BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Anderson Torres é aguardado para depor na CPI do 8 de janeiro nesta terça-feira (8) e enfrentar questionamentos que incluem seu apoio às investidas bolsonaristas contra as urnas eletrônicas, a atuação da Polícia Rodoviária Federal no segundo turno da eleição presidencial e a minuta golpista encontrada pela Polícia Federal em sua casa.
Ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL), o delegado federal chegou a ser preso em janeiro e é investigado porque ocupava o cargo de secretário da Segurança Pública do Distrito Federal no dia dos ataques aos prédios dos três Poderes.
Torres foi um dos principais apoiadores das investidas golpistas de Bolsonaro quando ocupava o cargo de ministro da Justiça e sua participação no 8 de janeiro é vista como de omissão, uma vez que ele viajou para os Estados Unidos às vésperas dos atos golpistas.
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes decidiu que ele deve comparecer à CPI, mas pode ficar em silêncio para não produzir provas contra si mesmo. O ex-ministro também poderá se comunicar com seus advogados durante o depoimento.
Torres, de acordo com a decisão de Moraes, será ouvido na condição de testemunha e "tendo o dever legal de manifestar-se sobre os fatos e acontecimentos relacionados ao objeto da investigação, estando, entretanto, a ele assegurado o direito ao silêncio e a garantia de não autoincriminação".
Torres é um dos investigados no inquérito aberto para apurar possíveis autoridades omissas nos ataques em Brasília. Como estava no exterior no dia dos ataques, ele foi exonerado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB). Foi preso dias depois, quando retornou ao Brasil.
Antes, a residência de Torres em Brasília foi alvo de busca e apreensão. Foi durante a diligência que a PF encontrou uma minuta de golpe, revelada pelo jornal Folha de S.Paulo. O objetivo, segundo o texto, era reverter o resultado da eleição, em que Lula (PT) saiu vencedor. Tal medida seria inconstitucional.
O material tem indicação de ter sido feito após a realização das eleições e teria objetivo de apurar abuso de poder, suspeição e medidas ilegais adotadas pela presidência do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) antes, durante e depois do processo.
Sobre a minuta, Torres deverá ser questionado sobre o motivo de ter mantido em sua residência o documento, quem o entregou e, também, por que não denunciou às autoridades quando recebeu o material com a sugestão antidemocrática.
Antes do 8 de janeiro, Torres esteve sempre ao lado de Bolsonaro nas ações antidemocráticas e entrou de vez na mira de Moraes após a atuação da PRF no segundo turno das eleições.
O ex-ministro de Bolsonaro também teve participação na live de 29 de julho de 2021 em que o ex-presidente atacou, sem provas, a segurança do sistema eleitoral ?à época, a maior investida contra o sistema eleitoral feito pelo presidente até então.
Como revelou a Folha de S.Paulo, foi o então ministro que levou ao Palácio do Planalto peritos da PF para tentar convencê-los a embarcar na tese de falhas de seguranças nas urnas.
Como a live não atingiu os objetivos de Bolsonaro, Torres voltou a tentar utilizar a PF na empreitada de desacreditar as urnas, cerca de dois meses antes do início da campanha.
Em junho de 2022, ele ordenou a criação na PF de um grupo de trabalho para acompanhar a fiscalização das urnas, assegurar a "integridade" das eleições de 2022 e "resguardar o Estado democrático de Direito, que exige integridade e autenticidade dos sistemas eleitorais".
Sobre esses fatos, Torres deverá ser questionado sobre os motivos que o levaram a atuar ao lado de Jair Bolsonaro nos ataques às urnas. Ele chegou a participar da live e utilizou um relatório dos peritos da PF para corroborar as teses mentirosas do ex-presidente.
O documento foi utilizado mesmo após os peritos negarem compactuar com as versões levantadas pelo ex-presidente e utilizadas na transmissão ao vivo.
Já no período próximo à eleição, Torres participou do episódio da prisão do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), que recebeu com granadas e mais de 50 disparos de fuzil os policiais federais enviados por ordem de Moraes para cumprir um mandado de prisão.
Após a prisão, Bolsonaro anunciou nas redes sociais que havia determinado a ida do então ministro da Justiça ao local. Tão logo soube, Moraes mandou um recado a Torres ao afirmar em sua decisão que a intervenção de qualquer autoridade para retardar ou para que a ordem de prisão contra o ex-parlamentar não fosse cumprida seria considerada delito de prevaricação.
Um das suspeitas que pesam contra Torres é sobre o dia do segundo turno, quando Bolsonaro foi derrotado por Lula.
O delegado é investigado na PF por ter supostamente colocado a PRF, então sob aba no Ministério da Justiça, para realizar blitze em locais em que o petista havia recebido mais votos do que Bolsonaro no primeiro turno.
No inquérito sobre esses fatos, é investigada uma viagem de Torres à Bahia às vésperas do segundo turno. Na ocasião, Torres teria pedido à PF que atuasse com a PRF nas rodovias.
Sobre esses fatos, o ex-ministro deverá explicar os motivos de sua viagem à capital baiana e por qual motivo a PRF, como mostrou a Folha de S.Paulo, aumentou o número de blitze em estados no Nordeste mesmo depois da ordem de Moraes para evitar esse tipo de diligência.
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