BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) chega ao fim do julgamento que cassou seus direitos políticos até 2030 com militância desanimada e sem mobilizações de rua.

De acordo com aliados, apoiadores do ex-presidente acompanharam o julgamento, reverberam o discurso de injustiça e perseguição, mas não vão para as ruas por não haver clima, após o 8 de janeiro.

Quando ele perdeu a reeleição no ano passado, o ex-mandatário ficou recluso e deprimido. Mas seus apoiadores foram para frente dos quarteis do Exército pedir intervenção militar.

Empresários se mobilizaram para financiar esses atos, assim como haviam feito nos que lotaram Brasília anteriormente, como o de 7 de setembro de 2021 e de 2022.

Após meses de acampamento e uma crise política envolvendo o Exército, os protestos culminaram no 8 de janeiro -que, apesar de Bolsonaro dizer que foram promovidos por idosos com a Bíblia debaixo do braço e bandeira nas costas, levaram à depredação das sedes dos três Poderes, num ataque sem precedentes.

Golpistas foram presos e muitos continuam atrás das grades.

A dura resposta das instituições, em especial a do Poder Judiciário, teve uma consequência prática na militância bolsonarista. Além de os mais engajados ou mais radicais estarem presos, evitou maiores mobilizações desde então. Tanto por eles próprios, quanto da parte de lideranças, que temem ser responsabilizadas, caso algo dê errado.

O deputado federal Filipe Barros (PL-PR) reconhece o desânimo, mas diz que pode ser que a inelegibilidade acabe sendo o estopim para mobilizar novamente a militância.

"É um efeito desde o dia 8 [de janeiro]. O povo está com receio de ir para a rua, está desanimado", disse.

"Pode ser que seja estopim para que manifestações comecem. Estão interessados, mas não mobilizados. Todas as manifestações começaram debaixo, vem naturalmente. Pode ser que aconteça o mesmo fenômeno agora", completou.

Há uma avaliação no entorno do chefe do Executivo também que o julgamento é de difícil compreensão para o eleitorado, de forma geral. E que o discurso mais fácil de entrar na cabeça da população é o questionamento de por que não se pode votar em Bolsonaro.

Além do 8 de janeiro, aliados também apontam o fato de que, desde a derrota, a reclusão do ex-chefe do Executivo acabou por desmobilizar parte dos seus apoiadores. Uma ala se sentiu decepcionada com o comportamento de Bolsonaro, em especial, por ter deixado o Brasil antes do término do seu mandato.

O ex-presidente embarcou para Orlando (EUA) em 30 de dezembro, numa viagem cercada de sigilo, com seus auxiliares mais próximos. Com isso, ele desprezou rito democrático de passar a faixa ao seu sucessor.

O mandatário chegou a fazer uma live de despedida nesta sexta e não mencionou a viagem.

Na ocasião, ele condenou a tentativa de um ato terrorista em Brasília, criticou a montagem do governo Lula, repetiu o discurso de perseguido, ensaiou uma fala como líder da oposição e defendeu os atos antidemocráticos de seus apoiadores pelo país.

A viagem desorganizou bolsonaristas, que esperavam de Bolsonaro uma postura mais de líder da oposição. Papel que até hoje o ex-presidente rechaça ter, ainda que hoje esteja voltando aos holofotes com a declarada intenção de permanecer "100% ativo" politicamente, como disse em entrevista à Folha de S.Paulo.

A corte eleitoral determinou que Bolsonaro ficará inelegível até 2030 por um placar de 5 a 2. O julgamento ocorre seis meses após a saída de Bolsonaro do cargo e tem como foco uma ação movida pelo PDT contra a chapa devido a uma reunião do ex-presidente com embaixadores, realizada em julho do ano passado, na qual ele repetiu falsidades contra as urnas eletrônicas.

O julgamento começou em 22 de junho, foi interrompido e retomado na quinta-feira (29). No dia, Brasília sediava reunião do Foro de São Paulo, com participação de Lula. Bolsonaristas na Câmara faziam audiência para discutir o grupo de esquerda.


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