BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Integrantes de partidos que formam a atual base de apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmam haver conversas com parlamentares da oposição, em especial do PL de Jair Bolsonaro, para adesão ao governo nos primeiros meses da atual gestão.

O movimento, dizem aliados de Lula, já ocorria antes dos atos golpistas protagonizados por bolsonaristas no dia 8 e é condizente com a tradição observada no mundo político em início de gestão.

No Senado não há amarras para parlamentares mudarem de partido, caso queiram. Na Câmara, é preciso entrar em acordo com a legenda ou esperar janela partidária para trocar de sigla, algo que só vai ocorrer em 2026, ou então conseguir aval da Justiça.

Segundo governistas, um grupo de parlamentares pode recorrer a essa última opção argumentando que houve desvio do programa partidário do PL, presidido por Valdemar Costa Neto, ao questionar o resultado das urnas.

O PL saiu das eleições de 2022 como maior bancada do Senado -com 14 senadores- e da Câmara -com 99 deputados. Parte considerável desse sucesso nas urnas se deve ao fato de o partido ter apostado na imagem de Bolsonaro para alavancar sua força no Congresso.

O grupo, porém, se divide entre os "bolsonaristas raiz", ligados ao ex-presidente e com baixíssima probabilidade de conversas com o governo, e o "centrão raiz", que já se aliou do PSDB de Fernando Henrique a Bolsonaro, passando pelo PT de Lula.

É esse o grupo alvo do atual governo, que busca isolar o bolsonarismo no Congresso.

Além de aliados de Lula, a reportagem conversou reservadamente com integrantes do PL. Alguns negaram as conversas para adesão a Lula, outros confirmaram que elas existem.

Um ponto ressaltado por congressistas que dizem participar das negociações é o de que alguns parlamentares do PL afirmam que antes de uma adesão formal precisam passar por uma espécie de quarentena com seu eleitorado, majoritariamente antipetista.

Esse período seria necessário para a modulação do discurso e avaliação do terreno -uma decisão final envolve não só a relação Congresso-Executivo, mas as realidades eleitorais locais.

Nesse contexto, não haveria, entretanto, grandes entraves quanto a votar junto com o governo em pautas econômicas. Em temas da chamada pauta de costumes, os parlamentares manteriam posicionamento fiel ao de sua base de eleitores. Até porque Lula e seus aliados não têm indicado intenção de mexer com esses temas tão cedo.

Os atos golpistas de 8 de janeiro levaram ao realinhamento de algumas expectativas políticas no Congresso. No cenário traçado por alguns sob reserva, há risco inclusive para as eleições municipais de 2024, nas quais o PL espera conquistar mais prefeituras ainda sob efeito Bolsonaro.

Além do questionamento do resultado das urnas, o PL vive atualmente outro problema interno com os ataques ao Palácio do Planalto e aos prédios do STF (Supremo Tribunal Federal) e do Congresso.

Os deputados bolsonaristas recém-diplomados André Fernandes (PL-CE) e Silvia Waiãpi (PL-AP), além de Clarissa Tércio (PP-PE), se tornaram alvo da PGR (Procuradoria-Geral da República) por incitarem os atos golpistas.

Em 22 de novembro, Valdemar anunciou uma ação no TSE pedindo para serem desconsiderados votos de urnas eletrônicas consideradas "comprometidas". O presidente do partido pautou a queixa em aparelhos usados no segundo turno, apesar de os mesmos equipamentos terem sido usados no primeiro turno.

O presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, determinou que o questionamento contemplasse também o primeiro turno, mas o PL inicialmente desconsiderou a decisão e manteve a contestação apenas sobre o segundo turno.

Moraes, então, multou em quase R$ 23 milhões a coligação de Bolsonaro -posteriormente, o ministro excluiu PP e Republicanos da ação e concentrou a penalidade no PL.

Uma saída de parlamentares do PL tende a beneficiar siglas da centro-direita hoje sob a órbita lulista, como o PSD de Gilberto Kassab e a União Brasil de Luciano Bivar, assim como siglas menores, como o Solidariedade.

Como os partidos de esquerda somam apenas cerca de 25% da Câmara e do Senado eleitos, Lula distribuiu nove ministérios a PSD, MDB e União Brasil para tentar ter uma base mais ampla no Congresso.

Na União Brasil, há ainda forte resistência interna a aderir ao Palácio do Planalto, sob o argumento de que os ministros escolhidos atendem muito mais aos interesses do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) do que ao partido como um todo.

Mesmo que todas essas siglas votem unidas com o governo, Lula precisará ainda contar com o apoio de integrantes do centrão, formado por PL, PP e Republicanos, para ter uma base realmente sólida, ou seja, que dê uma margem de folga para, por exemplo, aprovar emendas à Constituição (que precisa do apoio de ao menos 60% dos deputados e senadores).

O novo Congresso toma posse em 1º de fevereiro, ocasião em que ocorrem as eleições para os comandos das duas Casas. Arthur Lira (PP-AL), na Câmara, e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), no Senado, são candidatos à reeleição e seguem favoritos a ficar mais dois anos nas respectivas funções.


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