BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Deputados bolsonaristas afirmam que irão usar relatórios da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) que mostram o envio de alertas para órgãos do Executivo e do Distrito Federal sobre os atos de 8 de janeiro para atacar o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na CPI que trata do assunto.
Por outro lado, membros do centrão, que devem ter protagonismo na comissão, e aliados de Lula pretendem que o foco seja a minuta do golpe encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres.
A Folha de S.Paulo mostrou que a Abin enviou desde o dia 6 de janeiro alertas ao então ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) Gonçalves Dias e ao Ministério da Justiça, já sob o comando de Flávio Dino (PSB), sobre a possibilidade de ações violentas e invasões a prédios públicos nos atos que ocorreriam dois dias depois.
O GSI e a Justiça negam ter recebido esses informes.
Os documentos foram enviados pela Abin à CCAI (Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência) do Congresso Nacional no dia 20 de janeiro. Os alertas são mantidos em sigilo.
Segundo o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), a ideia da oposição é ter os relatórios como norte e se debruçar logo no primeiro momento da CPI sobre os documentos para montar uma cronologia dos fatos.
"Vamos requerer toda a documentação, todos os emails, quebras de sigilos telefônicos de quem for necessário, das instituições necessárias, para a gente ter clareza de quem tinha as informações. Montar uma cronologia dos fatos para provar que houve omissão, sim, do governo federal também. E possíveis outras omissões que tenham existido", diz ele.
O parlamentar questiona ainda a prisão de Anderson Torres ?ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL)? e o afastamento do cargo do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), determinado pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Ele questiona por que "quem está pagando por isso" são só eles, em referência a Torres e a Ibaneis. "Os outros não têm responsabilidade nenhuma?"
Parlamentares da oposição dizem que um dos objetivos será tentar aprovar a convocação de Dino e Gonçalves Dias.
"Acho que eles não deviam nem esperar a convocação. Já deviam se oferecer para prestar esclarecimentos antes. A convocação deles será inevitável, eles devem explicações", diz Sóstenes.
Líder da oposição na Câmara, o deputado Carlos Jordy (PL-RJ) afirma que Dino e Gonçalves Dias são "peças-chave" para entender o que ocorreu no dia 8.
O deputado afirma que a oposição também irá explorar a determinação do governo federal de impor sigilo sobre a íntegra das imagens dos atos de vandalismo registradas pelo sistema de câmeras do Palácio do Planalto. A quebra do sigilo foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, no último dia 21.
Jordy também diz que a oposição irá trabalhar para "impedir que haja uma blindagem do governo" e que, para isso, os parlamentares vão tentar "que haja respeito na distribuição das vagas" da CPI e "imparcialidade do presidente e do relator".
"Não podemos permitir que eles sejam indicados pelo governo", diz.
A expectativa é que nem o PT de Lula nem o PL de Bolsonaro fiquem com cargos de comando na CPI do 8 de janeiro.
O senador Esperidião Amin (PP-SC) defende que a comissão apure tanto quem financiou os atos como outros aspectos. Ele diz que os relatórios devem ser uma das linhas de investigação do grupo.
"O que tem por desvendar, já tem um caminho a seguir, sobre as omissões. Todos disseram que não sabem de nada? A luz foi posta [sobre esse tema]", afirmou.
Por outro lado, membros do centrão que devem integrar cargos importantes na comissão avaliam que o foco do colegiado deve ser a minuta do golpe, que foi encontrada pela PF (Polícia Federal) na casa do ex-ministro Anderson Torres.
A apreensão da minuta foi revelada pela Folha de S.Paulo.
O objetivo do documento seria reverter o resultado da eleição em que Lula saiu vencedor. Tal medida seria inconstitucional.
O texto de três páginas, feito em computador, foi encontrado no armário do ex-ministro durante busca e apreensão realizada em janeiro. A PF investiga as circunstâncias da elaboração da proposta.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) afirmou que o relatório da Abin deve ser apurado, mas sob o ponto de vista de que o GSI ainda estava sob influência da gestão de general Heleno, ex-ministro da pasta; e que a investigação deve ser na linha sobre por qual razão os militares de lá não alertaram instâncias superiores para a gravidade da situação.
"Quanto à minuta, mostra o quanto havia uma articulação em várias frentes e a intenção cabal de efetivar um golpe de Estado no Brasil", disse.
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