SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um ato convocado pelo movimento Direitos Já! nesta quinta-feira (6) em São Paulo para defender a democracia e protestar contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) teve desagravos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O vice do petista na corrida presidencial, Geraldo Alckmin (PSB), e o candidato do PT a governador, Fernando Haddad, participaram.
O encontro, batizado de Frente Ampla pela Democracia, reuniu representantes de diferentes setores da sociedade civil e de algumas das 16 legendas que fundaram o grupo pluripartidário. As falas no palco do evento, em um salão de eventos no bairro da Liberdade (região central), pregaram o fim do atual governo e o voto em Lula.
Siglas como PT, PSB, PSOL, PSDB, Rede, PSD, PDT e PC do B enviaram membros à solenidade. Muitas das falas pediram empenho no segundo turno para conquistar votos para Haddad e Lula.
Alckmin disparou críticas a Bolsonaro pelo negacionismo na pandemia, pelo retrocesso nas políticas sociais e pela louvação à ditadura militar (1964-1985). "Vamos ampliar a vitória", conclamou, dizendo que o resultado da coligação no primeiro turno foi positivo.
Haddad buscou reforçar uma mensagem otimista tanto para sua campanha quanto para a de Lula, após os reveses das urnas --o candidato a governador ficou em segundo lugar, e o presidenciável viu Bolsonaro se aproximar de seu desempenho nas urnas.
"Defendemos a democracia porque queremos ser livres para pensar a sociedade, reformular a maneira como a gente vive, dar dignidade para as pessoas. Para isso que a gente quer democracia. Então, nós não podemos vacilar", disse o ex-prefeito.
Haddad chamou Bolsonaro de fascista e disse que o presidente "não gosta do futuro, só de um passado remoto". "Educação é uma palavra que causa urticária no Bolsonaro", afirmou o petista, citando sucessivos cortes de orçamento para a área.
A ex-presidenciável Simone Tebet (MDB), que declarou apoio a Lula, participou por vídeo gravado, no telão.
Muito aplaudida, Tebet disse que o petista é o "único candidato que tem compromisso com a democracia e com um Brasil que seja de todos". A senadora afirmou ser preciso "mostrar aos brasileiros que não cabe neutralidade".
"Pela democracia, estamos com Lula", discursou no início do ato o sociólogo Fernando Guimarães, coordenador do fórum Direitos Já!. "O momento de dar basta é agora. O Brasil não aguenta mais tanto ódio e violência", disse.
Lula chegou a confirmar presença no encontro, mas desmarcou horas antes. Ele teve uma série de reuniões ao longo do dia para alinhavar apoios para o segundo turno.
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, usou seu tempo de fala para estimular o auditório a buscarem apoios para "o dia 30, que é a grande batalha". "Não tem nada mais importante nesse período do que aumentar voto, pedir voto, virar voto", disse.
Correligionários de Lula e novos aliados que dele divergiram no passado estiveram no evento. Quadros históricos do PSDB, como o ex-senador Aloysio Nunes Ferreira, compareceram. O tucano apoia o ex-presidente desde o primeiro turno.
Aloysio pregou respeito à diversidade nacional e ao convívio democrático e falou de políticas desenvolvidas ao longo do ciclo PSDB-PT no governo federal.
O ex-ministro da Justiça José Gregori (governo FHC), o vereador Daniel Annenberg (ex-PSDB, hoje no PSB), e a presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Bruna Brelaz, foram outras presenças.
As presidentes do movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz, e do Conselho da Fundação Tide Setubal, Maria Alice Setubal (Neca), também participaram.
Neca disse votar em Lula por ver em sua vitória a única forma de retomar "pautas que foram negligenciadas ao longo dos últimos quatro anos", em áreas como educação, ambiente e combate à desigualdade.
Para Priscila, a reunião foi uma demonstração de esperança. "Indignação é o que a gente está vendo aqui em todas as falas. Acho que não há ninguém que não esteja indignado com a hostilização à educação nesses anos todos", disse a ativista.
O ato reuniu representantes de diferentes religiões, entre evangélicos, batistas, católicos, segmentos de matriz africana, judeus e budistas, entre outros. Houve uma manifestação ecumênica e repúdio ao que foi descrito como "instrumentalização das religiões pela política", em crítica ao bolsonarismo.
Porta-vozes de indígenas, das comunidades científica e jurídica e dos movimentos sindical e estudantil também circularam pela cerimônia.
Uma série de políticos e personalidades que estiveram em campos antagônicos ao do PT e agora declararam apoio ao ex-presidente participaram, pessoalmente ou com vídeos no telão.
A deputada federal eleita Marina Silva (Rede) exaltou Lula e Haddad. "A democracia às vezes pode parecer uma abstração, mas às vezes ela assume uma concretude. E este é um dos momentos", disse a ex-ministra e ex-senadora. Na fala, ela traduziu o conceito como direitos iguais para todos e garantia da dignidade.
A deputada eleita, que é evangélica, condenou ainda o que classificou como "uso do nome de Deus em vão", sem referência explícita ao campo rival.
O vereador e deputado estadual eleito Eduardo Suplicy (PT), a vice na chapa de Haddad, Lúcia França (PSB), e o presidente do PV, José Luiz Penna, também estavam no palanque.
Lúcia fez críticas, sem citar o nome, ao rival no segundo turno estadual, o bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), dizendo que "eles vão ter que nos engolir". A pessebista ressaltou o fato de Tarcísio não ter nascido no estado de São Paulo e "nem saber direito onde vota".
Personalidades como o advogado José Carlos Dias, presidente da Comissão Arns, e a diretora Laís Bodanzky foram outras presenças. O advogado Miguel Reale Jr., que foi um dos autores do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), apareceu em vídeo.
O evento é o quinto promovido pelo Direitos Já! Fórum pela Democracia, que foi criado em 2019, em meio à escalada autoritária promovida por Bolsonaro. O ato anterior foi em agosto, no Rio de Janeiro, com discursos em defesa da Justiça Eleitoral e contra a violência política.
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