BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Uma mobilização de alguns militares da ativa na coleta de assinaturas de uma carta apócrifa com recados contra o Poder Judiciário e a favor dos atos antidemocráticos em quartéis causou desconforto no Alto Comando do Exército, que discute possíveis reações contra signatários do documento.

O tema vem sendo tratado por oficiais-generais desde segunda-feira (28) e foi abordado na reunião do Alto Comando do Exército nesta terça (29).

A avaliação da maioria do generalato, segundo relatos feitos à reportagem, é que o documento apócrifo, com a maioria das assinaturas de oficiais da reserva, não representa de forma fidedigna o pensamento majoritário hoje na tropa.

Comandantes falam ainda em possível abertura de processos administrativos por transgressão disciplinar contra militares da ativa que assinarem o texto.

O texto apócrifo passou a circular em grupos de WhatsApp na segunda. Coronéis consultados pela reportagem contam ter sido abordados por colegas de farda para pedir apoio à carta.

A Folha de S.Paulo teve acesso ao texto que circula em grupos de WhatsApp e é intitulado "carta dos oficiais da ativa ao Comando do Exército". Ele tem recebido assinaturas virtuais, inclusive de civis, e não é possível saber quantos militares da ativa de fato o endossaram.

Na carta, o autor anônimo diz que os militares da ativa subscritos prezam pela "legalidade, liberdade e transparência" e --num recado ao Judiciário-- afirma que nenhum Poder pode se colocar "acima da lei e da ordem democrática".

O documento ainda é entendido como uma provocação aos generais do Alto Comando do Exército, alvo de críticas de bolsonaristas, por dizer que os soldados colocam os objetivos nacionais em primeiro lugar, "desprezando quaisquer interesses pessoais".

A Folha de S.Paulo questionou o Exército se serão tomadas medidas contra os militares da ativa que subscrevem a carta, mas ainda não recebeu resposta.

A movimentação de coleta de assinaturas entre os militares da ativa se iniciou após oficiais da reserva divulgarem, no fim de semana, uma carta aberta aos comandantes das Forças Armadas dizendo que há desconfiança com o resultado das eleições.

"É natural e justificável que o povo brasileiro esteja se sentindo indefeso, intimidado, de mãos atadas e busque nas FFAA [Forças Armadas], os 'reais guardiões' de nossa Constituição, o amparo para suas preocupações e solução para suas angústias", diz trecho.

O texto ainda pede que os comandantes apoiem ações para o "imediato restabelecimento da lei e da ordem, preservando qualquer cidadão brasileiro a liberdade individual de expressar ideias e opiniões".

As movimentações ocorrem enquanto os 16 generais do Alto Comando do Exército se reúnem, em Brasília, para discutir assuntos administrativos. O encontro já estava previsto na agenda e ocorre periodicamente.

A expectativa de generais ouvidos pela reportagem é que sejam levantados temas relacionados às manifestações antidemocráticas nos quartéis, à movimentação dos oficiais da ativa e à possível antecipação da passagem de comando do Exército.

A reunião começou na manhã desta terça e deve se encerrar na noite de quarta (30).

A área da Defesa é considerada pelo governo eleito como uma das mais sensíveis. A situação é agravada pelas manifestações antidemocráticas em frente a quartéis e por recentes manifestações de oficiais simpatizando com o movimento.

Diante disso, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu antecipar a transição. Ele deve anunciar na próxima semana quem será seu ministro da Defesa e os novos comandantes das três Forças.

O ex-presidente do TCU (Tribunal de Contas da União) José Múcio Monteiro é o principal cotado para o comando do Ministério da Defesa.


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