BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) prestou depoimento à Polícia Federal na tarde desta quarta-feira (5) na condição de investigado no caso das joias recebidas de autoridades da Arábia Saudita.

A informação foi confirmada por integrantes da defesa do ex-presidente.

Há cerca de 20 dias, a PF afirmou que Bolsonaro não era formalmente investigado ?razão pela qual, inclusive, foi negado a seus advogados, em um primeiro momento, acesso aos autos do processo, que é sigiloso.

Bolsonaro chegou à sede da PF em Brasília por volta de 14h20, prestou depoimento durante cerca de três horas e foi ouvido por dois delegados da corporação.

Segundo a defesa, o ex-presidente afirmou ter tido conhecimento sobre as joias apreendidas na Receita 14 meses depois do ocorrido. De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, porém, houve nesse período tentativa inclusive do gabinete presidencial para reaver esse material.

Bolsonaro disse que, após tomar conhecimento do caso, em dezembro de 2022, buscou informações sobre o tema para evitar um suposto vexame diplomático caso os presentes fossem a leilão.

O ex-presidente confirmou ter falado com o então secretario da Receita Federal, Julio Cesar Vieira, como mostrou a Folha de S.Paulo.

A oitiva foi conduzida pelo delegado Adalto Machado, responsável pelo inquérito na PF de São Paulo, e outro da DIP (Diretoria de Inteligência Policial), setor que fica no prédio central da instituição, em Brasília.

Machado está à frente do caso desde a instauração do inquérito na Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários da PF paulista.

O ajudantes de ordens de Bolsonaro na Presidência, o tenente-coronel do Exército Mauro Cid, também prestou depoimento, mas em São Paulo.

O prédio onde o ex-presidente depôs é o mesmo que, em dezembro de 2022, foi atacado por bolsonaristas, que tentaram invadir o local. Na ocasião, os manifestantes também incendiaram carros e ônibus na capital federal.

À época, muitos apoiadores de Bolsonaro estavam acampados em frente ao quartel do Exército, em Brasília. Foi de lá que saiu o grupo que, no último dia 8 de janeiro, fez um ataque golpista com a invasão dos prédios dos Três Poderes.

Nesta quarta, a segurança no prédio da PF foi reforçada para receber o ex-presidente. Havia a expectativa de que bolsonaristas pudessem se reunir nos arredores do local, o que acabou não acontecendo. Apenas um homem com camisa do Brasil esteve em frente ao prédio durante a tarde.

Ele preferiu não dar entrevista à reportagem, mas disse que outras pessoas afirmaram, em grupos de aplicativos de mensagens, que iriam ao local ?e não sabia a razão de não o terem feito.

Outras pessoas isoladamente gravaram lives e fizeram fotos falando sobre o depoimento do ex-presidente durante o tempo em que ele esteve na sede da PF.

Logo depois que Bolsonaro deixou o prédio, o seu ex-secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, disse nas redes sociais que o depoimento "transcorreu de maneira absolutamente tranquila, tendo respondido a todas as indagações feitas pela PF".

"Foi uma ótima oportunidade para esclarecimentos dos fatos", completou.

Além de Bolsonaro e Cid, outras pessoas foram ouvidas para avançar na apuração sobre as joias recebidas em outubro de 2021 pela comitiva liderada pelo então ministro Bento Albuquerque.

Um dos estojos de joias trazido pela equipe foi apreendido pela Receita Federal durante inspeção no aeroporto de Guarulhos ?por isso a apuração estar em São Paulo.

Um militar que assessorava o então ministro de Minas e Energia tentou entrar no país com artigos de luxo na mochila. Como não tinham sido declarados, os bens foram apreendidos pela Receita Federal ?o caso foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo.

As joias apreendidas pela Receita em Guarulhos estão hoje sob poder da PF. Elas foram entregues na semana passada.

Um segundo pacote, que inclui relógio, caneta, abotoaduras, anel e um tipo de rosário, todos também da marca suíça de diamantes Chopard e depois entregues a Bolsonaro, não foi interceptado pela Receita, como mostrou a Folha de S.Paulo.

Um recibo oficial registrou a entrega desse segundo conjunto à Presidência em novembro de 2022, para compor o acervo pessoal do ex-presidente. O ex-ministro relatou em depoimento que o segundo estojo entrou com ele no país antes de ser entregue à Presidência.

Na terça-feira (4), a defesa de Bolsonaro entregou em uma agência da Caixa Econômica Federal um terceiro kit de joias recebido da Arábia Saudita. A providência atendeu a uma determinação do TCU (Tribunal de Contas da União).

Composto por um relógio da marca Rolex, abotoaduras, um anel em ouro branco, uma caneta da marca Chopard e um tipo de rosário, esse estojo foi dado a Bolsonaro quando visitou a Arábia Saudita em outubro de 2019. O pacote passou a compor seu acervo privado no mês seguinte, como mostrou a Folha de S.Paulo.

Em um primeiro momento, Bolsonaro disse não ter pedido nem recebido qualquer tipo de presente em joias do governo da Arábia Saudita.

Na quinta-feira (30), ao retornar para o Brasil após 89 dias nos Estados Unidos, Bolsonaro confirmou ter recebido as joias e atrelou o presente à relação de amizade que construi com o governo da Arábia Saudita.

Ele também confirmou que parte dos presentes era para a primeira-dama Michelle Bolsonaro e a tentativa no final do mandato para reaver as joias em Guarulhos.

"Entregamos ali o primeiro conjunto que chegou na Presidência. Cadastrei. E, tentando recuperar o outro conjunto da Michelle, foi via ofício, não foi na mão grande. Não sei por que essa onda toda. Se estão achando isso como algo que eu fiz errado eu fico até feliz, não tem do que me acusar", afirmou.


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