SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Não era um domingo qualquer. No último dia 2, o sargento aposentado Ronaldo Moreira abriu seu bar para a apuração do resultado das eleições. Ameaçava chover e todo mundo ?de direita e de esquerda? se juntou no centro da área coberta: "virou quase uma mesa só".

Em Serra da Saudade (MG), a menor cidade do Brasil com apenas 771 habitantes, os resultados de primeiro turno para presidente foram tão acirrados quanto no restante do país.

O município mineiro cercado por morros e distante 260 km de Belo Horizonte registrou 419 votos para Jair Bolsonaro (PL) contra 395 para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ?24 a mais para o atual presidente. Nesses números, entram os eleitores registrados na cidade, mas que vivem em outros lugares.

A divisão política surpreendeu: nas eleições passadas, Bolsonaro havia conseguido 64% dos votos do município no primeiro turno e 73% no segundo.

Apesar de mais divididos agora, os moradores garantem que a rivalidade não vira guerra.

"Parecia Copa do Mundo", diz Moreira, 47, sobre o movimento no bar Recanto da Serra, que fica na região central da cidade, no dia da apuração.

Uma televisão em volume alto entregava os resultados. Os gritos começaram quando Bolsonaro saiu na frente da disputa. Depois, Lula virou e parecia "o gol da vitória", afirma a manicure e conselheira tutelar Cida Cardoso, 48.

O estudante de enfermagem Arthur Gomes, 21, correu para o bar depois que largou o ofício de mesário.

Na sessão onde trabalhou, só alguns jovens ousaram vestir vermelho ou verde-e-amarelo ? os mais antigos da cidade mantêm a discrição.

A campanha em Serra da Saudade é mais acirrada nas redes sociais do que nas ruas, mas o motorista Tiago Ferreira, 39, fez questão de pregar uma bandeira do Lula na porta de casa.

Votou no petista pela primeira vez nesta eleição por ser contra a atuação de Bolsonaro na pandemia."Ele imitou as pessoas com falta de ar", diz Ferreira, que fazia o transporte de pessoas com covid-19 para o postinho de saúde da cidade.

Em um grupo de WhatsApp chamado "Bolsonaro x Lula", moradores da cidade trocam vídeos no TikTok e desmentem fake news ? de um lado e de outro. Às vezes rolam brigas, mas são passageiras, diz Gomes.

A impressão dos moradores é de que o volume de informações sobre política que chega todos os dias no WhatsApp contribui para tornar esta eleição mais comentada na cidade pacata.

Eleitor de Bolsonaro, Gomes esperava que o presidente conseguisse a reeleição no primeiro turno. No bar, conta ele, à medida em que a porcentagem de Lula subia, os apoiadores de Bolsonaro iam "rareando e indo embora, caladinhos".

Para o segundo turno, os serrano-saudalenses de um lado e de outro esperam ? mais do que o resultado nas urnas ? que a cidade não se renda à guerra política.

E Moreira já planeja, claro, abrir o bar no dia 30.

"Na eleição, vem gente de fora. A gente se reúne para comemorar, rever os amigos", diz o dono do bar. "Eles sentam juntos, um é Lula, o outro é Bolsonaro. E não dá briga, não", garante Ferreira.


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