BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Livre de ações penais desde 28 de março, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares recebeu uma homenagem no final daquele mês e afirmou que trabalhará pela reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva, indo onde for convidado.

"Quero falar com as pessoas. Vou a todos os lugares. Cidades médias, cidades pequenas. Tenho tempo agora", afirmou Delúbio na noite do dia 30, ao ser homenageado por apoiadores durante debate na sede nacional do PT, em Brasília.

O ex-tesoureiro foi figura central em dois escândalos que abalaram o PT, o mensalão e a Lava Jato. Chegou a ser expulso do partido em 2005, sendo reintegrado em 2011. Hoje atua como assessor da CUT (Central Única dos Trabalhadores).

Na Justiça, Delúbio foi denunciado e condenado em ações penais relativas ao mensalão (o esquema da compra de apoio no Congresso durante o primeiro mandato de Lula) e à Operação Lava Jato.

No evento do dia 30, Delúbio lembrou ter insistido ao longo do tempo para voltar ao partido, o que só aconteceu em 2011. Mas alegou ser preciso distinguir a legenda hoje em dia de seus dirigentes da época da expulsão.

"Não tenho rancor, não tenho raiva. Acharam que me expulsando, dando minha carne aos leões, os leões sossegavam", afirmou.

Sobre o argumento que fundamentou sua expulsão ?o de gestão temerária?, o ex-tesoureiro afirma que estruturou o partido para as eleições de 2004, obtendo empréstimo junto ao Banco do Brasil.

Ciceroneado pelo presidente do PT do Distrito Federal, Jacy Afonso, Delúbio prometeu trabalhar incansavelmente pelo projeto petista. Disse ainda que não se pode ter vergonha de defender a reeleição de Lula, segundo ele, uma vítima de ódio por sua origem humilde.

"Vou trabalhar daqui até primeiro domingo de outubro de 2026 pela reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva, para dar continuidade ao governo."

Cerca de 60 pessoas participaram do debate, entre eles os ex-governadores Agnelo Queiroz (DF) e Ricardo Coutinho (PB). À entrada do auditório do PT, estavam disponíveis exemplares do livreto "Delúbio Soares, o réu sem crime".

Além de Jacy, o advogado Pedro Paulo Guerreira Medeiros fez uma apresentação sobre os processos a que Delúbio respondeu, descrevendo as ações como uma tentativa de tirar expoentes petistas de circulação. Segundo o advogado, hoje "algo está sendo gestado em algum lugar".

No debate, a trajetória de Delúbio foi exaltada por militantes, inclusive por "honrar as causas que veste" e não ter firmado acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal. O ex-tesoureiro lembrou momentos difíceis da prisão, em que era preciso ter juízo e "obedecer aos [agentes] de preto".

Ao comentar as recentes absolvições, afirmou que a situação hoje, outrora "muito ruim", está até boa. "Na hora que eu resolver os [processos] cíveis vai ficar ótima", diz.

No caso do mensalão, Delúbio foi condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) pelo crime de corrupção ativa a 6 anos e 8 meses de prisão inicialmente no regime semiaberto, sistema em que o preso pode sair durante o dia para trabalhar e voltar para a prisão à noite.

A execução da pena começou em novembro de 2013 e ele passou posteriormente ao regime domiciliar, com monitoramento eletrônico. Cumpriu a pena integralmente até receber, em maio de 2018, o reconhecimento de sua extinção pelo Supremo.

Do caso mensalão, ainda responderia a uma ação penal na Justiça Federal sob a acusação de crime de lavagem de dinheiro. Ele foi absolvido nesse no último dia 28.

O MPF o acusou ter ocultado, de novembro de 2003 a março de 2004, valores provenientes da prática de crimes contra a administração pública e o Sistema Financeiro Nacional, supostamente praticados por organização criminosa apurada no âmbito da ação penal do mensalão.

Para o juiz Marcelo Duarte da Silva, da 2ª Vara Federal Criminal de São Paulo, os autos da ação penal demonstram "que o acusado tinha intenção de receber o dinheiro para utilizá-lo no cometimento da corrupção ativa [compra de apoio político no Congresso, crime pelo qual foi condenado no STF], e não transformar-lhe em ativo lícito ou com aparência de bem legítimo".

Ou seja, segundo concluiu o magistrado, Delúbio não cometeu o crime de lavagem de dinheiro.

"Ele próprio não praticou e nem concorreu para os atos de lavagem, os quais foram efetuados pelos núcleos publicitário e financeiro do esquema do mensalão", afirmou Silva.

A força-tarefa da Lava Jato o investigou também pelo crime de lavagem de dinheiro.

No início de março, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) anulou uma condenação imposta ao ex-tesoureiro pelo ex-juiz Sergio Moro e enviou o processo para a Justiça Eleitoral. A decisão liminar (provisória) foi do ministro Ribeiro Dantas.

O caso envolvia um suposto empréstimo de R$ 12 milhões tomado no Banco Schahin pelo pecuarista José Carlos Bumlai.

A Lava Jato afirmava que os verdadeiros destinatários do dinheiro eram o PT e aliados. Delúbio havia sido condenado por Moro a cinco anos de prisão, pena ampliada posteriormente para seis anos pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

Uma outra acusação da força-tarefa, também relacionada ao empréstimo, foi extinta pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo em 2021, após entendimento de prescrição das acusações imputadas ao petista, o que significa que ele não poderia mais ser punido. Não houve análise de mérito.

Neste domingo (16), Delúbio e o também ex-tesoureiro João Vaccari Neto participaram de evento que teve tietagem à dupla, fala sobre caixa 2 em campanhas e até torcida para que Moro seja preso.

O debate contou com algumas dezenas de militantes e foi realizado em Carapicuíba (Grande SP), em um clube do Sindicato dos Comerciários de Osasco e Região (Secor).

O evento intitulado "Quando a Política se Vale da Justiça" tinha como mote a versão de ambos os petistas, que se declaram inocentes sobre o mensalão e a Lava Jato. O tom foi de argumentação de que ambos os casos se trataram de tentativas de atingir o PT e Lula.


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