RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O ritmo de viagens internacionais do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), já superou o início do mandato de seus antecessores Wilson Witzel e Sérgio Cabral, este último marcado pelas missões no exterior.
Castro completou neste sábado (13), em Nova York, 24 dias afastado do Palácio Guanabara neste ano em razão de missões oficiais ao exterior. Na mesma altura do mandato, Cabral havia ficado ausente 17 dias, e Witzel, 9. Luiz Fernando Pezão não viajou.
O aumento na frequência de viagens internacionais não é exclusividade do governador. Dados do portal Transparência Fiscal mostram que a gestão Castro já gastou neste ano R$ 1,1 milhão em diárias para servidores em missões oficiais ao exterior. O valor também supera o gasto até maio em 2007 e 2019, início das gestões Cabral e Witzel.
Castro já recebeu em sua conta bancária R$ 48 mil em diárias para viagens. O valor é o equivalente a três salários mensais líquidos do governador.
Em nota, o governo afirma que as missões oficiais "têm o objetivo de atrair mais investimentos e parcerias para acelerar o desenvolvimento da economia fluminense e ainda aumentar o fluxo de turistas no estado, gerando mais emprego e renda para a população".
"Em relação aos custos com as viagens, cabe ressaltar que o governador sempre retorna ao Rio de Janeiro no dia da última agenda do país em que estiver em missão, para evitar gastos a mais com diárias. Além disso, o governador não emenda os finais de semana com as agendas internacionais e fica hospedado no mesmo local da equipe, para enfatizar o caráter da viagem: trabalho."
De fato, em nenhuma das quatro viagens que fez ao exterior (duas a Nova York, além de Londres e Lisboa) o governador permaneceu no fim de semana no destino. Os embarques para retorno ocorreram em quintas, sextas ou sábados, segundo os dados oficiais.
Como a Folha mostrou em 2019, Witzel recebeu diárias dos cofres públicos por um fim de semana em Buenos Aires com a mulher, Helena Witzel, sem agenda oficial. Ele devolveu os recursos ao estado.
O mesmo ocorreu com Sérgio Cabral, que recebeu diárias por quatro dias livres na Europa em 2008. Ele também devolveu a verba após reportagem da Folha.
Até o momento, Castro não sofreu, como os antecessores, desgaste político em razão das viagens. Contudo, um forte aliado já protagonizou cenas criticadas por membros do próprio governo.
O presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar (PL), foi gravado no restaurante Hakkasan, com uma estrela Michellin, bebendo vinho e cantando nas ruas de Londres. Ele integrava comitiva do governador, que não estava no jantar. As imagens gravadas pelo promoter David Brazil foram divulgadas em redes sociais.
Em nota, o deputado afirmou que o jantar ocorreu na noite do último dia de viagem, após o fim dos compromissos oficiais.
O ritmo de viagens do governador fluminense ao exterior se acelerou no fim do ano passado, após ser reeleito para o cargo no primeiro turno.
As missões internacionais começariam em outubro, em meio ao segundo turno da disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) pela Presidência da República. O governador, contudo, cancelou a viagem após queixas de aliados do ex-presidente, que contava com o apoio de Castro.
Uma semana após a eleição, Castro saiu de férias por dez dias. Quatro dias depois de retornar, embarcou para Oxford (Inglaterra) para uma missão de cinco dias.
Em janeiro deste ano, o governador ficou uma semana em Nova York. Em fevereiro, se ausentou por quatro dias para uma viagem a Lisboa. Em abril, foram seis dias fora para a missão em Londres. Neste fim de semana de maio, ele encerrou os compromissos de seis dias de novo em Nova York.
Castro se reuniu com empresários de diferentes áreas no exterior, como energia, economia verde e turismo. Participou também de dois encontros do Lide, do ex-governador de São Paulo João Doria, em Nova York e Londres.
Além da atração de negócios, as viagens internacionais são uma forma de Castro ampliar o leque de relações políticas após a vitória eleitoral.
O governador assumiu o Palácio Guanabara após o afastamento de Witzel e focou o mandato-tampão em alianças regionais para lhe garantir continuidade no cargo e apoio para a campanha. O objetivo agora é ampliar sua imagem como liderança mais nacional.
Viagens têm objetivo de atrair investimentos, diz governo
A assessoria de imprensa do governador afirmou, em nota, que "as viagens internacionais realizadas pelo governo têm o objetivo de atrair mais investimentos e parcerias para acelerar o desenvolvimento da economia fluminense e ainda aumentar o fluxo de turistas no estado, gerando mais emprego e renda para a população".
"A grave crise econômica gerada pelos governos anteriores, e agravada pela pandemia da Covid-19, levou o governo estadual a uma das piores previsões de orçamento da história, com déficit acima de R$ 20 bilhões e grande queda na arrecadação. Com o trabalho realizado pela atual gestão na área econômica, o estado do Rio de Janeiro conseguiu reverter a situação e colocar as contas em dia", diz a nota.
"As missões internacionais permitem que o estado mostre aos investidores dos mais diferentes países o quanto o Rio de Janeiro evoluiu e voltou a ter um ambiente de negócios com credibilidade, além de segurança jurídica e regulatória."
A nota afirma que o governador sempre retorna no dia de sua última agenda no exterior para evitar gastos a mais com diárias.
"Além disso, o governador não emenda os finais de semana com as agendas internacionais, e fica hospedado no mesmo local da equipe, para enfatizar o caráter da viagem: trabalho."
O Palácio Guanabara declarou também que os valores recebidos por Castro em diárias são fixados em decreto estadual.
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