RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Base eleitoral dos campeões de votos para a Câmara dos Deputados e a Assembleia Legislativa no Rio de Janeiro, a cidade de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, se tornou um curral eleitoral com envolvimento de homens armados, de acordo com relatos feitos por candidatos ao TRE-RJ (Tribunal Regional Eleitoral).
O auge do ambiente hostil aos adversários do prefeito da cidade, Waguinho (União Brasil), foi um confronto no bairro Roseiral, no qual homens armados, entre eles um segurança do político, expulsaram militantes de uma candidata do local.
A campanha conjunta dos deputados federal Daniela do Waguinho (União Brasil), mulher do prefeito, e estadual Márcio Canella (União Brasil) contou também com o apoio de oficiais da ativa da Polícia Militar, entre eles a comandante do batalhão da cidade.
Daniela e Waguinho foram os mais votados nesta eleição, assumindo um "título" que costumeiramente era obtido por políticos sem uma base eleitoral definida, com votos espalhados por todo o estado.
A votação recorde ajudou a União Brasil a eleger seis deputados federais e oito estaduais, além de alçar Canella a um dos cotados para tentar a presidência da Assembleia.
O resultado também fez o grupo ser cortejado pelos dois presidenciáveis para a campanha na Baixada Fluminense. Eles ficaram neutros em relação à eleição presidencial e ainda não definiram apoio no segundo turno.
Waguinho tende a apoiar Lula (PT), enquanto Canella deve endossar o presidente Jair Bolsonaro (PL). O prefeito esteve com o petista na quinta-feira (6) em São Paulo para discutir a provável adesão à candidatura presidencial.
A mulher do prefeito obteve 49% dos votos válidos dados a candidatos a deputado federal na cidade. Belford Roxo deu 114 mil dos 213 mil que ela recebeu no estado, superando inclusive os 97 mil votos do ex-presidente Lula no município.
As proporções de Canella são semelhantes. Ele obteve 108 mil votos na cidade (também 49% dos válidos para deputado estadual na cidade) de um total de 181 mil no estado.
O grupo político apoiou a reeleição do governador Cláudio Castro (PL), que obteve 72,5% dos votos da cidade --média superior aos 58,7% obtidos em todo o estado.
Os relatos sobre o suposto curral eleitoral estão sob análise da Procuradoria Eleitoral e do Ministério Público do Rio de Janeiro. O TRE-RJ afirmou que aumentou a segurança na cidade.
Waguinho e Canella negaram, em nota, terem cerceado a campanha de adversários. Daniela não retornou aos contatos feitos por meio de sua assessoria de imprensa.
Os relatos de intimidações na cidade mais claros foram feitos pela ex-deputada Sula do Carmo (Avante), ex-vice-prefeita da cidade. Ela afirma que sofreu retaliação desde julho, quando anunciou sua pré-candidatura, tendo como auge o conflito no Roseiral, na última semana de setembro.
"Apareceram uns trogloditas e foi uma coisa horrível. Participo de política na cidade há 33 anos e nunca vi uma coisa dessa. Saíram mais de 30 homens armados indo para cima das meninas que faziam campanha para mim. Foi uma correria, e uma grávida perdeu o bebê", disse a ex-deputada.
Imagens do dia do tumulto mostram homens vestidos de preto e armados andando em grupo agredindo militantes de Sula. Ao fundo, estava um caminhão de som de Daniela do Waguinho.
Um dos envolvidos na confusão é o policial militar Fábio Sperendio, assessor de Canella que também atua como segurança do prefeito de Belford Roxo.
A limitação à campanha de Sula se tornou mais evidente em maio, quando o prefeito desapropriou o galpão que sempre usou em suas campanhas eleitorais. Houve a tentativa de tomar posse do imóvel na véspera do evento de lançamento da candidatura da ex-deputada, em julho.
"O prefeito quer o monopólio da cidade. Eu evitei fazer política lá porque ele sempre mandava equipe para perseguir. Ficava mandando recados de que não podia entrar lá. Comerciante que colocasse adesivo meu ele mandava fechar", disse a ex-deputada.
O candidato derrotado a deputado estadual Danielzinho (PSDB) também registrou no TRE-RJ dificuldades para realizar campanha no município. Único vereador de oposição da cidade, ele afirma que a prefeitura interditou espaços que usaria para o lançamento de sua campanha. Procurado, ele não respondeu à reportagem.
O deputado estadual Dr. Deodalto (PL), com base eleitoral na cidade, afirma que conseguiu fazer campanha em alguns pontos centrais da cidade, mas teve adesivos e placas arrancados no município.
"Tinha muita gente armada fazendo campanha. Foi muito complicado este ano", disse ele.
A Folha ouviu relatos semelhantes de outros dois candidatos, sob a condição de anonimato.
A campanha dos dois campeões de votos contou ainda com o apoio explícito de três oficiais da ativa da Polícia Militar, o que é proibido pelas regras da corporação. Eles participaram de um ato de campanha de Daniela e Canella em Rocha Miranda, zona norte da capital. Um dos oficiais é a tenente-coronel Daniele Neder, comandante do 39º Batalhão da PM, sediado em Belford Roxo.
Resultado é reconhecimento da população, diz deputado reeleito Canela afirmou, em nota, que sua votação recorde foi "reconhecimento da população por tudo o que foi feito, o que está sendo feito e a esperança que dias ainda melhores virão".
Ele afirmou que está na vida pública de Belford Roxo há dez anos. "Toda a minha campanha foi feita na base do diálogo e de inúmeras caminhadas, olhando nos olhos dos eleitores. E nesse pleito fui o deputado mais votado do estado."
Waguinho se manifestou por meio da assessoria de imprensa da prefeitura. Disse que o galpão usado em campanhas anteriores de Sula foi desapropriado para a construção do Hospital do Idoso.
Em relação aos estabelecimentos fechados que sediariam eventos do vereador Danielzinho (PSDB), declarou que não tem poder para fechar espaço político de qualquer candidato. Não esclareceu, porém, a razão do envolvimento da Guarda Municipal no episódio.
Em relação ao conflito no bairro Roseiral, o município disse que "as coordenações das campanhas já analisaram o caso e tomaram as providências".
Procurada, a assessoria da deputada Daniela do Waguinho não respondeu aos questionamentos.
A Polícia Militar disse em nota que o envolvimento dos oficiais na campanha está sob apuração da Corregedoria.
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