WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Em seu primeiro evento público desde que deixou o Brasil e foi para os Estados Unidos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que o novo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) "não vai durar muito tempo", disse que houve injustiça nos processos dos ataques em Brasília em 8 de janeiro e afirmou que permanecerá no país por mais tempo.
Bolsonaro falou com apoiadores nesta terça-feira (31) em um centro de eventos em Orlando, em evento organizado pelo grupo Yes Brazil USA. Os ingressos foram vendidos por valores entre US$ 10 (entrada comum) e US$ 50 (entrada VIP).
"Pode ter certeza, em pouco tempo teremos notícias. Por si só, se esse governo [Lula] continuar na linha que demonstrou nesses primeiros 30 dias, não vai durar muito tempo", disse, sem deixar claro se estava se referindo a um eventual processo de impeachment, por exemplo.
Bolsonaro é alvo de diferentes ações que pedem a sua inegibilidade por abuso de poder nas eleições e também está mira de apurações sobre os ataques de 8 de janeiro como tendo sido o seu principal incentivador por causa de suas inúmeras declarações golpistas.
O ex-presidente criticou os autores dos ataques às sedes dos três Poderes em Brasília, mas afirmou que houve injustiças. "A gente lamenta o que alguns inconsequentes fizeram no 8 de janeiro. Aquilo não é a nossa direita. Não é o nosso povo", disse, antes de fazer a ressalva.
"[Tem] muita gente sendo injustiçada lá. Aquilo não é terrorismo pela nossa legislação. Tem gente que tem que sim ser individualizada, invasão, depredação, e cada um que pague por aquilo que fez."
Bolsonaro não falou abertamente que acredita em fraude na eleição, como já fez inúmeras vezes, mas disse ter dúvidas do resultado de outubro passado, novamente sem apresentar provas ou qualquer indício a respeito.
"Eu nunca fui tão popular [como] no ano passado. Muito superior a 2018. No final das contas, a gente fica com uma interrogação na cabeça", disse sobre a derrota para Lula por margem de 2,1 milhões de votos.
O ex-mandatário pediu um visto de turista para permanecer mais tempo nos Estados Unidos, onde está desde o fim do ano passado, segundo seus advogados.
Ele afirmou nesta terça que vai ficar mais tempo no país. "Estou há 30 dias aqui, pretendo ficar por mais algum tempo. Não tenho certeza quanto tempo ainda. Estou com muita saudades do meu país", disse.
Na plateia estava presente o blogueiro Allan dos Santos, foragido da Justiça brasileira desde 2021.
Bolsonaro se dirigiu diretamente a ele em um momento do discurso. "Eu tenho encontrado com o quê, Allan dos Santos? Vários brasileiros que querem voltar para o Brasil, mas estão temerosos com a sua liberdade lá em nosso país", disse.
Bolsonaro ainda defendeu a eleição de seu aliado Rogério Marinho (PL-RN) ao comando do Senado e disse que a escolha é "importantíssima para todos nós brasileiros". A eleição na Casa acontece nesta quarta-feira (1º).
Questionado se pretende se candidatar novamente em 2026, o ex-presidente deixou a resposta em aberto, mas afirmou que continuará ativo.
"Acredito que tenha deixado muitas lideranças pelo Brasil. Tem muita gente boa que tá chegando no Congresso, que se elegeram para o Executivo. Tem [eleição municipal em] 2024 pela frente, 2024 é muito importante. Não podemos abandonar a política. A política faz parte das nossas vidas. Eu estou com 67 anos e pretendo continuar ativo na política brasileira."
Bolsonaro manteve a linha que vinha tomando com apoiadores que faziam vigília em frente à casa em que está hospedado, de exaltar feitos do seu governo e criticar adversários. Ele foi recebido e ovacionado aos gritos de "mito", ouviu o hino nacional e participou de uma oração.
Ele ainda aproveitou para criticar a imprensa ao dizer que jornalistas estariam "esperando uma pequena frase minha para fazer um tumulto amanhã".
A família Bolsonaro já tem divulgado um segundo evento com o ex-presidente, desta vez em Miami, na próxima sexta-feira (3). O visto pleiteado pelos advogados de Bolsonaro, B2, não permite que ele exerça atividade remunerada nos Estados Unidos, o que o impede legalmente de receber pela participação.
Ele viajou para os EUA em 30 de dezembro de 2022, um dia antes de deixar a Presidência, e, rompendo uma tradição democrática, não passou a faixa presidencial para seu sucessor, o presidente Lula.
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