SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - No último debate entre candidatos ao Governo de São Paulo antes da votação no domingo (2), Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) se ajudaram nas críticas ao governador Rodrigo Garcia (PSDB) ao mesmo tempo em que reforçaram a polarização entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

A estratégia no evento realizado pela TV Globo foi escancarada por Rodrigo, que se apresenta como independente. "Desde o começo do debate está claro aqui a tabelinha que Haddad e Tarcísio estão fazendo, porque querem trazer a briga política para cá", disse.

Na última pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira (22), Haddad marcou 34%, Tarcísio teve 23%, e Rodrigo, 19%. Elvis Cezar (PDT) e Vinicius Poit (Novo), que também participaram do debate, marcaram 1% e nada, respectivamente, no levantamento.

O tucano e bolsonarista brigam diretamente por uma vaga no segundo turno. As pesquisas mostram que Rodrigo tem melhor desempenho que Tarcísio contra Haddad no segundo turno, o que tem incentivado a campanha tucana pelo voto útil e direcionado ataques da campanha petista ao governador.

Logo no início do debate, Haddad e Tarcísio se engajaram numa dobradinha em que aproveitaram para colar em seus padrinhos, Lula e Bolsonaro, respectivamente, ao mesmo tempo em que criticaram e isolaram Rodrigo, que foi o último a ser questionado nos dois primeiros blocos.

Rodrigo em mais de uma ocasião disse que busca "proteger o estado" e garantir que não haverá retrocesso. "Se depender deles [rivais], nada funciona. Eles vão ganhar a eleição e parar tudo que a gente está construindo nestes últimos tempos."

Diante da maior audiência da TV Globo e da semana final para eleitores indecisos, Tarcísio se apresentou como ex-ministro de Bolsonaro, enquanto Haddad mencionou ter feito parte do governo Lula.

Haddad exaltou a gestão Lula, que busca uma eleição ao Planalto no primeiro turno contra Bolsonaro. Também lembrou que a ex-ministra Marina Silva (Rede) o apoia.

Ele afirmou que, no governo Lula, o país crescia cerca de 4% ao ano, contra 1% atualmente. Também questionou o corte de verba do governo federal em programas sociais, como a farmácia popular e a merenda escolar.

O petista lembrou ainda que Tarcísio integrou o governo Dilma Rousseff (PT), que ele chamou de "governo probo".

Tarcísio respondeu que o atual governo teve que desfazer as lambanças do PT, além de enfrentar a pandemia e a guerra na Ucrânia.

"Eu defendo o governo Bolsonaro porque entrega resultados, faz acontecer, superou crises duras", disse o ex-ministro.

Os dois candidatos, porém, se dedicaram a atacar Rodrigo e seu antecessor e aliado, João Doria (PSDB), a quem acusaram de aumentar impostos durante a pandemia, além de cortar o passe livre para quem tem entre 60 e 64 anos.

"Essa briga entre Bolsonaro e Doria trouxe prejuízo para você, trabalhador e dona de casa", afirmou Haddad. O petista quer colar sua eleição à de Lula, argumentando que "São Paulo e o Brasil precisam remar para o mesmo lado".

"Temos que evitar é esse bate-cabeça. Eu nunca vi dois governantes, como Bolsonaro e Doria, se desentenderem tanto quanto no último período. Um desentendimento completo da federação. Isso não acontecia com Lula-[Geraldo] Alckmin nem com Lula- [José] Serra", disse o petista mais adiante.

Quando, somente ao final do primeiro bloco, Rodrigo estreou no debate, criticou a estratégia de Haddad e Tarcísio, que aproveitaram o debate para exaltar seus padrinhos. O tucano buscou reforçar seu mote de terceira via, nem de esquerda nem de direita.

"Vocês estão vendo a briga política aqui instalada. Um pendura no Lula, um pendura no Bolsonaro e ninguém pensa em São Paulo .

"Eu sei como a gente não vai resolver os problemas de São Paulo. É deixando essa briga política vir aqui para São Paulo. Só se discute as questões nacionais e deixa de São Paulo lado. A única que o Tarcísio e o Fernando concordam é falar mal de São Paulo. Só criticam São Paulo", completou.

Depois de Rodrigo acusar os rivais de fazerem uma dobradinha, Haddad afirmou concordar em uma coisa com Tarcísio.

"Você fez um mal governo com Doria e esconde Doria", disse o petista, relatando ainda a ligação de Rodrigo com Gilberto Kassab (PSD) e Celso Pitta. "Rodrigo, você tem que parar de esconder quem você é. [Esconde] Aliados, patrimônio, irmão."

Mesmo os candidatos nanicos, como Elvis e Poit, dirigiram ataques a Rodrigo. O pedetista citou processos na Justiça de seu irmão, Marco Aurélio Garcia, que participou da máfia do ISS, e seu vice, Geninho Zuliani (União).

Já Poit questionou a eficiência da segurança pública e a remuneração dos policiais, além de disparar contra o PSDB. "As pessoas estão passando fome em São Paulo. E faz 30 anos que o partido do senhor está no poder", disse o candidato do Novo.

Quando teve oportunidade, Rodrigo questionou Tarcísio e o acusou de mentir sobre a quantidade de obras paradas. "São Paulo é um canteiro de obras, governo federal tem 7.000 obras paradas", disse.

Tarcísio respondeu listando medidas tomadas pelo governo Bolsonaro na área na época em que ele comandou a pasta da Infraestrutura e disse que promoveu a maior quantidade de leilões da história.

"Todo esse monte de coisa que ele falou [projetos] é papel, ainda não tem gente trabalhando", disse o atual governador. Ele ainda insinuou que Tarcísio privilegiou obras no estado do Rio, estado natal do rival, durante a concessão federal da rodovia Rio-Santos.

O ex-ministro também foi alvo de Elvis, que lembrou a entrevista em que Tarcísio não sabe responder seu local de votação, em São José dos Campos (SP). O vídeo se tornou viral.

"Fica tranquilo que não vou perguntar onde você vota", disse, para em seguida perguntar sobre baixos investimentos do governo Bolsonaro em São Paulo.

"Esquecer local de votação, a gente até esquece, o que não dá é para esquecer das pessoas", respondeu Tarcísio.

Tentando se livrar de aliados incômodos, como Fernando Collor (PTB) e Frederico D'Avila (PL), deputado estadual que xingou o papa, Tarcísio reforçou seu vínculo com Bolsonaro.

"O melhor presidente para mim é Jair Messias Bolsonaro. O que correligionários fazem não tem nada a ver conosco, porque nossa gestão será técnica", afirmou.

O fato de o ex-ministro ter nascido no Rio de Janeiro também foi explorado por Rodrigo. "Eu fiz e fiz muito por São Paulo, diferentemente de você, que chegou agora. [...] Não ajudou a construir o estado que a gente tem", afirmou o tucano, listando programas do PSDB, como o Bom Prato.

Haddad também foi alvo em algumas ocasiões. Poit, por exemplo, o questionou a respeito de Lula ter chamado Bolsonaro de "capiau de Registro", o que seria preconceituoso com moradores do interior paulista.

O petista afirmou que "se tem uma coisa que não dá para acusar Lula é de preconceito", acrescentando que o ex-presidente foi vítima de preconceito. "Você está descontextualizando uma frase para tentar pinçar aí uma expressão para criar uma celeuma que não existe."

Poit afirmou que o eleitor esperava um pedido de desculpa e disse que Haddad era arrogante. "São Paulo não quer o PT no governo", completou.

Como nos debates anteriores, Elvis ressaltou sua experiência como prefeito de Santana de Parnaíba (SP) e Poit buscou acenar para o eleitor de direita e conservador.


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