SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A defesa pública feita pela deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) de que seu partido não componha o governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) gerou ruídos e divergências entre correligionários nesta segunda-feira (5).

Em entrevista à coluna, a líder do PSOL na Câmara dos Deputados afirmou que a opção pela independência já reúne maioria dentro do partido e pode vir a prevalecer no próximo dia 17, quando o Diretório Nacional da sigla se reunirá para tomar uma decisão.

Filiados favoráveis à proposta afirmam que ela seria uma forma de preservar a identidade do PSOL e a defesa de pautas que não devem ser encampadas pela gestão petista. Já seus opositores dizem ser possível disputar espaço e agendas mesmo integrando a base do governo.

Citada por Sâmia Bomfim como uma das parlamentares que defenderiam a independência do PSOL em relação a Lula, a deputada federal Talíria Petrone (RJ) rechaça a hipótese e diz que é a favor de que a sigla participe da base do governo na Câmara, mas sem ocupar cargos no Executivo.

"Estamos entre aqueles que defenderam que o PSOL apoiasse a candidatura de Lula desde o primeiro turno. Com o fascismo não se brinca", afirma Talíria, em nota enviada à coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, e assinada conjuntamente com os deputados eleitos Henrique Vieira e Tarcísio Motta, do Rio de Janeiro.

"O PSOL seguirá na linha de frente da instalação do novo governo e pela aprovação das medidas populares que o povo brasileiro elegeu. Assim, daremos nossa melhor contribuição para o Brasil: sustentando o governo Lula contra a extrema direita e sendo voz firme diante de qualquer ameaça de retrocesso", continuam.

A vereadora e deputada federal eleita Erika Hilton (SP) também nega compartilhar da visão de Sâmia e diz que uma decisão será tomada apenas no próximo dia 17, "após extenso debate democrático nas instâncias partidárias". Diferentemente de Talíria, ela não se opõe a ocupar cargos no governo federal.

"Ao contrário do que a deputada Sâmia Bomfim fez parecer em suas declarações para essa coluna, essa posição não está fechada no partido, e tampouco faço parte daqueles que acham que, caso sejam convidados, figuras do PSOL não possam fazer parte do governo, por princípio, sem discutir caso a caso", afirma Hilton, em nota.

"O PSOL tem a responsabilidade de defender o governo Lula contra qualquer tipo de golpismo e não fará oposição ao governo. Temos legitimidade popular para ocupar eventuais espaços, por sermos referência nacional em diversas agendas progressistas encampadas na campanha que derrotou Bolsonaro", segue.

"Várias dessas agendas, inclusive, podem ser massificadas com a presença do PSOL nesses espaços, tensionando o debate político à esquerda", finaliza.

Também citada por Sâmia como um dos nomes que deve defender que o PSOL não venha a compor o governo Lula, a deputada federal Fernanda Melchionna (RS), por sua vez, endossa a posição da colega. "Assino embaixo", diz ela.

"É fundamental ter claro que independência significa ser e manter a força e a firmeza do PSOL, que foi tão importante no enfrentamento da extrema direta e do fisiologismo. É apoiar medidas a favor dos trabalhadores, mas não entrar nesse [jogo do] centrão ideológico e ter forças para lutar por um programa que precisa ser feito no Brasil", diz Melchionna.

A deputada do Rio Grande do Sul critica, por exemplo, o fato de o PT não pautar a revisão do teto de gastos durante a tramitação da PEC da Transição e de apoiar abertamente a reeleição de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara, mesmo após ele ter dado sustentação para o governo de Jair Bolsonaro (PL).

"Se tu integra governo, tu integra governo. Vai ter que acompanhar as posições políticas e vai ter que fazer parte do governo, seja na defesa do [José] Múcio [Monteiro, cotado para a pasta da Defesa] ou no apoio ao Lira. A independência, ao contrário, nos permite apoiar tudo de bom que vier do governo, mas ter independência para não ser adesista", afirma a parlamentar.

Assim como Sâmia, ela afirma que deixar de compor o governo não significa se unir à oposição, que passará a ser integrada também por bolsonaristas na próxima legislatura, mas poder levantar determinadas "bandeiras políticas".

"Nós sabemos que 2023 não é 2003, quando o PSOL foi fundado. Em 2023, temos uma extrema direita organizada, e nós vamos estar na batalha. Não é uma posição de oposição porque nós não estamos com bolsonaristas", diz Melchionna.

Já o deputado eleito Guilherme Boulos (SP) refuta a tese da independência. "Quem vai fazer oposição ao Lula é o bolsonarismo, e não estaremos ao lado deles. O momento do país é outro. Enfrentamos uma oposição raivosa. E não dá para brincar com isso", disse à reportagem.

"O governo será de frente ampla, e nós temos que disputar internamente espaços para puxar a agenda do país para a esquerda", afirmou ainda o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).

O presidente do PSOL, Juliano Medeiros, foi às redes sociais após a publicação das declarações de Sâmia. "Aqui não existe 'fato consumado'. Estou certo de que o PSOL não virará as costas para Lula e para o governo que ajudou a eleger. Vamos ajudar a reconstruir o Brasil", escreveu o dirigente.


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