BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Candidato à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) chega ao primeiro turno pressionado por pesquisas que indicam favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas com expectativa de chegar ao segundo turno.
Apesar de ter feito uma campanha voltada à sua bolha de eleitores e com dificuldade de ampliar o espectro de apoios, aliados do chefe do Executivo dão como certo que a disputa será dividida em duas etapas e que não acabará em 2 de outubro.
O que eles devem observar atentamente neste domingo (2), quando começarem as apurações das urnas, é justamente a diferença de votos entre Bolsonaro e o ex-presidente.
Reservadamente, veem dois cenários possíveis: em um deles, o petista desponta com larga vantagem, próxima de dois dígitos ou mais, o que representaria apenas a prorrogação da vitória de Lula; no outro, Bolsonaro chega ao segundo mais próximo do adversário e com chance de virar e se reeleger em 30 de outubro.
Eles torcem e mantêm esperança no segundo cenário. A avaliação é que, se for registrada uma diferença pequena de votos, seria uma derrota para institutos de pesquisas, Bolsonaro reforçaria o argumento de que é perseguido pela mídia e Lula não tem a força que tenta vender.
Aliados do chefe do Executivo têm pesquisas próprias, que não foram registradas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e não compartilharam com a imprensa, com metodologias diferentes dos levantamentos tradicionais e têm se baseado nelas para cenários.
Bolsonaro, por sua vez, tem questionado publicamente as pesquisas, diz a seus eleitores que vai ganhar em primeiro turno e faz acenos à base com a tese do "Datapovo", quando usa imagens de atos com apoiadores para tentar descredibilizar os levantamentos de intenção de votos.
Isso aconteceu, por exemplo, nas manifestações de 7 de Setembro. Na ocasião, como costuma fazer, tentou esvaziar o resultado das pesquisas devido ao fato de ter reunido milhares de pessoas nas ruas.
"Nunca vi um mar tão grande aqui, com essas cores verde e amarela. Aqui não tem a mentirosa Datafolha, aqui é o nosso 'Datapovo'. Aqui a verdade, aqui a vontade de um povo honesto, livre e trabalhador", afirmou o chefe do Executivo.
Mesmo sabendo da necessidade de buscar outros segmentos da sociedade para sua sobrevivência eleitoral, Bolsonaro priorizou na agenda de campanha comícios com apoiadores e motociatas.
Neste sábado (1º), último dia antes da votação, programou passeio de moto com apoiadores em São Paulo e em Santa Catarina --comícios e discursos são proibidos pela lei eleitoral.
Na linha de frente do comboio de motos na capital paulista estavam também os ex-ministros Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), o empresário Luciano Hang e a deputada federal Carla Zambelli (PL). Ao final, Bolsonaro caminhou para o fundo da manifestação para acenar aos seus apoiadores e recebeu de um deles uma mochila de delivery com a imagem de Lula detido --que acabou erguida e exibida.
Depois, Bolsonaro realizou o último ato de campanha em Joinville, maior cidade de Santa Catarina. Ele participou de uma motociata com candidatos locais e com o empresário bolsonarista Luciano Hang.
As viagens têm como objetivo, segundo aliados, dar força final para candidatos majoritários do presidente nos estados.
Em São Paulo, ele busca eleger Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro da Infraestrutura, para o governo; e Marcos Pontes (PL), ex-titular de Ciência e Tecnologia, para o Senado. Ambos estão em segundo lugar nas pesquisas.
Já em Santa Catarina, último lugar em que participaria de motociata, Bolsonaro já tem amplo apoio de eleitores, sendo um dos estados que mais apoiam sua reeleição. Lá, ele busca eleger Jorginho Mello (PL) para governador e Jorge Seif para o Senado.
O mandatário votará no Rio de Janeiro, acompanhado da primeira-dama, Michelle. A expectativa é a de que volte para Brasília para acompanhar a apuração dos votos do Palácio da Alvorada.
Michelle passou todo o governo com papel político secundário e evitando aparições públicas. Nunca, em todo esse período, concedeu entrevista à imprensa tradicional.
Neste ano, contudo, não apenas passou a acompanhar o marido em agendas públicas, como passou a discursar politicamente. A virada ocorreu porque a campanha diagnosticou que Michelle reduzia a rejeição de mulheres a Bolsonaro.
O chefe do Executivo enfrenta resistência entre as eleitoras, com seu histórico de declarações machistas e ataques às mulheres. O segmento é um dos principais obstáculos à sua reeleição.
A utilização da imagem da primeira-dama ajudou no desempenho entre as eleitoras, mas não o suficiente para inverter a liderança do adversário petista nas pesquisas de intenção de voto. Elas representam mais da metade da população.
O presidente passou a destacar ações do governo para mulheres, como o fato de que elas têm prioridade na distribuição de títulos de terra e a inclusão de marisqueiras no seguro defeso. Também repete a sanção de mais de 70 projetos de lei para proteção de mulheres.
Como a Folha mostrou, o Executivo federal não foi autor de nenhuma dessas propostas.
Se há quatro anos, Bolsonaro conseguiu se eleger com uma campanha menos estruturada e com discurso radicalizado, neste ano o cenário foi outro. O presidente modulou o discurso em pontos que sabia que poderiam custar votos.
Dois temas frequentemente abordados pelo chefe do Executivo abriram espaço para versões mais suaves: vacinas e urnas eletrônicas.
Bolsonaro fora aconselhado por aliados a se vacinar e a parar de criticar o imunizante contra a Covid-19, que a maior parte da população aderiu e controlou a pandemia no país. Apesar disso, não se vacinou. Mas o cálculo eleitoral funcionou, em parte.
O mandatário adotou discurso de que seu governo garantiu vacina a todos que quisessem, e que, por motivos pessoais, ele não quis se vacinar. Também continuou defendendo medicamentos sem eficácia comprovada do chamado kit Covid.
Quanto às urnas eletrônicas, Bolsonaro oscila o tom golpista em seus discursos. Há cerca de um ano, no momento de pior crise de sua administração, o presidente insistia no voto impresso e fez uma apresentação na internet, sem qualquer prova, de que houve irregularidade na eleição de 2018.
Levantamentos internos da campanha à reeleição do chefe do Executivo mostraram que, quando ele adota postura golpista e de que pode desrespeitar o resultado da eleição, aumenta a sua rejeição.
Assim, Bolsonaro evitou ser mais direto em suas declarações. Mas manteve o tom acusatório aos ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e agora condiciona o respeito ao resultado eleitoral a "eleições limpas", sem nunca ter explicado o que significa.
Propostas apresentadas
- Ampliar e assegurar o acesso à arma de fogo aos cidadãos
- Desestatizar Eletrobras
- Corrigir tabela do Imposto de Renda
- Incentivar geração de energia eólica offshore
- Auxílio Brasil de R$ 600
O que Bolsonaro disse:
"Notícia boa pra mulheres é beijinho, rosa, presente, férias"
"Se for a qualquer padaria, não tem ninguém pedindo pra comprar pão'
'Imbrochável, imbrochável, imbrochável"
'Esperem uma reeleição para vocês verem se todos não vão jogar dentro das quatro linhas da Constituição"
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