BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse a aliados que desistiu de formar um grupo para tocar a transição na área da Defesa e que o processo será tocado pelo futuro ministro da pasta e os comandantes das Três Forças, que devem ser anunciados na próxima semana.
Os nomes escolhidos por Lula serão os responsáveis por tocar a transição junto ao atual governo.
"O presidente optou por não fazer grupo agora. Vai anunciar na semana que vem pelo ministro da Defesa e pelos três comandantes das Forças, que farão o processo de transição", disse José Múcio Monteiro, ex-ministro do TCU (Tribunal de Contas da União), após reunião com o petista nesta segunda-feira (28).
A equipe de transição de Lula havia convidado Múcio para integrar o grupo que tratará de temas ligados à área da Defesa.
Auxiliares de Lula dizem que o ex-integrante da corte de contas é cotado para comandar o ministério ao qual estão subordinadas as Forças Armadas.
O futuro mandatário prefere um civil na pasta, a exemplo do que ocorreu em seus dois primeiros mandatos. Estratégia replicada por sua sucessora, Dilma Rousseff (PT).
Antes de o nome de Múcio aparecer nas conversas da cúpula petista, há cerca de 15 dias, aliados de Lula conversaram com o ex-ministro Nelson Jobim, que já comandou a Defesa e auxilia a transição nos temas ligados à área. Ele, porém, tem dito não querer assumir a pasta e vê com simpatia o nome do ex-ministro do TCU.
Aliados de Lula veem o ex-ministro do TCU como uma solução para pacificar as Forças Armadas pela alta capacidade de articulação. Mesmo sendo amigo do petista, Múcio também manteve bom relacionamento com o presidente Jair Bolsonaro (PL), por exemplo.
Os grupos de trabalho de Defesa e Inteligência estão atrasados em relação aos demais. O governo de transição já anunciou 30 colegiados técnicos e mais de 400 pessoas para compô-los.
Amigo de Lula, ele integrou o TCU de 2009 a 2020. Foi indicado para o tribunal pelo petista, então em seu segundo mandato. Na ocasião, o ex-ministro era um dos auxiliares do petista no Palácio do Planalto, no comando da Secretaria de Relações Institucionais.
Além da confiança de Lula, Múcio tem boa interlocução com partidos ?foi deputado quase 20 anos? e setores da máquina administrativa. Foi filiado ao antigo PFL, ao PSDB e ao PTB de Pernambuco. Presidiu o TCU entre 2019 e 2020, primeiros anos da gestão de Jair Bolsonaro (PL), e se aposentou antes do prazo compulsório, de 75 anos. Ele tinha 72 anos na ocasião.
Em dezembro de 2020, durante o 4º Fórum Nacional de Controle, evento que ocorreu via internet e contou com a participação do chefe do Executivo, Bolsonaro afirmou que Múcio, a que se referiu como amigo, tem comportamento conciliador e que busca consensos.
"Eu sou apaixonado por você, José Múcio. Gosto muito de Vossa Excelência", disse o presidente, que lamentou a aposentadoria precoce do então ministro, e afirmou que o ex-colega de Câmara seria bem-vindo se quisesse trabalhar no governo. Bolsonaro indicou o então ministro da Secretaria Geral da Presidência, Jorge Oliveira, para o lugar de Múcio.
A equipe da transição tem tratado com discrição os assuntos relacionados às Forças Armadas, para não aprofundar a crise na relação com os militares.
Na última semana, os comandantes da Marinha, Aeronáutica e Exército decidiram dar a Lula a possibilidade de antecipar a indicação dos oficiais-generais que devem comandar as Forças no início de seu governo.
O assunto foi discutido com Bolsonaro na última quinta-feira (24). No encontro, segundo relatos de militares, o presidente teria aceitado assinar o decreto com as mudanças ?sejam elas a nomeação dos indicados pela transição ou dos escolhidos internamente pelas Forças.
A ideia, revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo, seria nomear os novos indicados na última quinzena do ano.
O principal fiador da proposta é o comandante da FAB, Baptista Júnior. Ele determinou a auxiliares que organizem a passagem do comando para o dia 23 de dezembro. Não há indicação de data nas outras duas Forças.
A expectativa de oficiais-generais da Aeronáutica é que, caso a equipe de transição não antecipe as indicações, Baptista Júnior deixe o cargo para que o tenente-brigadeiro mais velho da ativa assuma temporariamente as funções.
Integrantes da transição consultados pela reportagem viram com estranheza a sugestão dos comandantes das Forças Armadas. No Exército, generais do Alto Comando avaliam que não há nenhuma mudança acertada até o momento, apesar da proposta apresentada aos aliados de Lula.
Um general afirmou, sob reserva, que a transição é assunto de governo e deveria envolver somente o Ministério da Defesa. As mudanças nas Forças Armadas, pela avaliação desse oficial, deveriam ocorrer após a posse ?como ocorreu em todos os governos desde a redemocratização.
A equipe de Lula decidiu não fazer mudanças bruscas nas Forças Armadas. Para isso, os nomes que devem ser escolhidos são de oficiais-generais com mais tempo de carreira.
No Exército, os principais cotados são os generais de Exército Tomás Miguel Paiva, Julio Cesar de Arruda e Valério Stumpf.
Na Marinha, são avaliados os nomes dos almirantes de Esquadra Aguiar Freire, Marcos Sampaio Olsen e Marcelo Francisco Campos. Na FAB, o principal cotado é o tenente-brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno.
A equipe de transição de Lula tem o desafio de arrefecer os ânimos em uma área que, sem precedente desde a redemocratização, entrou no centro do debate político.
Capitão da reserva, o mandatário transformou a sua relação com os militares em capital político. O presidente usou as Forças Armadas em sua estratégia para questionar a segurança e a eficiência do sistema eletrônico de votação.
Após a derrota de Bolsonaro, os quartéis do Exército se tornaram local de peregrinação e de manifestações de seus apoiadores, com pedidos de intervenção federal.
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