BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O depoimento do ex-comandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal Fabio Augusto Vieira, preso após os atos de depredação na praça dos Três Poderes, colocou um outro oficial da corporação, o coronel Jorge Eduardo Naime, no foco das apurações da Polícia Federal.

Interrogado na quinta-feira (12), Vieira afirmou ter encontrado o colega durante o quebra-quebra por volta das 18h do domingo, 8 de janeiro, apesar de Naime estar de férias naquela data. Segundo a versão do ex-comandante-geral da PM, o coronel disse que foi ao local para ajudar.

Naime foi exonerado do posto de comandante de operações da PM por causa das invasões ao Congresso, ao STF (Supremo Tribunal Federal) e ao Palácio do Planalto.

Advogado do coronel, Gustavo Mascarenhas disse à Folha que o policial militar iniciou o período de licença recompensa em 3 de janeiro com previsão de término para o dia 8.

Afirmou que Naime estava fora de Brasília e que antecipou o retorno à cidade por solicitação do Palácio do Buriti e do então subcomandante-geral da PM, coronel Klepter Rosa, para que fizesse parte da operação em andamento para conter os golpistas na Esplanada dos Ministérios.

De acordo com Mascarenhas, Naime compareceu ao local por volta das 18h, visando colaborar no restabelecimento da ordem. Desde o momento que passou a coordenar a operação, disse o advogado, seu cliente seguiu com o protocolo de esvaziamento dos prédios públicos.

"O coronel Naime, desde que chegou ao palco dos eventos, coordenou a operação, visando minorar o dano. Agiu conforme a técnica e a lei. Realizou todas as prisões ao alcance da quantidade de tropas e condições materiais com as quais contava no momento, procurando sempre assegurar a segurança de todos -civis e militares--, na medida do possível", disse a defesa, em nota.

Naime assumiu em abril de 2021 a chefia do Departamento Operacional da PM. Ocupa também o posto de presidente da Asof-PMDF (Associação dos Oficiais da Polícia Militar do DF).

Em seu depoimento à PF, o ex-comandante-geral disse que o Batalhão de Choque foi acionado e estava no local desde antes do ataque e do cerco. "Havia Batalhão de Choque e ROTAM na via S1 e na via N1 [avenidas que cortam a Esplanada dos Ministérios], atrás do Itamaraty, além da cavalaria", disse.

Como a Folha mostrou, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal finalizou na última sexta-feira (6) o protocolo de ações integradas para os atos golpistas de domingo (8). O plano previa o uso da tropa de choque para conter distúrbios e reforço do efetivo policial nas áreas próximas às sedes dos três Poderes.

O plano de segurança ainda previa que a Polícia Militar deveria estar preparada para "empregar tropa especializada em controle de distúrbio, no caso de perturbação da ordem".

A PM tem sido criticada por colocar baixo efetivo na Esplanada dos Ministérios, sem equipes da tropa de choque prontas para debelar as manifestações.

Em sua defesa no STF, o governador afastado Ibaneis Rocha (MDB) afirmou que o plano de segurança foi sabotado e que isso permitiu a invasão dos golpistas às sedes dos Três Poderes.

"O fato é que, em algum momento, no plano da execução, o protocolo previamente estabelecido foi inusualmente descumprido, permitindo ou facilitando os inacreditáveis e irremissíveis atos de violências praticados contra os Poderes da República e contra o Estado democrático de Direito", diz o documento, assinado por uma equipe de advogados comandada por Alberto Toron.


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