BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A Polícia Federal suspeita que o casal filmado em entregas de dinheiro supostamente desviado de contratos de kit robótica tinha uma atuação mais ampla, não só no esquema exposto a partir de reportagem da Folha de S.Paulo.
O casal Pedro Magno e Juliana Cristina foi alvo de mandados de prisão na operação Hefesto, deflagrada no dia 1 de junho, mas foram soltos um dia depois.
Eles foram monitorados desde 2022 pelos investigadores durante a realização de saques de dinheiro em espécie e posteriores entregas desses valores em Brasília, Luziânia (GO), Goiânia, Florianópolis e Maceió.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, foi o casal que levou os investigadores até Luciano Cavalcante, principal auxiliar do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), demitido após a operação.
A PF descobriu em nome de Pedro e Juliana uma rede de empresas apontadas como de fachada que receberam altas quantias de firmas com contratos públicos, entre elas a Megalic e seu sócio, Edmundo Catunda.
A Megalic foi vencedora de uma série de licitações custeadas com dinheiro federal para compra de kit robótica para municípios de Alagoas. Catunda é aliado de Lira e repassou valores para uma construtora que construiu a casa de Luciano Cavalcante.
No pedido de prisão, a PF afirma que as movimentações financeiras das empresas em nome do casal "demonstram sérios indícios" de que eles "seriam possivelmente operadores de considerável e amplo esquema de lavagem de capitais em vários estados da Federação, ocultando e dissimulando bens, direitos e valores provenientes de práticas delitivas cometidas por diversos núcleos criminosos, com ou sem conexão entre si".
Ainda de acordo com a PF, para não ampliar indevidamente a investigação, em um primeiro momento foram analisados apenas as informações das empresas do casal relacionadas com a Megalic e os contratos de kit robótica.
"Após o devido avanço investigativo com as medidas aqui pleiteadas, bem como identificação e individualização de condutas, serão elaboradas e enviadas notícias-crime específicas às unidades da Polícia Federal responsáveis pelas apurações em suas circunscrições, com possível compartilhamento de informações", diz trecho da representação da PF.
O casal é visto como ponto central da investigação sobre os supostos desvios nos contratos de kit robótica.
Desde 2022, a PF monitorou dezenas de saques e entregas de dinheiro realizados por eles.
A suspeita é que os valores sejam destinados a agentes públicos e que o casal seja especializado "prática de crimes de lavagem de capitais, ocultando e dissimulando bens, direitos e valores provenientes de desvios de recursos públicos das mais variadas naturezas e oriundos de diversos entes públicos".
Uma das entregas monitoradas, em 17 de maio de 2023, foi para Wanderson Ribeiro, motorista de Luciano Cavalcante, em um hotel de Brasília.
"Após a chegada de Wanderson Ribeiro, é possível verificar nas imagens que Pedro Magno pega uma pequena mochila no banco traseiro e, na companhia do motorista de Luciano Cavalcante, vão até o interior do veículo Corolla preto que estava em posse de Wanderson", diz a PF.
Os policiais que monitoravam a entrega conseguiram perceber que Pedro e Wanderson chegam até o veículo e permanecem dentro dele por cerca de um minuto.
Nesse período, conforme relatório da corporação, "é possível afirmar que Pedro Magno deixa pacotes de dinheiro na porta luva do veículo Corolla" e, em seguida, retorna para o outro automóvel onde está sua esposa com a "bolsa aparentemente vazia".
Em nota, o escritório Bosco, Sales e Antunes, responsável pela defesa do casal, afirmou que eles "não possuem nenhum envolvimento com as supostas fraudes no processo licitatório apontado nas investigações e estão à disposição dos órgãos da persecução penal para colaborar com as investigações".
Segundo os defensores, eles já prestaram depoimento à PF no dia da operação Hefesto e as informações da investigação estão sob sigilo.
O advogado André Callegari, que defende Luciano Cavalcante, disse em nota que não teve acesso integral aos autos do inquérito e diligências já realizadas. Segundo ele, isso "impede qualquer manifestação", uma vez que "não se sabe a motivação da operação deflagrada".
"Assim, qualquer manifestação defensiva nesse momento se mostra precipitada."
Em nota assinada pelo advogado Eugênio Aragão, a defesa da Megalic afirmou haver "grave equívoco" nas suspeitas e que todos os contratos se deram a partir de parâmetros técnicos do Ministério da Educação e do FNDE, com processo licitatório e ampla competitividade.
A nota diz que o TCU (Tribunal de Contas da União) não viu direcionamento nem preços incompatíveis e que a reportagem da Folha de S.Paulo que deu origem à investigação fez comparação indevida dos produtos da Megalic com kits de qualidade inferior.
Lira tem negado qualquer relação com supostos desvios de verba pública.
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