BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - A vitória folgada em primeiro turno na disputa pela reeleição em Minas Gerais não deu ao governador Romeu Zema (Novo), ao contrário do que poderia se esperar, tranquilidade para a construção de uma maioria ampla na Assembleia Legislativa.

Depois de passar quatro anos transitando em terreno hostil na relação com a Casa, o governo quer ter ao seu lado número de deputados que ultrapasse 48, de um total de 77. Isso abriria a possibilidade de aprovação até mesmo de PECs (propostas de emendas constitucionais), textos que exigem o quórum mais alto entre todos os projetos que podem ser apresentados ao Poder Legislativo.

Até o momento, porém, as negociações apontam para 32 aliados de Zema no parlamento.

O governo evita citar os partidos que já contabiliza como aliados para o segundo mandato. Na Assembleia, porém, a movimentação aponta que, até agora, o governo Zema repetirá o apoio dos partidos do atual bloco governista.

O bloco tem nove partidos e 17 deputados. Fazem parte o Avante, União Brasil, PSC, PSDB, Novo, PMN, Solidariedade, PP, Pode. Essas legendas, juntas, elegeram 23 parlamentares em outubro. Chega-se a 32 com o apoio do PL, que terá uma bancada de nove deputados.

A manutenção da sustentação do bloco e a aliança com o PL foram confirmadas pelo deputado Leo Portela (PL).

O cenário é melhor que no primeiro ano de mandato de Zema, em 2019, mas ainda insuficiente para as intenções do governador em relação ao seu segundo mandato. No primeiro ano à frente do Palácio Tiradentes, Zema contava com o apoio de bloco governista formado por 21 parlamentares, o que se manteve nos anos seguintes.

Com a base vislumbrada na movimentação da Assembleia até o momento, Zema conseguiria aprovar em seu segundo mandato apenas, e dependendo do quórum do dia, projetos de lei, textos que exigem apenas maioria simples dos presentes.

O governo teria problemas, por exemplo, para aprovar um PLC (projeto de lei complementar), que precisa ser aceito por 39 dos 77 parlamentares, permanecendo longe, portanto, de sua meta de ver passar na Casa uma PEC.

Depende de uma proposta de emenda constitucional, por exemplo, a privatização da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), que Zema afirma querer vender desde o início de seu mandato. A vontade permanece.

"Surpresa teria se o governador retrocedesse nessa visão", afirma o secretário de governo de Minas Gerais, Igor Eto, responsável pela articulação com a Assembleia Legislativa, deixando claro que Zema busca uma maioria que comporte seus planos de governo.

HISTÓRICO

Não bastasse a base restrita em seu primeiro mandato, desde fevereiro de 2019 comanda a Casa o deputado estadual Agostinho Patrus (PSD), aliado do ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), derrotado por Zema na disputa pelo Palácio Tiradentes. O governador bateu o rival no primeiro turno por 56,18% a 35,08% dos votos válidos.

Zema não conseguiu aprovar em seu primeiro mandato, por exemplo, projeto que previa a privatização da Codemig (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais). O texto foi enviado à Casa em 2019 e também precisava de 48 votos.

Patrus e Zema chegaram a bater boca várias vezes pelas redes sociais. Em julho, o governador disse que o presidente da Assembleia tinha "projeto pessoal de poder".

Por sua vez, Patrus afirmou que Zema governava para os ricos. Sobre Patrus, o deputado não estará mais na Casa no segundo mandato de Zema. O parlamentar foi indicado a vaga para o TCE (Tribunal de Contas do Estado).

O principal problema de Zema agora é saber quem mais topará estar ao seu lado, além dos 32 considerados encaminhados para integrar a base do governo na Casa. O deputado estadual Alencar da Silveira Júnior (PDT) diz que, assim como ocorreu até aqui, a Assembleia terá três blocos.

Um de aliados, outro de oposição e o chamado independente, que é de onde podem sair mais votos para o governo.

"Vamos construir o bloco independente. Daremos apoio no que precisar, e o que for ruim para o estado, nós seremos contra", diz Alencar, que já integra o atual bloco independente. O parlamentar afirma haver disposição de ajudar o governo.

O PT, que faz e continuará fazendo oposição ao governador, aumentou a bancada de 10 para 12 deputados na eleição de outubro, se transformando na maior da Casa. Rede, PSB, PC do B, que, ao lado do PT, participam atualmente de bloco contrário a Zema, terão, juntos, quatro deputados na próxima legislatura. O PSD de Kalil, que tem dez parlamentares, começa o próximo mandato do governador com nove.

Sem citar bancadas que podem ser pró e contra Zema a partir do ano que vem, o secretário Igor Eto, afirma que o próximo mandato do governador será com maior apoio na Assembleia por conta de um "amadurecimento político".

O auxiliar de Zema nega a possibilidade de entregar secretarias a parlamentares ou seus aliados para conseguir alianças com a Assembleia. "Não é do perfil de Zema nem do parlamento", afirma.

O secretário fez um balanço da relação com a Assembleia. "Nos últimos quatro anos estávamos no primeiro mandato de vida política e tivemos que amadurecer muito", avalia Eto.

"A expectativa é nesse segundo mandato ter uma aproximação maior, uma convergência maior com a Casa, visando a paz", diz o auxiliar de Zema. "Perdemos muita energia nos últimos quatro anos com brigas políticas e deixamos de focar nas pautas importantes para o nosso povo."


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