SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - Em sua primeira disputa eleitoral, o ex-secretário estadual da Educação Jerônimo Rodrigues (PT) derrotou o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) e será o novo governador da Bahia.

Com 100% das urnas apuradas, Jerônimo obteve 52,79% dos votos válidos, enquanto ACM Neto atingiu 47,21%, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Com a vitória neste segundo turno, o PT vai governar o estado da Bahia pela quinta vez consecutiva.

Jerônimo repete o feito de seus padrinhos políticos, o governador Rui Costa e o ex-governador Jaques Wagner, que foram eleitos respectivamente em 2014 e em 2006.

Ancorado no apoio do agora presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de Rui Costa, Jerônimo Rodrigues fez uma campanha com o desafio de se tornar conhecido pelo eleitorado baiano, já que concorria a um mandato eletivo pela primeira vez.

Lula obteve no estado ampla vantagem sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL). Com todas a seções totalizadas, o petista recebeu 72,12% dos votos válidos na Bahia, contra 27,88% do atual presidente.

Jerônimo foi escolhido candidato apenas em março deste ano em meio a uma crise no PT baiano após a desistência do senador Jaques Wagner em concorrer ao governo do estado.

"Esta eleição é para dizer qual Brasil nós queremos, qual Bahia nós queremos, agora e no futuro, para nossos filhos e nossos netos", disse Jerônimo, ao votar pela manhã em um colégio no bairro de Brotas, em Salvador.

O petista também fez críticas ao adversário. "Nós temos um time, um projeto político. Não uma pessoa só, como é na oposição, em que ele quer ser dono da Bahia. O dono da Bahia é o povo da Bahia."

Agrônomo e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana, Jerônimo foi secretário estadual de Desenvolvimento Agrário e de Educação. É considerado um nome próximo a Rui Costa dentro do PT baiano.

O petista iniciou a campanha de um patamar baixo, registrando 16% das intenções de voto na primeira pesquisa Datafolha divulgada em 24 de agosto, contra 54% de ACM Neto.

Mas ganhou tração durante a campanha, sobretudo após o início da propaganda eleitoral na TV e no rádio, ao mesmo tempo em que seu principal adversário reduziu o seu patamar de intenção de votos. Terminou o primeiro turno com 49,45% dos votos válidos contra 40,80% do ex-prefeito de Salvador.

No segundo turno, Jerônimo reforçou a aposta na nacionalização da campanha e intensificou a associação entre o candidato e Lula.

Prefeitos, deputados, vereadores e líderes políticos que haviam apoiado ao ex-prefeito de Salvador no primeiro turno aderiram ao petista. As alianças incluíram até um movimento "JeroNaro", com voto casado em Jerônimo e em Bolsonaro.

Diferentemente do adversário, ACM Neto se manteve neutro nos dois turnos da eleição nacional para atrair tanto eleitores de Lula como de Bolsonaro.

Ainda na manhã deste domingo, quando votou em Salvador, o agora candidato derrotado evitou mais uma vez se posicionar em relação à eleição nacional, afirmando que o seu eleitor tem a independência para escolher o candidato a presidente que preferir.

Na corda-bamba entre lulistas e bolsonaristas, foi chamado pelos adversários como o "candidato do tanto faz" e fustigado pelos dois lados. No segundo turno, contudo, fez acenos mais claros para os eleitores bolsonaristas e recebeu o apoio do presidente, que defendeu voto em ACM Neto.

Na campanha, deu destaque às ações de sua gestão como prefeito de 2013 a 2020 e apostou em um desgaste do grupo político adversário, que está há 16 anos no poder.

Para isso, mirou suas baterias nas áreas de segurança pública, onde a Bahia lidera em número de homicídios, e na educação, área que foi comandada por Jerônimo de 2019 a 2022 e que registrou o quarto pior desempenho no Ideb para o ensino médio em 2021 entre os estados brasileiros.

Também deu destaque à figura política do avô Antônio Carlos Magalhães, que governou o estado em três oportunidades, uma delas eleito pelo voto direto.

Os dois candidatos travaram um embate pelo apoio líderes políticos e por engajamento nas redes sociais, onde as críticas a ACM Neto ganharam maior repercussão.

A principal delas foi a autodeclaração racial de ACM Neto como pardo na Justiça Eleitoral, episódio fez crescer buscas na internet relacionadas ao ex-prefeito.

ACM Neto e Jerônimo ainda travaram uma disputa em torno das alianças partidárias antes do início oficial da campanha. De um lado, o ex-prefeito de Salvador conseguiu atrair o PP, partido que era aliado do PT e que é comandado pelo vice-governador, João Leão.

O PT, por usa vez, contra-atacou e levou para sua base aliada o MDB, partido sob influência de Geddel Vieira Lima e que indicou o presidente da Câmara Municipal de Salvador, Geraldo Júnior, como candidato a vice-governador.

Em 2022, a disputa eleitoral na Bahia repetiu um quadro de polarização entre grupos que se enfrentam desde 1998.

De um lado, estava a tradição do carlismo iniciada por ACM, cujo grupo comandou a Bahia entre 1990 e 2006 e que se reinventou com ACM Neto. Do outro, estava o PT, que disputou todas as eleições para o governo desde 1998 e mantém hegemonia no estado desde 2007.


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