BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A entrada principal do Palácio do Planalto ficou desguarnecida por 45 minutos após policiais e militares do BGP (Batalhão da Guarda Presidencial) recuarem o bloqueio no local durante os ataques de 8 de janeiro, revelam vídeos do circuito interno de segurança da sede do Executivo.
Sem equipes de choque, vândalos bolsonaristas que já haviam entrado no Planalto por outros locais abriram a porta principal do prédio --o que facilitou o acesso dos golpistas e a depredação de vidraças, obras de arte e equipamento de segurança.
A ameaça à invasão ao Palácio do Planalto começou por volta de 15h, quando o Congresso Nacional já estava tomado pelos golpistas e um grupo de vândalos enfrentou policiais militares no estacionamento do prédio.
Cerca de 20 policiais e militares do BGP fizeram, então, um bloqueio às 15h11 em frente ao portão principal que dá acesso ao palácio. Ao longe, bolsonaristas jogavam pedras, cones e extintores.
Com o avanço dos golpistas e a entrada de vândalos por outros locais, a PM e o BGP desfizeram o bloqueio às 15h26 --momento em que, sem segurança, criminosos abriram a porta do Palácio do Planalto por dentro e chamaram os demais bolsonaristas radicais para invadirem a sede do Executivo.
Um dos homens que abriu a porta pedia para os invasores "não quebrarem nada". Outro convocava os golpistas a entrarem, aos gritos de "fora, ladrão".
Nos 45 minutos seguintes, as cenas captadas pela câmera da entrada do Planalto registram uma série de depredações.
Um homem com a camisa da Seleção Brasileira escrita Kaká pegou um bastão de ferro deixado no chão e desferiu golpes contra a máquina de raio-X da entrada do palácio.
Outro, também com a camisa da seleção de futebol, arremessou cadeiras utilizadas pelos guardas do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) para fora do prédio. Um dos assentos atingiu um bolsonarista que atravessava no local. Com o impacto, ele deixou cair um objeto que segurava, demonstrou ter se ferido, mas seguiu em frente.
Às 15h34 um homem sem camisa e com boné da seleção brasileira entrou com uma bicicleta no saguão principal do palácio.
Ele ficou dois minutos dentro do prédio. Ao sair, deu um chute em uma divisória de metal, deu uma volta com a bicicleta e foi embora aos gritos de "agora é que o Brasil vai".
Boa parte dos vândalos usava o celular para fazer gravações e lives. Um deles repetiu cinco vezes a frase "olha isso daqui" para mostrar o pórtico do raio-x da entrada do palácio aos seguidores.
A situação na entrada do Planalto só foi controlada às 16h01, quando o BGP avançou com os militares em linha contra os vândalos. O principal meio utilizado para dispersar os golpistas foi o gás lacrimogêneo, sem necessidade de confronto direto.
Somente às 16h43 dois grupos com cerca de 100 militares do BGP deixam o estacionamento reservado ao comboio presidencial rumo à área externa do Planalto. Parte do grupo vai para a entrada do palácio, enquanto outra se mobiliza no segundo andar do prédio e auxilia na prisão dos vândalos.
As imagens revelam o baixo efetivo de segurança no dia da invasão. Além da falta de policiais do choque da PM do DF (Polícia Militar do Distrito Federal), o Batalhão da Guarda Presidencial só contava com 36 militares no Palácio do Planalto no início das invasões.
Somente após o palácio ter sido tomado o GSI recebeu reforço do BGP: primeiro foram enviadas duas companhias, com 173 militares, e depois um grupo com outros 120.
Não há números confirmados oficialmente pela PM do DF sobre o efetivo que havia sido empregado na Esplanada dos Ministérios no dia 8 de janeiro.
Parte das imagens foi divulgada, inicialmente, pela CNN nesta semana. Os vídeos levaram à queda de Gonçalves Dias, ex-ministro do GSI --primeira demissão do governo Lula 3. O general teve de prestar depoimento à PF na última sexta-feira (21), assim como todos os servidores do GSI que aparecem nas imagens.
À polícia, o general disse que houve um "apagão" geral do sistema de inteligência na crise de 8 de janeiro. Ele também disse não saber informar qual era a classificação de risco dada pelas autoridades para o dia dos ataques.
"Que indagado se o declarante entende se houve apagão da inteligência, respondeu que acredita que houve um 'apagão' geral do sistema pela falta de informações para tomada de decisões", afirmou. A declaração do general foi obtida pela Folha de S.Paulo.
Apesar da postura considerada por auxiliares de Lula como leniente de integrantes do GSI que circularam no dia da invasão, o estopim para a queda do general foi o fato de ele não ter mostrado as imagens de câmeras do gabinete presidencial após os ataques, como demandou o mandatário.
Ele teria sido informado, por integrantes do GSI, que não havia imagens do local. Uma das câmeras, em frente ao gabinete de Janja, por exemplo, ficou coberta por horas. Mas é possível ver a chegada de vândalos ao local.
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