BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Parlamentares da base do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da oposição trocaram acusações nesta quarta-feira (12) após a deputada bolsonarista Júlia Zanatta (PL-SC) ter acusado de assédio o deputado Márcio Jerry (PC do B-MA).
Zanatta afirmou mais cedo que deve entrar com uma representação no Conselho de Ética da Câmara contra Jerry.
Ela diz que o parlamentar a abordou por trás e a intimidou com palavras ditas ao pé do ouvido, além de supostamente ter encostado no seu pescoço, durante sessão na Comissão de Segurança Pública da Câmara do dia anterior que contou com a presença do ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB).
Durante sessão na Comissão de Segurança Pública da Câmara na tarde desta quarta, o episódio da véspera virou motivo de bate-boca entre o deputado Orlando Silva (PC do B-SP) e parlamentares da oposição.
Jerry nega a acusação e se diz vítima de fake news. "Peço um exame honesto do vídeo da sessão, e não a apreciação da imagem congelada que gera deturpação e fake news", afirmou o parlamentar à coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo.
Ele disse ainda que no momento ocorria uma discussão acalorada entre Zanatta e a deputada Lídice da Mata (PSB-BA).
"Eu me aproximei dela [Zanatta] respeitosamente. É muito natural nesse ambiente parlamentar você falar um pouco mais próximo. Falei um pouco mais próximo dela e pronunciei a seguinte frase: 'É uma deputada [Lídice] com 40 anos de atuação nesta casa'."
Parlamentares de oposição falaram em leniência dos governistas com um comportamento machista. Já os deputados de esquerda disseram que o colega do PC do B está sendo vítima de uma distorção.
Os congressistas que defendem Jerry apontam que Zanatta compartilhou apenas um recorte do vídeo --e que isso pode levar a outras interpretações.
Nesta quarta, o presidente da Comissão de Segurança Pública, Sanderson (PL-RS), teve de intervir na discussão e, citando o argumento de imunidade parlamentar, afirmou que era preciso "parar com essa história de querer tolher o que o deputado fala". "Aqui pode falar qualquer coisa. Vale para Chico e vale para Francisco", disse.
Em seguida, um parlamentar afirmou "só não pode assediar", em referência à denúncia de Zanatta. E Orlando rebateu: "Nem fazer denunciação caluniosa, que é o que essa moça fez".
Os deputados Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Marcel Van Hattem (Novo-RS), acusaram em seguida Orlando de debochar da situação.
"Não posso ouvir calado o deputado Orlando Silva caçoar de uma mulher que está ressentindo o que aconteceu", disse Van Hatten.
"Marcel Van Hattem está certo. Esse deboche com uma mulher que teve uma cheirada no cangote, eu tenho certeza que todo homem casado aqui não gostaria que a sua esposa ou filha fosse vítima do mesmo ato", completou Eduardo Bolsonaro.
Ao que Orlando respondeu: "Não foi deboche. Estou afirmando que ela será alvo de denunciação caluniosa, porque quem viu o vídeo percebeu que houve uma manipulação da imagem, uma fotografia para induzir determinada opinião. É inaceitável acusar o deputado Márcio Jerry de assédio, isso é crime. Denunciação caluniosa é o que será imputado à senhora parlamentar. Inaceitável".
Também à coluna Mônica Bergamo, a líder do PC do B, Jandira Feghali (RJ), saiu em defesa do colega de bancada, acusou Zanatta de fake news e afirmou que o partido já estuda medidas para pedir uma investigação contra a deputada bolsonarista.
"Ela é uma pessoa desequilibrada, que cria problemas em cima de inverdades, é o histórico dela", afirmou Feghali à coluna. "Ela congelou a imagem [do vídeo] em um frame que interessava a ela."
Na tarde desta quarta, a bancada do PSB na Câmara divulgou nota em solidariedade a Jerry, que "bravamente defendeu Lídice Da Mata de agressões verbais e ataques machistas".
"Julia, com a mão levantada na direção da parlamentar baiana, saiu em defesa dos homens que tentaram intimidar e calar Lídice, e assumiu a posição de ataque à deputada. O deputado Márcio Jerry chamou então a atenção da deputada do PL para que respeitasse a história de Lídice", diz a nota do PSB.
O texto diz que recortar a realidade é "uma prática comum da extrema direita". "Não admitiremos que essa corrente de ódio cale aqueles que estão trabalhando por um Brasil melhor, mais seguro e livre da violência que se espalhou pelo país nos últimos quatro anos", finaliza o texto.
Na noite desta quarta, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro divulgou nota de repúdio ao ocorrido e prestou "incondicional solidariedade" à deputada bolsonarista.
Presidente do PL Mulher, Michelle manifestou sua "completa repulsa pela ação intimidadora desse parlamentar" e disse que Zanatta tem o apoio dela e de toda a bancada feminina da legenda.
"Minha incondicional solidariedade à deputada Julia Zanatta, vítima de assédio pelo deputado Márcio Jerry. O ato dele nitidamente teve o intuito de inibi-la", diz trecho da nota.
Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!