SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - No discurso que preparou para o evento do grupo Lide sediado em Nova York, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes criticou "segmentos da sociedade" que se recusam a aceitar o resultado das eleições, chamou de "lunáticos e histéricos" aqueles que clamam por uma intervenção militar e condenou a existência de uma "massa de milicianos digitais" no país.

"Durante os últimos anos, esses postulados básicos da ordem constitucional de 1988, a liberdade e a democracia, foram submetidos aos mais impensáveis ataques", escreveu Gilmar.

"Por um lado, é verdade, todo esse cenário de erosão constitucional revelou que o Estado brasileiro possui admirável resiliência. Quando tudo parecia esfarelar, ouvimos, à exaustão, o mantra: 'as instituições estão funcionando'. Bem ou mal, elas funcionaram. A institucionalidade venceu", disse ainda.

Promovida pelo grupo da família do ex-governador João Doria, a Lide Brazil Conference ocorrerá nesta segunda (14) e na terça (15) no New York Harvard Club, no centro de Manhattan.

Para o ministro Gilmar Mendes, discursos contrários à atuação do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) merecem ser observados com cautela, bem como o flerte de uma parcela dos brasileiros com o autoritarismo.

"Merece atenção porque denota estado de dissonância cognitiva coletiva, cuja prolongação no tempo também parece ter ocasionado modificações profundas na sociedade brasileira", escreveu ele.

"O que torna os cidadãos presas fáceis de milícias digitais que exploram recalques e frustrações? Sem de modo algum diminuir a relevância penal de posturas criminosas e golpistas, o ponto é saber o que joga tais cidadãos nos braços do autoritarismo", afirmou.

No discurso que preparou, o ministro da mais alta corte do país defendeu a criação de uma lei de responsabilidade social aos moldes da Lei de Responsabilidade Fiscal. A ideia seria estabelecer normas voltadas à elaboração, implementação e consolidação de políticas públicas sociais em todo o território.

"'O fiscal' e 'o social' se complementam", escreveu. "Uma lei de responsabilidade social pode, por exemplo, ser de grande valia para estabelecer critérios técnicos para a execução de obras e serviços públicos."

Além de 260 empresários, políticos e convidados, estão presentes no evento de Doria os ministros Barroso, Moraes, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Dias Toffoli.

Como mostrou a Folha, os ministros do STF vêm sendo perseguidos por bolsonaristas desde que chegaram aos Estados Unidos para a conferência. No domingo (13), um grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) passou a tarde em frente ao hotel em que os magistrados estão hospedados. Xingamentos foram proferidos contra eles.


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