RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A possível demissão da ministra do Turismo, Daniela Carneiro (União Brasil-RJ), é vista por petistas e aliados do Rio de Janeiro como mais uma porta fechada pelo presidente Lula (PT) ao eleitorado com perfil evangélico e bolsonarista do estado, predominante principalmente na Baixada Fluminense.

A decisão dificultaria a retomada da preferência do eleitorado fluminense, perdida em 2018 para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral do país, e o Amapá, o 26º, foram os únicos estados não retomados pelo PT na vitória presidencial do ano passado -Lula venceu em 13 unidades da federação e o adversário, em 14.

Nesta terça (13), Lula se reuniu com Daniela Carneiro e disse a ela que há um pedido explícito pelo cargo que ocupa. Segundo relatos de integrantes do Palácio do Planalto, o presidente explicou que a situação da ministra é muito difícil e busca agora uma "saída honrosa" para ela.

A União Brasil pressiona o governo a substituir Daniela pelo deputado do partido Celso Sabino (PA), em meio às negociações para ampliar a base política na Câmara.

O prefeito de Belford Roxo, Waguinho (Republicanos), que administra a cidade há seis anos, tem declarado que não abandonará Lula mesmo com uma possível demissão da mulher.

Contudo deixa claro que ficará mais livre para firmar alianças em 2024, o que pode fortalecer a base bolsonarista no Rio. Um dos objetivos do PL para o ano que vem é ampliar o número de prefeitos no país, a fim de criar uma base política para uma eventual nova candidatura presidencial.

"O Ministério do Turismo é muito representativo para o Rio de Janeiro. O enfraquecimento dessa aliança não vai ser culpa nossa. É um estado bolsonarista, com um governador bolsonarista, com um número de evangélicos imenso. E a gente acaba ficando sem instrumentos", disse Waguinho à Folha na segunda (12).

No ano passado, apesar do apoio do prefeito ao petista no segundo turno, Lula subiu apenas de 38,9% para 39,8% dos votos válidos em Belford Roxo da primeira para a segunda etapa do pleito, enquanto Bolsonaro saltou de 54,8% para 60,2%.

O prefeito e a deputada (a mais votada na eleição para deputado federal no estado) eram vistos como uma forma de furar o amplo domínio bolsonarista numa região em que petistas já conseguiram entrar no passado.

Daniela foi a última decisão de Lula para concluir a montagem de seu ministério. Ela superou a concorrência de outros dois aliados fluminenses do petista: os deputados Marcelo Freixo (então no PSB, hoje no PT), escolhido para a Embratur, e Pedro Paulo (PSD), ligado ao prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD).

Os aliados mais próximos perderam espaço para a deputada que poderia oferecer uma dupla abertura de porta: com a Baixada Fluminense e a União Brasil.

Esta também foi uma das principais razões para a manutenção de Daniela após a crise surgida com a revelação da Folha de que o grupo político do casal mantinha vínculos estreitos com milicianos.

"Ele é um cara que o próprio pessoal nosso do Rio reconhece o protagonismo. Vai ter gente que vai dizer 'fulano chamou o senhor disso', 'fulano fez campanha para Bolsonaro'. Mas, se for tirar todo mundo que passou por isso, não vamos ter gente", afirmou o senador Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo.

Lula chegou a afirmar que a relação da ministra com milicianos se limitava a "uma foto" -quando na verdade havia vídeos, fotos e até a nomeação de um condenado de liderar uma milícia na prefeitura.

"Ela aparecia num caminhão lá com um cara miliciano. Sinceramente, se for levar em conta pessoas que estão em fotografia ao lado de outras pessoas, a gente não vai conversar com ninguém, porque eu sou o cara que mais tiro fotografia no mundo", disse o presidente em fevereiro.

O distanciamento do PT com a Baixada Fluminense ocorreu em 2018, junto com o avanço bolsonarista no estado. O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) foi prefeito por duas vezes de Nova Iguaçu (2009-2014) surfando na popularidade dos dois primeiros mandatos de Lula. "É uma região muito marcada pelo eleitorado evangélico e, atualmente, com forte influência bolsonarista."

Nesse período, Belford Roxo deu a vitória a um candidato do PC do B (Dennis Dauttmam), e Lula contava com apoio massivo de prefeitos da região, como Washington Reis (MDB), atualmente aliado de Bolsonaro.

A aposta é que, com o eventual sucesso do governo Lula e a manutenção de apoio de Waguinho, os candidatos apoiados pelo PT na região cresçam, assim como nos dois primeiros mandatos do atual presidente.

Uma possível queda de Daniela seria também mais uma derrota para a lista acumulada pelo PT-RJ nas últimas décadas. Lideranças petistas do estado defendem a manutenção da ministra de olho no fortalecimento do estado.

"A ministra Daniela é uma parceira da construção política em nosso estado, possui competência e capacidade de construção coletiva, uma parceria importante para a política fluminense, sua permanência é a consolidação de um Estado do Rio de Janeiro forte e representado na equipe de ministros do presidente Lula", disse o presidente do PT-RJ, João Maurício.

Desde o início da fritura de sua mulher no ministério, Waguinho retomou o contato com o ex-aliado Marcio Canella (União Brasil-RJ), deputado estadual que apoiou Bolsonaro na eleição.


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