BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse ao jornal Folha de S.Paulo nesta quinta-feira (22) que será uma afronta caso o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) o torne inelegível. Ele disse ainda que gostaria de continuar 100% ativo politicamente e que, com essa eventual decisão do tribunal, perderia "um pouquinho desse gás".

A declaração foi dada poucas horas antes do início do julgamento que pode cassar os seus direitos políticos. Bolsonaro embarcou para Porto Alegre nesta manhã, onde participará de encontros da Transposul.

De acordo com a atual legislação, caso condenado, ele estará apto a se candidatar novamente em 2030, aos 75 anos, ficando afastado portanto de três eleições até lá (sendo uma delas a nacional de 2026).

"Na minha idade, [o que] gostaria de fazer, continuar ativo 100% na política. E, tirando seus direitos politicos que, no meu entender, é uma afronta isso aí, você perde um pouquinho desse gás", disse.

"Então eu acredito que o que eu fiz ao longo de quatro anos é algo para ser estudado. Bandeira do Brasil, o pessoal passou a respeitá-la, cantar hino nacional, aprenderam a dar valor a liberdade. Conheceram as instituições", completou.

Os planos do PL para o ex-chefe do Executivo incluem viagens semanais, encontros com parlamentares e montagem dos diretórios municipais e chapas, de olho nas eleições do ano que vem.

Questionado sobre os ânimos com o julgamento desta quinta, Bolsonaro disse não se iludir, mas também não falou em sucessores. "Com a minha idade, não vou me iludir", afirmou.

"Desculpa aqui, não gosto de falar no "se" [for declarado inelegível]. (...) A gente não pode partir dessa linha que [eu] estaria jogando a toalha. O que que eu vejo, qual a acusação principal contra mim? Reunião com embaixadores. Isso é crime? Dois meses antes dessa minha reunião o senhor Edson Fachin se reuniu com embaixadores também. A política externa é privativa do presidente da Republica."

Ainda que Bolsonaro diga que espera que o tribunal não casse os seus direitos políticos, já é dado como certo no seu entorno que não haverá pedido de vista e que o resultado será desfavorável.

O julgamento começa nesta quinta-feira, mas não tem data para terminar.

O ex-presidente será julgado por uma Aije (ação de investigação judicial eleitoral) movida pelo PDT em agosto de 2022. A ação pede que o TSE torne Bolsonaro inelegível. Na época, o partido tinha Ciro Gomes como candidato a presidente.

A Aije foi a primeira que pediu a derrubada da chapa de Bolsonaro por causa do discurso feito pelo então presidente em 18 de julho. A legenda afirmou que Bolsonaro praticou abuso de poder político e fez uso indevido dos meios de comunicação.

Bolsonaro vinha se mantendo recluso, mas na véspera do julgamento deu uma guinada na sua estratégia, alinhado com advogados, e voltou a falar publicamente.

Segundo aliados, a estratégia é agora tentar usar do "púlpito" um espaço para influenciar a opinião pública e reforçar o argumento de que é vítima de um processo injusto.

Um dos principais argumentos é a comparação do seu julgamento no TSE com o da cassação da chapa Dilma-Temer, algo que seus interlocutores já vinham reforçando nos bastidores há meses. Enquanto o da petista demorou anos, o dele ocorreu em meses.


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