BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Representantes de movimentos sociais, que são base eleitoral do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pediram a aliados do petista mais espaço na equipe de transição.

Nos núcleos que fazem o diagnóstico das áreas do governo, há uma avaliação de que é necessário ampliar a participação desses grupos, mesmo que como voluntários. O recado foi transmitido à presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), em reunião na semana passada.

Além da maior representatividade nas discussões, integrantes de 22 entidades debateram a organização da posse de Lula. A ideia é convocar militantes, com o objetivo de dar uma demonstração de força do presidente eleito.

Existe também a intenção de garantir mobilização popular para a diplomação de Lula e de seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), que deve ocorrer em 19 de dezembro.

Esses dois assuntos têm sido tratados com representantes de MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), Contraf (Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil), MNU (Movimento Negro Unificado), UNE (União Nacional dos Estudantes) e CUT (Central Única dos Trabalhadores).

O objetivo, segundo integrantes dos movimentos sociais, é que as entidades também possam apresentar propostas e discutir projetos com os membros dos grupos, que tratam de áreas distintas, como direitos humanos, infraestrutura, agricultura, economia e defesa.

Em resposta à demanda, a equipe da transição anunciou a criação do Conselho Social da Transição para garantir a participação dos movimentos.

"A gente acha que a transição tem que ser frente ampla, mas tem que ser popular", diz João Paulo Rodrigues, integrante da direção nacional do MST.

Segundo Rodrigues, os movimentos ressaltaram a importância de não recuar em determinadas demandas da PEC da Transição para assegurar recursos ao Auxílio Brasil, que voltará a se chamar Bolsa Família.

"O terceiro assunto foi a posse porque ela tem que ter uma estética que demonstra como vai ser esse governo. Tem que ter uma participação do país todo, sob pena de nós não termos força como precisamos ter", diz.

Os movimentos sociais também querem que, ao assumir, Lula crie um modelo em que a sociedade civil possa ter mais participação nas discussões do governo --algo que vá além de conselho e conferências com a sociedade civil sobre temas específicos.

"Precisamos construir outros mecanismos de articulação para que nós sejamos ouvidos para as decisões do governo", disse o presidente da Contag, Aristides Santos.

Ainda na reunião com Gleisi, a equipe de transição e os líderes de movimentos sociais discutiram a estratégia de mobilização para que a base política de Lula esteja presente na posse em Brasília.

A ideia é que as entidades busquem recursos para financiar pelo menos o transporte de apoiadores do petista. Mas já há mobilização para que sejam montados acampamentos e estrutura de banheiros para os militantes.

Segundo organizadores da cerimônia da posse, ainda não há uma estimativa de público que estará em Brasília no dia 1º de janeiro. A ideia é fazer um levantamento ainda em novembro de quantas pessoas deverão ser mobilizadas pelos movimentos sociais.

Petistas estão articulando com o Governo do Distrito Federal os espaços para os acampamentos. Por enquanto, já foi cedido um espaço no Parque da Cidade --região central de Brasília.

Como mostrou a coluna Painel, da Folha de S.Paulo, o MST vai propor ao governo de transição a criação de um ministério dedicado à questão da reforma agrária e da alimentação.

A pasta poderia ser a de Desenvolvimento Agrário, caso seja recriada, ou alguma outra nova. Representante do movimento no grupo de trabalho sobre desenvolvimento agrário, Luiz Henrique Gomes de Moura (conhecido como Zarref) deve apresentar a proposta à equipe de transição.

A equipe do gabinete de transição de Lula tem 320 nomes, divididos entre a coordenação do gabinete de transição, conselho político e 31 grupos técnicos.

Na semana passada, em reunião com os núcleos, o ex-ministro Aloizio Mercadante afirmou aos participantes que estar nos grupos da transição não significa ter espaço na futura gestão.

Disse ainda que o objetivo dos integrantes da transição é levantar dados e realizar diagnósticos das mais diversas áreas da estrutura federal --e não elaborar propostas.

O recado dado por Mercadante foi considerado duro por alguns membros da transição, mas foi lido como uma forma de diminuir especulações sobre quem participará da nova administração.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, o impulso de movimentos sociais à eleição de Lula aponta agora para uma relação delicada do novo presidente com o segmento no próximo mandato.

Líderes de algumas das principais organizações sustentam o discurso de que eventuais cobranças podem coexistir com a defesa da gestão.

O discurso comum é o de que, mesmo com as dificuldades econômicas e políticas que Lula enfrentará, a chance de obter avanços nas pautas é maior com o PT do que com o presidente Jair Bolsonaro (PL).


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