BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ex-número 2 da Segurança Pública do Distrito Federal Fernando de Sousa Oliveira afirmou à Polícia Federal que Anderson Torres deixou o país sem lhe repassar "diretriz" nem lhe apresentar aos comandantes das forças policiais e ao governador Ibaneis Rocha (MDB).
Ele disse que não tomou conhecimento, por exemplo, do plano operacional da Polícia Militar para as manifestações que ocorreriam nos dias 6, 7 e 8 deste mês.
Então secretário-executivo na SSP-DF, Oliveira afirmou que o órgão estava sob a responsabilidade de Torres no dia dos ataques às sedes dos Três Poderes, já que as férias começavam oficialmente no dia 9, e que "diante da ausência do titular da pasta, secretário Anderson, achou por bem acionar o gabinete de crise com a convocação de todos os comandantes" das forças locais, deslocamento de tropas para o centro da cidade e recrutamento de policiais de folga.
Torres viajou de férias para os Estados Unidos no dia 7, véspera dos atos golpistas promovidos por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Está preso desde que retornou ao Brasil, no sábado (14), por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Procurado pela reportagem, o advogado Rodrigo Roca, que atua na defesa do ex-titular da SSP-DF, informou que os esclarecimentos serão dados por ocasião das declarações de seu cliente às autoridades. Na primeira tentativa de ouvi-lo, também nesta quarta, Torres ficou em silêncio.
Oliveira disse que no dia 5, Torres o avisou que iria viajar no fim de semana e que deixaria o planejamento aprovado, providência adotada no dia seguinte.
Por volta do meio-dia do sábado (7), afirmou o ex-número 2 da SSP-DF, Torres lhe enviou mensagem para que entrasse em contato com Ibaneis Rocha. Segundo o depoimento, o governador determinou que ele recebesse representantes do Ministério da Justiça para uma reunião.
No encontro teria ficado estabelecido que a Força Nacional seria responsável pela segurança do Palácio da Justiça e da sede da Polícia Federal, e que as demais áreas seriam cobertas pelas forças locais e demais instituições conforme plano original aprovado no plano de ação.
"Durante o monitoramento de inteligência da madrugada do dia 7 para 8, as forças de segurança não reportaram nenhum movimento atípico até as 13:00 do domingo, inclusive com imagens de poucas pessoas na Esplanada dos Ministérios", disse Oliveira.
Com relação aos informes de inteligência, o ex-secretário-executivo disse que os recebia por meio de grupos WhatsApp denominados "Difusão" e "Perímetro".
Esses grupos eram responsáveis por subsidiar e difundir as informações de inteligência em tempo real, mas que chegaram poucas informações sobre "radicais, sendo sua grande maioria advinda de rede social e não de acompanhamento in loco realizado por policiais de inteligência"
Além dele, no grupo "Difusão" estavam, entre outras autoridades, Torres e o ex-comandante-geral da PM Fábio Augusto Vieira, também preso por ordem de Moraes.
Segundo Oliveira, as informações de inteligência apontavam que o ambiente estava controlado e tranquilo. Ele citou os termos que constavam dos grupos: "Ânimos pacíficos", "Situação tranquila e sem alteração", "Normalidade", "Tudo normal", "Policiamento reforçado".
O ex-secretário destacou que o relatório de inteligência da SSP/DF, cujo teor foi revelado pela Folha de S.Paulo, apesar de indicar possível manifestação com ânimos exaltados, não havia confirmação concreta por parte da inteligência sobre se a manifestação ocorreria e em quais proporções.
Questionado sobre a declarações de Ibaneis de que teria ocorrido uma "sabotagem" no plano de segurança, Oliveira disse acreditar que houve erro na execução por parte da PM. O governador do DF por afastado das funções por 90 dias por determinação de Moraes.
"O planejamento ostensivo e preventivo era de responsabilidade da PM/DF, e nele devendo constar quantitativo do efetivo policial, equipamentos, viaturas e tropas especializadas a serem utilizadas no teatro operacional", afirmou.
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