SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tem sido alvo de críticas por sua relação com empresários em meio à transição e a poucas semanas de assumir o seu terceiro mandato na Presidência da República.
O caso mais recente ocorreu nesta semana. Lula viajou à COP27 em um jato do empresário José Seripieri Filho, conhecido como Júnior, fundador da Qualicorp e dono da QSaúde. O petista embarcou nesta segunda-feira (14) para o Egito.
Dias antes, de folga após a vitória na eleição, Lula havia sido hospedado pelos irmãos empresários Paulo César Carletto e Ronaldo Carletto, em uma casa de luxo no litoral sul da Bahia.
Paulo foi alvo de uma operação da Polícia Civil e chegou a ser preso, mas a investigação foi encerrada. Já Ronaldo foi citado no ano passado em delação da Operação Faroeste e negou as acusações.
Os episódios recentes de relação com empresários remetem aos casos do tríplex de Guarujá e do sítio de Atibaia, alvos da Operação Lava Jato.
Lula é considerado inocente em ambos os casos, mas o debate sobre a moralidade sempre volta à tona, como ocorreu inclusive na última campanha eleitoral. No caso do tríplex, manteve conversa sobre o apartamento com o dono da empreiteira OAS. Em relação ao sítio, a OAS e a Odebrecht bancaram benfeitorias na propriedade como forma de presentear o petista, que deixava a Presidência.
Relembre esses quatro casos envolvendo Lula:
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VIAGEM PARA A COP27
O presidente eleito viajou para a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, no Egito, em um jato do empresário José Seripieri Filho, fundador da Qualicorp e dono da QSaúde. Conhecido como Júnior, em 2020 ele foi preso em desdobramento da Operação Lava Jato que investigava suposto caixa dois para a campanha de José Serra (PSDB-SP) ao Senado, em 2014.
Amigo de Lula há dez anos, Seripieri promoveu jantares reservados durante a campanha para vencer a resistência ao nome do petista. O empresário foi um dos 20 maiores doadores privados da campanha no país. Segundo o TSE (Tribunal Superior eleitoral), as doações somaram R$ 1,86 milhão. A maior parte foi para o diretório nacional do PT, seguido da própria candidatura de Lula.
Aliados do presidente eleito afirmam que ele sabia que a carona traria custo político. Mas, por uma alegada necessidade, dizem, optou pela viagem a bordo do avião do empresário.
Não há previsão no orçamento federal para transporte no período de transição e o fundo eleitoral também não poderia mais ser usado. Além disso, o PT estava sem recursos custear a agenda e um voo comercial poderia gerar tumulto.
PERÍODO DE DESCANSO NA BAHIA
Na primeira semana de novembro, Lula e a esposa Rosângela Silva, conhecida como Janja, foram descansar em uma casa luxuosa de Paulo Carletto, irmão do deputado federal Ronaldo Carletto (PP-BA), na praia Ponta do Camarão, litoral sul de Porto Seguro, na Bahia. O advogado do empresário negou que o imóvel seja dele.
Empresário do setor de transporte, Paulo Carletto foi alvo em 2009 de operação da Polícia Civil que apurou suspeitas de fraude na concessão de linhas a empresas de transportes intermunicipais na Bahia. Na ocasião, ele foi preso e liberado cerca de 12 horas depois. A defesa informou que o caso foi encerrado sem nenhum desdobramento penal.
Ronaldo Carletto também é sócio de parte das empresas da família. Em 2021, ele foi citado no âmbito da Operação Faroeste na delação da desembargadora Sandra Inês Rusciolelli. A magistrada disse que o político estava envolvido no pagamento de propina para obter uma sentença favorável a uma empresa de transporte por aplicativo no Tribunal de Justiça da Bahia. O político negou envolvimento.
TRIPLEX EM GUARUJÁ
Em 2005, Lula e a mulher Marisa Letícia compraram o direito a ter uma unidade de 82 m² em uma das torres do tríplex no litoral de São Paulo. Em 2009, a obra em andamento foi adquirida pela OAS.
Cinco anos depois, segundo o executivo da construtora Léo Pinheiro, um tríplex no mesmo prédio foi reservado e reformado para ser entregue ao ex-presidente. Lula chegou a visitar o imóvel em 2014, mas disse em depoimento judicial que não gostou do tríplex e não quis ficar com ele.
Em 2018, Lula foi condenado em segunda instância no caso e preso. No ano anterior, o então juiz Sergio Moro havia expedido sentença afirmando que as benfeitorias e reserva do imóvel eram propina paga pela empreiteira em troca de favorecimento na Petrobras.
Em 2021, o STF anulou a condenação. A maioria da corte decidiu que o processo não deveria ter tramitado no Paraná, por não ter relação direta com a estatal. O ex-juiz Moro, hoje senador eleito, também foi considerado parcial pelo STF ao julgar o petista nesse caso.
Após as anulações, o caso prescreveu e as provas não voltaram a ser analisadas.
O SÍTIO DE ATIBAIA
Lula teve reformas e benfeitorias em um sítio que frequentava em Atibaia (SP) pagas pela OAS e pela Odebrecht. A condenação neste caso, expedida em 2019, também foi anulada pelo STF.
Segundo laudo da Polícia Federal, a empreiteira Odebrecht iniciou obras no sítio no fim de 2010, quando Lula ainda exercia o seu segundo mandato na Presidência da República.
Em depoimento judicial em novembro de 2018, o executivo da OAS Léo Pinheiro disse que em 2014 realizou obras no sítio, realizando mudanças na sala, na cozinha e no lago da propriedade.
Em 2019, em entrevista à Folha de S.Paulo, Lula admitiu discutir a questão ética por ter recebido de presente das empreiteiras a reforma no sítio. "Então, se eu cometi o erro de ir num sítio em que alguém pediu e a Odebrecht reformou, vamos discutir a questão ética. Aí é outra questão."
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