BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A oposição irá reapresentar requerimentos de convocação do ex-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Gonçalves Dias, à CPI do 8 de janeiro, após a Folha revelar que ele ordenou que fossem omitidas informações do relatório de inteligência sobre os atos golpistas enviado ao Congresso.
O presidente da CPI, deputado Arthur Maia (União-BA), afirmou que irá pautar o pedido para chamar Dias, chamado de GDias, na próxima sessão, que deve acontecer na terça-feira (20).
"Se chegar um requerimento nas minhas mãos para convocar o GDias, vamos colocar em votação", afirmou Maia.
O ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (União-PR) disse que irá apresentar um novo pedido para convocação do general, que era homem de confiança do presidente Lula (PT).
"O general Gonçalves Dias, tanto pelos vídeos [que mostram ele dentro do Planalto no momento da invasão], quanto pelos fatos revelados agora, como também pelo simples fato de ele ser o GSI da época, é necessário que seja ouvido", disse.
A Folha mostrou que partiu do general a ordem para a direção da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) suprimir de relatório entregue ao Congresso Nacional os alertas enviados a ele sobre a ameaça de ataques em 8 de janeiro.
A pedido da CCAI (Comissão de Atividades de Controle de Inteligência), o GSI encaminhou ao Congresso um documento com informes de inteligência disparados pela Abin entre os dias 2 e 8 de janeiro.
A relação, enviada à comissão no dia 20 de janeiro, continha mensagens dirigidas a diferentes órgãos pelo WhatsApp. Não apresentava, porém, os informes que tinham sido enviados, segundo a agência, diretamente a GDias (nome pelo qual o general é conhecido).
A Folha de S.Paulo apurou que o general mandou omitir esses informes de uma minuta submetida previamente a ele, sob o argumento de que essa troca de informações não ocorreu por canais oficiais.
A existência de alertas produzidos e encaminhados diretamente a GDias foi revelada pela Folha de S.Paulo.
A agência era chefiada à época pelo oficial de inteligência Saulo Moura da Cunha. Ele deixou o posto em março e passou a ocupar um cargo no próprio GSI a partir de abril, durante a gestão de GDias. Pediu exoneração no dia 1º de junho.
Os alertas enviados ao então ministro só chegaram ao Congresso no mês passado, por meio de um novo relatório da Abin -esse com os informes que, segundo a agência, foram disparados diretamente para GDias.
A diferença entre as duas versões dos relatórios foi revelada pelo jornal O Globo e confirmada pela Folha. No total, 11 alertas enviados a GDias foram suprimidos do primeiro documento.
O deputado Arthur Maia preferiu não fazer "juízo de valor" sobre o fato, mas criticou a atitude da base aliada do presidente Lula (PT) que barrou pedidos de convocação de nomes ligados ao governo, como o general ou o ministro da Justiça, Flávio Dino.
"Quero reiterar meu constrangimento pela não aprovação dos requerimentos da oposição. É um fato constrangedor que não deveria ter acontecido. Se a CPI é investigativa, ela não pode, de maneira nenhuma, eliminar possíveis provas só porque estão sendo trazidos por aqueles que tem uma narrativa diferente da maioria", disse.
Maia afirmou ainda que foram definidos os primeiros nomes que serão ouvidos pela CPI.
Para a próxima terça, será convocado o ex-diretor-geral da PRF (Polícia Rodoviária Federal), Silvinei Vasques, e na quinta-feira (22), George Washington, suspeito de ter plantado a bomba em um caminhão de combustível em Brasília, bem como o técnico que desarmou o aparato, Valdir Pires.
A decisão da mesa que dirige a CPI do 8 de janeiro é de seguir a ordem cronológica dos fatos, começando pelo momento do segundo turno das eleições, em 31 de outubro de 2022, até o dia 8 de janeiro.
Nesse contexto, a relatora da comissão e aliada ao governo Lula, Eliziane Gama (PSD-MA), entende que existe espaço para que GDias seja ouvido, uma vez que seja respeitada a linha do tempo dos acontecimentos.
"[Uma nova convocação do general] pode ser inserida dentro deste contexto cronológico. É uma pauta que possivelmente será depois do recesso parlamentar", disse à Folha.
O primeiro pedido de informações ao GSI foi feito em 9 de janeiro pelo então presidente da CCAI, senador Esperidião Amin (PP-SC). Em resposta, a Abin elaborou uma planilha com os informes distribuídos pela agência por WhatsApp no período que antecedeu as depredações na Esplanada.
A Folha apurou que, ao receber essa minuta, GDias determinou que o relatório encaminhado ao Congresso contivesse apenas as informações distribuídas em grupos --tratados como canais oficiais da Abin desde o governo Jair Bolsonaro (PL).
Essa decisão competia ao general, uma vez que, pela lei que instituiu o chamado Sisbin (Sistema Brasileiro de Inteligência), documentos sobre as atividades e assuntos de inteligência produzidos pela Abin somente podem ser fornecidos às autoridades pelo chefe do GSI.
A planilha completa ficou nos arquivos da agência de inteligência.
GDias pediu demissão do cargo em abril, após a divulgação de imagens que colocam em xeque a atuação do órgão durante o ataque golpista de 8 de janeiro. Vídeos do circuito interno da segurança durante a invasão da sede da Presidência da República mostram uma ação colaborativa de agentes com golpistas e a presença de Gonçalves Dias no local.
Como mostrou a Folha em abril, o uso do WhatsApp para a troca de informações de inteligência se tornou comum durante a gestão do delegado e atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), membro da CPI. Na ocasião, a agência estava subordinada ao ministro do GSI Augusto Heleno.
A reportagem apurou que o segundo documento foi entregue à CCAI de forma espontânea pela direção atual da Abin depois que a PGR (Procuradoria-Geral da República) solicitou os informes, publicados pela Folha de S.Paulo em março.
O envio do segundo compilado, portanto, se deu quando GDias já tinha sido exonerado pelo presidente Lula -e a Abin estava sob o guarda-chuva da Casa Civil, e não do GSI.
No dia 31 de maio, os parlamentares que integram a comissão analisaram os relatórios da Abin e a decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes que determinou o envio de cópias à PGR.
A Folha verificou que o primeiro documento entregue aos senadores tampouco informa que parte dos alertas foi disparado também no grupo de WhastApp criado pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal.
Na época dos ataques -e da entrega do primeiro relatório-, a agência estava sob o comando de Saulo Moura da Cunha, indicado por Lula como diretor-adjunto até a sabatina do Senado. Em 13 de abril, ele foi convidado por GDias para a chefia da Assessoria Especial de Planejamento e Assuntos Estratégicos do GSI.
Uma semana depois, o ministro foi exonerado após a revelação de suas imagens dentro do Palácio do Planalto durante a ação dos invasores. Moura foi mantido pelo atual chefe do GSI, general Antônio Amaro.
Como mostrou a Folha em abril, a Abin afirma que Gonçalves Dias recebeu os alertas de inteligência em seu próprio WhatsApp entre os dias 6 e 8 de janeiro. Três deles, conforme a Abin, foram enviados exclusivamente a GDias -dentificado no documento como "ministro do GSI".
O conteúdo das mensagens enviadas pelo WhatsApp já indicava na noite de sexta-feira, dia 6 de janeiro, o risco de invasão do Congresso, a possibilidade de ações violentas em outros edifícios da Esplanada e a existência de manifestantes armados.
O advogado André Callegari, que defende GDias, afirmou em nota que não tem "esses documentos" citados, que o tema está sob sigilo e que o general tem respondido a todas as perguntas feitas no âmbito das investigações.
"Há diversas investigações em curso, em instâncias variadas, sobre o tema. O general tem respondido a todas as perguntas que lhe são feitas no âmbito das investigações e não pode dar entrevistas neste momento."
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