SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) decidiu no sábado (8), em caráter liminar (provisório), que a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não pode mais veicular inserções e propagandas na TV associando o presidente Jair Bolsonaro (PL) a práticas canibalistas.
A campanha do petista divulgou inserções, na semana que sucedeu o primeiro turno das eleições deste ano, com a entrevista dada por Bolsonaro ao jornal americano The New York Times em 2016, em que ele afirmava estar disposto a comer carne de um indígena morto.
O ministro Paulo de Tarso Vieira Sanseverino, do TSE, afirmou, em sua deliberação, haver alteração sensível do sentido original da entrevista, sugerindo que Bolsonaro comeria carne humana em qualquer contexto, e não no caso restrito de um ritual durante a visita do então deputado ao povo Yanomami de Surucucu.
Por se tratar de uma decisão liminar, entretanto, ainda cabe validação do plenário do tribunal eleitoral sobre a decisão monocrática.
"Em análise superficial, típica dos provimentos cautelares, verifica-se que, como alegado, a propaganda eleitoral impugnada apresenta recorte de determinado trecho de uma entrevista concedida pelo candidato representante, capaz de configurar grave descontextualização", afirmou o ministro na decisão.
Sanseverino também argumentou gravidade na divulgação do conteúdo em redes sociais, que, segundo ele, gera ainda mais perigo à reputação de Bolsonaro.
Para além de não usar mais inserções televisivas, o ministro conclui impondo à campanha petista a abstenção de qualquer nova divulgação sobre o assunto, também obrigando a remoção de conteúdos que usam a entrevista nas redes sociais usadas por Lula em sua candidatura.
O vídeo antigo, que está publicado na íntegra no canal de YouTube do atual presidente, tem circulado nas redes sociais durante a semana em uma nova disputa de discursos pautada por questões religiosas e morais.
O então deputado federal afirmou que só não comeu carne humana de um indígena porque "ninguém quis ir com ele".
"Morreu o índio e eles estão cozinhando, eles cozinham o índio, é a cultura deles. Cozinha por dois três dias, e come com banana. Daí eu queria ver o índio sendo cozinhado, e um cara falou, 'se for ver, tem que comer', daí eu disse, eu como! E ninguém quis ir, porque tinha que comer o índio, então eles não me queriam levar sozinho, e não fui", disse Bolsonaro na entrevista. "Eu comeria sem problema nenhum. É a cultura deles. Eu me submeti a isso", completa o presidente.
Também no último sábado, Lula havia indicado que o vídeo deveria se tornar um mote da campanha, fazendo referência ao episódio três vezes em entrevista a jornalistas e dizendo não se tratar de "maldade" da campanha.
"Aquilo não é fake news ou maldade nossa, aquilo somos nós informando o povo sobre como é nosso adversário", disse, quando questionado se o caso seria mais explorado pela campanha. "O que está acontecendo é que não estamos inventando. Aquilo não é campanha do Lula falando, é ele falando."
A Folha mostrou que a campanha petista usaria imagens de Bolsonaro discursando em loja maçônica caso o candidato à reeleição subisse o tom da campanha. O PT também voltou a ser alvo de vídeos manipulados que mostra Lula dizendo que faria pacto com o demônio, e relacionando-o ao "satanismo".
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