SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, afirma à coluna Painel, da Folha de S.Paulo, que uma das demandas do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), um plano nacional de reforma agrária, estava na mesa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas invasões promovidas nas últimas semanas geraram tensão e impossibilitaram o anúncio.

Teixeira destaca especialmente as ações em propriedades da empresa Suzano, na Bahia e no Espírito Santo, e em terras em que a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) realiza experimentos, em Pernambuco. O movimento diz que são latifúndios improdutivos.

"Nós organizamos para lançar em abril um plano nacional de reforma agrária. Mas quando aconteceu a ocupação de Alagoas [na sede do Incra], aquilo estressou muito a nossa relação. Depois, teve a ocupação da Embrapa e a reiteração da ocupação da Suzano estressou demais. O plano já estava na mesa dele [Lula]", afirma Teixeira.

"Eles estão no mês da jornada da reforma agrária e achavam que nos iríamos ao encontro. Mas essas ocupações acabaram estressando demasiadamente", completa. O MST realiza anualmente o chamado Abril Vermelho, uma série de ações para lembrar o massacre de Eldorado do Carajás (1996) e chamar atenção para a pauta da reforma agrária.

Como mostrou a coluna Painel, lideranças do MST vinham caracterizando a postura do ministro como intransigente e se queixavam de dificuldade de interlocução. Teixeira diz que o diálogo entre eles voltou a bons termos na quarta-feira (19), quando o MST se comprometeu a desocupar as áreas da Suzano e da Embrapa.

"A partir desse compromisso nós sinalizamos uma retomada de diálogo para maio. [A relação] tem que se dar por diálogo, por conversa, trazendo demandas para nós", afirma Teixeira.

O novo plano nacional de reforma agrária deve ser anunciado no próximo mês, segundo ficou definido nos encontros entre lideranças do MST e do governo Lula.

O ministro diz que o governo não cedeu ao MST ao promover trocas no comando das superintendências do Incra, como vinha cobrando o movimento. Segundo ele, nenhum dos nomes escolhidos foi indicado pelo MST.

Ele afirma que as mudanças já estavam em curso e que demoraram a se concretizar porque as indicações partiram das bancadas federais aliadas e passaram pelo filtro da Casa Civil.

"Todo o arranjo da ocupação do governo teve uma dimensão político-parlamentar. Todos os nomes que recebi foram indicados pelas bancadas ao ministério. Nenhum nome foi indicado pelo MST", afirma o ministro.

Ao todo, foram trocados os comandos do Incra em 19 estados, além do Distrito Federal, nas últimas semanas. Permanecem sem mudanças as chefias de Minas Gerais, Amazonas, Alagoas, Tocantins, Rondônia, Roraima e Amapá.

"Nenhum nome foi negociado com o MST. Os nomes que estão indo para as superintendências do Incra nos estados são especialistas na área da política agrária", conclui.

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