartilha ainda detalhes da sua formação acadêmica -ele estudou ciência política em Nova York- fala do processo de criação e imitação de políticos famosos. Em um jantar, ele fez o ex-presidente Michel Temer ir às gargalhadas com uma imitação satirizando Bolsonaro conversando com o então presidente dos Estados Unidos Donald Trump.

Na época, o vídeo vazou, ele foi criticado nas redes sociais por haters e chamado de bobo da corte. Marinho garante que não deu bola para as críticas porque foi convidado pelo anfitrião do jantar, que adora as suas imitações. Ele falou que as reuniões com políticos sempre fizeram parte da sua vida porque o pai fazia em casa.

"A verdade é que o bobo da corte era o único artista do reino que tinha permissão para fazer o rei rir, mas com um detalhe que era rindo dele mesmo. O bobo nunca foi bobo, ao contrário, ele dizia as verdades a quem se acostumou a ouvir mentiras."

Após o vazamento do vídeo de imitações, Marinho foi contratado para ser comentarista de política no programa Pânico, da Jovem Pan, onde ficou até novembro de 2021 após um embate com o presidente Jair Bolsonaro, que deixou a entrevista irritado com uma pergunta.

Marinho diz que não sofreu pressão de Emílio Surita ou da Jovem Pan para deixar o programa. O humorista falou que não estava feliz de ser rotulado como treteiro, bad boy e ver sua voz sendo abafada a cada debate e controvérsia. "Eu pesei os prós e contras na balança do caráter e refleti com amigos, com meus pais e deixei o programa", disse Marinho, ressaltando que agradeceu a Surita pela oportunidade.

Atualmente, o humorista pode ser visto em seu canal no YouTube no programa André Marinho Show --que ele planeja levar para a TV. Diferente do Pânico, ele conta que tenta ser o mais imparcial e desapaixonado possível porque a sua função é entrevistar. No talk show, o comunicador já entrevistou pessoas das mais diversas áreas de atuação, inclusive políticos, como os candidatos à Presidência Simone Tebet e Ciro Gomes.

Questionado se entrevistaria Lula, ele respondeu que falaria com o maior prazer com o candidato. "Mas acho que ele não toparia mesmo eu sendo totalmente capaz hoje em dia de ter uma atuação jornalística imparcial lidando com os fatos."


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