BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entrou de vez em campo para articular a formação da base de partidos que dará sustentação ao seu governo na Câmara e no Senado.

Na noite de segunda-feira (28), o petista se reuniu com representantes do MDB e, nesta terça (29), com líderes da União Brasil. Nos encontros, Lula convidou ambas as siglas para fazerem parte de sua base no Congresso. Ele também acrescentou que quer que o PSD faça parte do grupo.

O presidente eleito deve se reunir com o PSD ainda nesta terça para tratar do tema. Se confirmada a aliança, esses partidos se somariam às principais legendas que integraram a coligação de Lula nas eleições: Rede, PV, PSB e PC do B.

Segundo aliados, a prioridade número um do presidente eleito é articular a formação de blocos no Congresso e garantir a aprovação da PEC da Transição em ambas as casas em dezembro. Em outra frente, o presidente eleito já arma o time que defenderá suas propostas no Parlamento.

Senadores, sobretudo, esperavam esse gesto por parte do presidente eleito para destravar a negociação da PEC. Num analogia, diziam que era preciso que o dono da bola a colocasse em campo para conseguir negociar, numa referência à necessidade de Lula chamá-los a contribuir e fazer parte do governo.

Nas reuniões desta semana não foram discutidos espaços em ministérios, mas a expectativa de integrantes dos partidos cobiçados é que esse seja um dos temas dos próximos encontros.

Lula deverá ter ainda esta semana encontros com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Pessoas próximas de Lula dizem que é importante para o governo eleito conseguir garantir a aprovação de uma proposta que abra espaço robusto para investimentos, além de assegurar a manutenção do pagamento de R$ 600 do Auxílio Brasil --que voltará a se chamar Bolsa Família-- e outros programas.

Caso consiga a aprovação da PEC, o petista largaria numa situação orçamentária mais confortável, o que o tornaria menos refém do Congresso.

Do lado petista, têm participado dos encontros o senador Jaques Wagner (PT-BA), a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o deputado José Guimarães (PT-CE), além do ex-prefeito Fernando Haddad (PT-SP), cotado para chefiar o Ministério da Fazenda.

Para formar a base, Lula quer que os partidos integrem blocos formais no Senado e na Câmara. No Senado, o cenário é mais fácil de se concretizar, já que Rodrigo Pacheco tem dialogado bem com o PT desde antes da eleição e não se opõe a essa configuração.

Além disso, o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), tem sinalizado querer ocupar a liderança do governo no Senado ou pavimentar o caminho para suceder Pacheco no comando da Casa legislativa.

Já o MDB tende a ser o partido mais próximo de Lula entre os três que estão sendo cobiçados. Terceira colocada na eleição presidencial, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) teve papel central no segundo turno do pleito e é cotada para assumir um ministério.

Na Câmara, a perspectiva é mais nebulosa. PSD, União Brasil e MDB vão apoiar a reeleição de Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Casa, assim como o PT. Os três partidos, no entanto, têm negociado ingressar no bloco de Lira para angariar espaços na mesa diretora.

Até agora, o MDB foi o único que sinalizou topar ingressar agora num bloco com o PT voltado a formar a base, mas também voltado a eleger Lira. As outras duas legendas têm resistências a se juntar ao PT neste momento.

De acordo com pessoas que acompanham as negociações, Gleisi convidou a União Brasil a integrar o bloco na Câmara durante uma reunião com Alcolumbre e o líder do partido na Casa, deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA) --mas abriu a possibilidade de isso ocorrer formalmente somente após a eleição de Lira.

A avaliação tanto de petistas como de integrantes de partidos aliados é que houve erros na condução da articulação da PEC da Transição, que acabaram por fortalecer Lira e Pacheco antes mesmo de Lula tomar posse.

A leitura é que houve uma antecipação no processo de escolha dos presidentes das Casas, algo que só deveria ocorrer após a formação do bloco da base do governo --que está sendo costurada agora.


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