BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Geraldo Alckmin (PSB) enfrentou com o apagão que atingiu 25 estados e o Distrito Federal nesta terça-feira (15) a sua primeira grande crise no exercício da Presidência da República, substituindo Lula (PT), em viagem ao Paraguai.
Governistas criticaram nos bastidores alguns pontos na atuação do vice-presidente. Mencionaram, em particular, a suposta decisão de não se envolver mais a fundo no problema e de manter as suas outras agendas públicas do dia, mesmo quando boa parte do país estava sem energia elétrica.
Por outro lado, aliados dizem que ele manteve o seu tradicional estilo discreto, sem fazer estardalhaço para mostrar serviço, mas que cobrou respostas, acompanhou a situação e participou de decisões durante o momento de crise.
O apagão atingiu os estados brasileiros exatamente às 8h31, quando foi detectado uma ocorrência na rede de operação do Sistema Interligado Nacional, que interrompeu 16 mil MW de carga.
O sistema foi normalizado apenas seis horas depois, por volta de 14h30, como informou o governo. A falta de energia elétrica provocou transtornos nas cidades brasileiras, suspendendo aulas e afetando o transporte público nas grandes cidades.
Alckmin exercia interinamente a Presidência em razão da viagem de Lula ao Paraguai, para a posse de Santiago Peña.
No momento do apagão, Alckmin chegava para participar do painel de abertura em um evento na CNI (Confederação Nacional da Indústria). A energia elétrica chegou a ser cortada no local, mas restabelecida segundos depois.
A reportagem apurou que Alckmin manteve nesse momento o primeiro contato com o Ministério das Minas e Energia. Como o ministro Alexandre Silveira estava em Assunção com Lula, ele conversou com o secretário-executivo da pasta, Efrain Pereira da Cruz.
Foi então informado da intenção de estabelecer um gabinete de crise, que ele teria concordado e dado aval. Além disso, discutiram a antecipação da viagem de volta de Silveira e a divulgação de uma nota.
Alckmin então manteve a sua programação e participou do painel de abertura, que durou cerca de 50 minutos. Ele foi o último dos cinco palestrantes a discursar.
A primeira nota do Operador Nacional do Sistema, com a dimensão do problema na rede, foi divulgada enquanto Alckmin participava do evento.
O vice-presidente deixou o prédio da CNI por uma saída privativa, evitando assim os questionamentos da imprensa. Ao chegar ao Palácio do Planalto, foi então abordado por jornalistas, mas, com uma expressão fechada, apenas cumprimentou a todos e seguiu para o seu gabinete.
Governistas dizem que a Casa Civil vinha mantendo uma ligação mais estreita com o Ministério das Minas e Energia, sendo informada com mais frequência da situação e também das medidas que seriam implantadas.
Alckmin também manteve uma reunião com a embaixadora da Austrália em Brasília, Sophie Davis. Apenas ao final, por volta de 11h30, três horas depois do início do apagão, conseguiu novo contato com o secretário-executivo do Ministério das Minas e Energia.
Obteve então informações sobre a recuperação do sistema de energia e se pronunciou publicamente pela primeira vez sobre o apagão.
O próprio Alckmin declarou em entrevista, concedida três horas e meia após o início do apagão, que não tomou medidas de enfrentamento da crise e não deu ordens e instruções a seus subordinados.
"Não, não [tomei medidas]. O Ministério das Minas e Energia já estava atuando, só nos colocou aqui a par, mas já está praticamente superado", afirmou a jornalistas.
Aliados do vice-presidente dizem que a decisão de manter as agendas, mesmo no momento de crise, foi resultado de uma avaliação do vice-presidente de que cancelá-las significaria aumentar ainda mais a proporção da crise.
Sobre a demora em se pronunciar sobre o assunto, argumentam que Alckmin esperou ter todas as informações disponíveis antes de responder questionamentos.
O presidente Lula também não comentou o apagão até o início da noite desta terça-feira (15). Apenas sua esposa, Janja, usou as redes sociais para ligar o episódio com a privatização da Eletrobras.
Os outros períodos de viagem de Lula ao exterior foram marcados por momentos de calmaria para a interinidade de Alckmin. Lula chegou a brincar durante uma reunião ministerial que seu vice-presidente nunca usava a sua cadeira quando ele estava ausente, preferindo despachar de uma sala ao lado do gabinete presidencial.
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