BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Enquanto os nomes que irão compor o governo não são anunciados, aliados do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disputam nos bastidores espaço na composição da futura Esplanada dos Ministérios.
A resolução desses conflitos, que incluem o comando do futuro ministério da Fazenda e da pasta do Meio Ambiente, é o primeiro desafio que Lula e seu núcleo duro precisam enfrentar. Caso não solucionados a contento, eles poderão dificultar o início do governo petista.
Também estão sendo pleiteadas outras áreas, como as de Justiça, Trabalho, Cidades, Agricultura, Saúde e Educação e a Advocacia-Geral da União.
Uma das principais e mais comentadas disputas dentro da transição é pela Fazenda, pasta que será recriada com o fim do superministério da Economia do governo de Jair Bolsonaro (PL).
Visto como principal devido à delicada situação econômica do país, o posto é disputado por dois petistas: o ex-prefeito Fernando Haddad e o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha.
A corrida pelo cargo, dizem aliados, foi escancarada pela foto de um almoço promovido pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos). Escalado por Lula como seu representante, Haddad teve que dividir a mesa com Padilha, convidado pela diretoria da entidade.
O convite feito pela Febraban a Padilha e a divisão do espaço, dizem petistas, mostram como o ex-ministro da Saúde é o preferido fora do núcleo duro, enquanto Haddad é o nome de Lula e de seus aliados mais próximos.
Nos últimos dias, Haddad subiu na bolsa de apostas para a Fazenda, e Padilha passou a crescer como nome para a articulação política do governo.
Há embate também pelo comando do Ministério do Meio Ambiente, onde a disputa é de tal nível que o grupo de transição destinado à área vive impasses e brigas, o que adia anúncios sobre o setor.
As postulantes ao comando da pasta são as ex-ministras Marina Silva (Rede-SP) e Izabella Teixeira (PT). Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que integrou a coordenação da campanha, corre por fora.
Enquanto parcela do PT tem resistência a Marina, em parte pela forma como ela deixou o segundo governo Lula, em 2008, Izabella Teixeira não é bem vista por pessoas próximas ao ministério em razão de sua gestão à frente da pasta durante os governos de Dilma Rousseff (PT).
O embate entre elas passa também pela prometida autoridade da emergência climática, idealizada como uma espécie de órgão para negociações diplomáticas sobre o tema.
Marina defende que a autoridade seja subordinada ao Ministério do Meio Ambiente, para o qual está cotada --esboço que não agrada, por exemplo, o Itamaraty. Izabella Teixeira, por sua vez, entende que a estrutura deva ficar a cargo da Presidência.
"No grupo, este eventual problema não está aparecendo, a Izabella e a Marina têm colaborado, há um espírito de colaboração", disse o coordenador do grupo de transição do meio ambiente, o ex-senador Jorge Viana.
"Se tivermos duas propostas [para a autoridade climática], vamos propor as duas [para o Lula]", completou.
Também no grupo que trata de temas ligados à segurança pública há divergência.
Eleito senador e cotado para o comando do Ministério da Justiça, Flávio Dino (PSB-MA) defende que os temas ligados a segurança e polícias, inclusive a Polícia Federal, fiquem debaixo do guarda-chuva da pasta. Assim, ele assumirá um ministério empoderado.
Coordenador do grupo Prerrogativas, o advogado Marco Aurélio de Carvalho, por outro lado, chegou a atuar como porta-voz daqueles que recomendam o desmembramento da pasta, o que possibilitaria a criação de um Ministério da Segurança Pública.
Outro que participa do grupo, também apontado como postulante ao cargo, é o advogado Cristiano Zanin, que atuou na defesa jurídica de Lula na Laja Jato.
Esse movimento, contudo, perdeu força, e os argumentos de Dino deverão prevalecer. Zanin, por sua vez, tem sido cotado para a Secretária de Assuntos Jurídicos do governo.
Na Educação, um dos nomes cotados desde o início das discussões é o da governadora do Ceará, Izolda Cela (PDT). Dentro do PT, entretanto, há quem tenha restrição a Izolda e patrocine uma ofensiva com nomes como de Ricardo Henriques, especialista da área de educação atualmente ligado ao Instituto Unibanco.
No caso da AGU, como mostrou a Folha, os mais cotados para o cargo são Jorge Messias, que foi assessor da ex-presidente Dilma e é procurador da Fazenda Nacional; Luiz Fernando Bandeira de Mello Filho, integrante do CNJ (Conselho Nacional de Justiça); e Anderson Pomini, advogado eleitoral próximo ao vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB). Nos bastidores, Messias é apontado como preferido.
Há também disputa para o posto de chefia do Ministério do Trabalho, que deve ser recriado sob Lula.
Enquanto a cúpula do PC do B pleiteia o cargo, com a possível indicação de Luciana Santos, presidente da sigla, dirigentes da Força Sindical e da CUT têm trabalhado pela escolha de um sindicalista afinado com essas centrais. Um dos nomes é do Arthur Henrique, ex-presidente da CUT.
Outra pasta a ser recriada, o Ministério da Cidades é cobiçado pelo próprio PT, pelo deputado federal eleito Guilherme Boulos (PSOL-SP) e pelo ex-governador de São Paulo Márcio França (PSB). Segundo relatos de integrantes da transição, atualmente o pessebista figura como favorito.
Visto como sensível por causa dos desdobramentos da pandemia, a pasta da Saúde tem o ex-ministro Arthur Chioro como nome defendido por alguns petistas.
A atual presidente da Fundação Oswaldo Cruz, Nisia Trindade Lima, porém, tem sido citada como nome forte para a função.
Na Agricultura, onde Lula busca melhorar o apoio junto a ruralistas em sua maioria bolsonaristas, há ao menos dois nomes com chances: o deputado federal Neri Geller (PP-MT) e o senador Carlos Fávaro (PSD-MT).
Geller é ex-ministro de Dilma e Fávaro é integrante do PSD, que negocia a adesão a base do governo com seu presidente Gilberto Kassab (PSD).
Além dos embates por postos de comando das principais pastas, há também disputa entre partidos da futura base de Lula por espaço no governo.
Integrantes do PSB e MDB cobram espaço no governo com o argumento de que Dino e Simone Tebet (MDB) não são da ala majoritária das respectivas siglas e, portanto, não seriam considerados como nomes indicados pelos partidos.
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