SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Apesar do discurso de Elvis Cezar (PDT), candidato ao Governo de São Paulo, sobre sua gestão à frente da Prefeitura de Santana de Parnaíba, na região metropolitana da capital paulista, dados da cidade sobre emprego, infraestrutura e saúde mostram contradições com a realidade local.
Entre 2014 e o primeiro semestre de 2020, o município registrou, de acordo com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), dez semestres com saldo negativo de empregos, em que o número de demissões supera o de admissões em uma determinada região.
Além disso, o TCE-SP (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo) apontou que Santana de Parnaíba tinha, no segundo trimestre de 2019, 21 obras atrasadas ou paralisadas, cifra que caiu para 19 no final de 2020, parte derradeira do mandato do pedetista na prefeitura local.
A reportagem procurou o candidato, que, em vez de comentar as cifras do Caged, destacou os números dos PATs (Postos de Atendimento ao Trabalhador) na cidade. A rede, uma iniciativa estadual, preencheu 2.102 vagas. Elvis ressaltou ainda que sua gestão ofereceu qualificação profissional a mais de 10 mil pessoas.
Sobre as obras, afirmou ter entregue mais de 200 empreendimentos ao município, um "marco histórico", e que, em 2019, elevou o número de obras em andamento, cerca de 50.
O pedetista teve seu primeiro grande momento de destaque como concorrente ao governo do estado no debate promovido pela TV Bandeirantes no início de agosto. Lá, Cezar fez diversas declarações sobre seus dois mandatos à frente de Santana de Parnaíba, entre 2013 e 2020.
No evento, Elvis disse ter feito da cidade um "modelo de saúde pública" e a segunda maior empregadora do estado. Também afirmou ter "revolucionado a educação" e reestruturado a segurança pública local, tornando Santana de Parnaíba o município mais seguro do estado e o segundo melhor do Brasil.
As afirmações repercutiram, na maioria das vezes com memes sobre as políticas propagandeadas.
Na saúde, os dados de mortalidade infantil apontam para uma melhora nos mandatos de Elvis. De 2013 a 2014, a taxa caiu de 12,66 para 8,25, oscilando nesse patamar até 2019, quando a cidade atingiu 11,19 óbitos a cada mil nascidos vivos, seguida de uma queda brusca em 2020 para 5,42 óbitos.
Segundo o DataSUS e o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o dado da cidade é menor que a média nacional --11,56 óbitos a cada mil nascidos vivos--, mas Santana de Parnaíba ainda é a quarta pior da região metropolitana e a 411ª das 645 cidades do estado no tema.
Silvinho Filho (PSD), único parlamentar abertamente de oposição na Câmara dos Vereadores e filho do ex-prefeito Silvinho Peccioli, afirmou que, apesar de Elvis ter assumido uma prefeitura com boa arrecadação, há reclamação constante sobre a prestação de serviços na cidade, especialmente na saúde.
O vereador também diz que muitas das políticas que o pedetista anuncia como de sua autoria são, na verdade, frutos de mandatos anteriores que geraram resultados. Apesar de afirmar que o aliado de Ciro Gomes fez um bom governo, critica um "marketing exacerbado" do candidato em torno de sua gestão.
Elvis diz que tanto seu pai, Marmo Cezar, quanto ele herdaram da administração anterior cerca de R$ 35 milhões em compromissos oriundos de contratos não cumpridos e R$ 30 milhões de dívidas em folha de pagamento. Além de ter pago os valores, afirma ele, criou também um "novo modelo de gestão pública".
POLÊMICA E MANDATOS CASSADOS
Elvis chegou ao Executivo municipal cercado de polêmicas que envolviam seu pai, cassado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em maio de 2013, um ano após ser eleito prefeito. A Justiça Eleitoral optou por indeferir a candidatura da chapa mesmo após a realização do pleito devido à reprovação das contas do Legislativo da cidade, do qual Marmo foi presidente, em 2000, o que o enquadrou na Lei da Ficha Limpa.
Elvis foi eleito vereador naquela mesma vez. Quando Marmo teve o mandato interrompido, e a chapa, cassada, o filho ocupava a presidência da Câmara local e, por isso, assumiu como prefeito interino até as eleições suplementares, em dezembro de 2013, quando se candidatou e se elegeu.
As candidaturas para vereador e à prefeitura do hoje postulante ao governo foram cercadas de polêmicas. Em 2012, o Legislativo de Santana de Parnaíba havia determinado a cassação do mandato de Elvis por quebra de decoro, acusado de trocar votos por presentes de Natal, o que o tornaria inelegível.
Com uma liminar, candidatou-se outra vez, foi reeleito, virou presidente da Câmara e anulou a decisão referente à legislatura anterior. Mas a Justiça continuou analisando o caso e manteve a inelegibilidade.
O TSE, por fim, decidiu a favor do pedetista, mantendo seus direitos políticos e validando a eleição à prefeitura. Hoje, Marmo Cezar é candidato à reeleição como deputado estadual, também pelo PDT.
À reportagem Elvis disse que ele e o pai foram vítimas de perseguição política e que a decisão de cassar seu mandato como vereador era inválida porque o mandato pertence ao partido, não a quem o exerce.
Também afirmou que seu pai não foi o responsável pelo gasto que levou à rejeição das contas do Legislativo em 2000 e à posterior perda de mandato. Na verdade, diz Elvis, um outro vereador deixou de prestar contas de seu gabinete, o que teria deixado o balanço total incompleto, impedindo sua aprovação.
Elvis também se apresenta como o prefeito mais votado da história de Santana de Parnaíba. Ele obteve 68,37% dos votos na eleição suplementar em 2013 e 63,65% ao ser reeleito, em 2016.
A porcentagem, no entanto, é menor que a de dois ex-prefeitos da cidade -Silvinho Peccioli teve 95,46% dos votos válidos nas eleições de 2000, e José Benedito Pereira Fernandes foi eleito com 85% em 2004.
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