BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A escolha do general da reserva Marcos Antônio Amaro dos Santos para chefiar o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) é recebida no Exército como uma redenção do militar após ele ter sido preterido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para o comando do Exército.
Da mesma forma que a relação do general com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) o alijou da disputa para o posto mais alto da corporação e quase o obrigou a se aposentar mais cedo, foi o histórico do militar com o petismo que serviu de credencial para alçá-lo ao cargo de ministro de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Amaro é general do Exército e está na reserva desde 2022. Ele chegou ao segundo cargo mais importante da Força, a chefia do Estado-Maior. Com quatro estrelas, ainda foi comandante Militar do Sudeste.
O militar desenvolveu relação próxima com a ex-presidente Dilma. Os laços foram criados quando o general assumiu a Secretaria de Segurança Presidencial em 2010 --função que ocupou por cinco anos.
Ele ainda participou do processo de transformação do Gabinete de Segurança Institucional para Casa Militar, em 2015, sendo nomeado chefe do órgão por Dilma. Deixou o cargo após o processo de impeachment contra a presidente, e a pasta voltou a se chamar GSI.
Amaro deveria ter ido à reserva antes do fim de seu período como oficial-general quando, em março de 2021, o ex-presidente Bolsonaro decidiu nomear o general Paulo Sérgio Nogueira para o Comando do Exército.
Isso porque, pelos critérios utilizados na Força, Amaro era mais antigo que Paulo Sérgio e, segundo a tradição militar, ele deveria ter sido levado à reserva após um militar mais moderno assumir o principal posto do Exército.
Mesmo mais cotado para assumir o comando do Exército, Amaro foi preterido por Bolsonaro diante de seu histórico de relação com Dilma e o PT.
Para evitar a aposentadoria antecipada, o general fez um arranjo interno e conseguiu permanecer na Força por mais um ano. A justificativa era que ele e Paulo Sérgio eram da mesma turma da Aman --e, portanto, não havia disparidade relevante nos critérios de antiguidade para forçar Amaro a ir à reserva.
Durante a transição, Amaro já havia sido cotado para ocupar a chefia do GSI. Após uma primeira sondagem, ele não foi procurado novamente.
O general é descrito por colegas de farda, em comentários sob reserva à reportagem, como alguém discreto e com grande capacidade de articulação para encontrar soluções em momentos críticos.
O histórico de participação em organização de esquemas de segurança presidencial e institucional é apontado por generais do Alto Comando do Exército como um dos principais ativos de Amaro.
O nome dele para o comando do GSI foi sugerido pelo comandante do Exército, Tomás Paiva, ao ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. Amaro foi citado pela primeira vez fora do círculo militar numa reunião entre Múcio, Ricardo Cappelli (ministro interino do GSI), Flávio Dino (Justiça) e Tomás no dia seguinte à demissão de Gonçalves Dias.
Na reserva, Amaro trabalhou por quase um ano como assessor da presidência do grupo financeiro Alfa. Deixou o cargo após receber um convite para presidir o Conselho de Administração da Poupex, associação de poupança e empréstimo do Exército.
A nomeação de Amaro na Poupex fazia parte de uma reestruturação, após o término do mandato anterior. O novo presidente da associação é o general Valério Stumpf Trindade, que foi à reserva em março e é próximo do novo chefe do GSI.
Desde que passou a ser cotado para comandar o GSI sucedendo Gonçalves Dias, aliados de Lula passaram a aconselhar o presidente a nomear um civil para a chefia do ministério.
A manutenção de Cappelli como ministro da pasta, por exemplo, foi defendida pela cúpula da Polícia Federal e encontrou amparo em parlamentares petistas, que querem um enquadramento das Forças Armadas após o alinhamento dos oficiais com o ex-presidente Bolsonaro.
A saída via Amaro, porém, foi vitoriosa. O Exército defendia um nome de general quatro estrelas da reserva para o cargo por considerar que o GSI tem interface com assuntos militares. São citados o fato de o órgão ser responsável por monitorar usinas nucleares 24 horas por dia, em interlocução com a Marinha, e fiscalizar ataques cibernéticos, trabalho realizado pela força terrestre no âmbito do Comando de Defesa Cibernética.
Como a Folha de S.Paulo mostrou, integrantes da cúpula do Exército ainda defendiam que o Gabinete de Segurança Institucional retomasse atribuições que eram da pasta até o início do ano.
O GSI tinha debaixo do seu guarda-chuva a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e era responsável pela segurança pessoal do presidente e do vice-presidente da República.
Ambas as funções, porém, foram retiradas de lá, no contexto de crise de confiança entre o governo eleito e os militares. A Abin passou a responder à Casa Civil. Já a coordenação da segurança pessoal de Lula ficou a cargo da Polícia Federal.
A avaliação dos militares é que o GSI ficou esvaziado. Essa visão é compartilhada pelo general Amaro, pelo comandante do Exército, Tomás Paiva, e pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro.
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