SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Manifestantes do Grito dos Excluídos, tradicional manifestação feita no 7 de Setembro, vão pedir a prisão de Jair Bolsonaro (PL) na edição deste ano. A pauta foi incorporada pela CMP (Central de Movimentos Populares) e é discutida por outros movimentos sociais que organizam os atos pelo país.
O tema oficial da 29ª edição é "Vida em primeiro lugar", com o lema "Você tem fome e sede de quê?". A questão alimentar também é a pauta deste ano da Campanha da Fraternidade. As duas iniciativas, com forte tom político, são ligadas à Igreja Católica e reúnem outras organizações.
Um comunicado que será divulgado pela CMP diz que um dos motivos para ocupar as ruas no Grito deste ano é ampliar a pressão "pela prisão de Jair Bolsonaro, por seus crimes de genocídio contra a população brasileira, fraude eleitoral, golpismo e corrupção".
O escândalo das joias é citado como evidência "de que a corrupção correu solta no governo Bolsonaro".
Segundo Raimundo Bonfim, que dirige a CMP e é filiado ao PT, o assunto já foi deliberado internamente e a partir desta semana será apresentado aos demais grupos. "Estamos trabalhando para que outros parceiros também levem esse tema", diz o coordenador.
Bonfim fez a proposta em uma reunião nesta segunda-feira (21) com representantes de MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), CUT (Central Única dos Trabalhadores) e UNE (União Nacional dos Estudantes).
Materiais de convocação que circulam nas redes sociais para o feriado da Independência já apostam no mote da prisão de Bolsonaro para tentar atrair o público.
Mesmo que o apelo esteja fora das bandeiras oficiais, será explorado de qualquer forma pela CMP, que foi criada em 1993, tem unidades em 19 estados e agrupa entidades de diversas áreas, como moradia, saúde, mulheres, racismo, juventude e economia solidária.
De acordo com a organização do Grito dos Excluídos, os articuladores têm liberdade para adicionar pontos além da temática principal, inclusive com questões locais das cidades.
A campanha pela prisão de Bolsonaro é defendida por outros militantes que planejam as mobilizações e ganhou força diante do noticiário recente. O assunto está na pauta de reuniões previstas para esta semana e, com isso, ainda poderá ser encampado por outras organizações.
A CMP aponta as "muitas e alarmantes denúncias" contra o ex-presidente como justificativas para seu encarceramento, principalmente depois das revelações do hacker Walter Delgatti sobre planos para forjar a invasão a uma urna eletrônica e aprofundar a ofensiva contra o sistema eleitoral.
O texto articulado pela entidade diz que, além dos indícios sobre o golpismo de Bolsonaro, "aumentam as evidências de participação do clã Bolsonaro em um esquema de negociação ilegal de joias doadas ao Estado brasileiro por representantes de outros países, como a Arábia Saudita".
Os rumores sobre uma eventual prisão de Bolsonaro cresceram nos últimos dias, mas a chance de isso ocorrer imediatamente é considerada remota tanto por especialistas da área do direito quanto por pessoas ligadas ao caso. A avaliação é que as investigações têm que avançar para isso ocorrer.
Uma hipótese considerada mais plausível para um pedido de prisão é se houver tentativa de obstrução das apurações ou iminente risco de fuga do ex-presidente ?que está inelegível até 2030.
O imbróglio das joias, no entanto, tem potencial para deixar o ex-mandatário atrás das grades se ele sofrer uma condenação e o processo transitar em julgado. Os crimes de peculato e de lavagem de dinheiro, que são investigados, poderiam resultar em pena de prisão em regime fechado ou semiaberto.
Como mostrou a Folha, no momento não há nem sequer uma denúncia formal, e o caso ainda está em fase de investigação ?no decorrer da qual o enquadramento das condutas ainda pode ser alterado.
Organizações de esquerda que fazem mobilizações de rua têm monitorado o tema da eventual prisão do ex-presidente e não descartam convocar um ato com essa agenda específica mais adiante.
Bolsonaro já foi alvo nos últimos anos de participantes do Grito dos Excluídos, organizado desde 1996 por alas católicas progressistas e apoiado por grupos da órbita do PT do presidente Lula.
O pedido de prisão deverá ter espaço privilegiado nas reivindicações a serem exibidas pela CMP em São Paulo, mas há esforços para que o assunto se repita país afora.
"Estamos orientando toda a militância no Brasil para que levem esse tema", diz Bonfim, que é um veterano agitador do Grito e durante a pandemia ajudou a capitanear marchas pelo impeachment de Bolsonaro.
Na capital paulista, o ato do próximo dia 7 terá concentração na avenida Paulista e passeata indo até as imediações do parque Ibirapuera (zona sul). Será a primeira edição com ares de normalidade desde o início da pandemia de Covid-19, que modificou a dinâmica nos anos anteriores.
Em 2022, o evento foi transferido da Paulista para a praça da Sé e teve dimensões mais tímidas. A organização abriu mão de ocupar a avenida diante da tensão que se desenhava para aquele feriado da Independência, com Bolsonaro inflamando seus apoiadores contra as instituições.
A poucos dias da eleição, as manifestações no ano passado tiveram coros com pedido de voto em Lula e ações contra o neofascismo representado pela extrema direita. No Recife, a réplica de um caixão com uma foto do então presidente foi carregada por participantes para criticá-lo.
O Grito deste ano terá concentrações nas cinco regiões do país, segundo os mobilizadores, chamando a atenção para problemas como injustiça social, miséria e violência. Em uma entrevista coletiva no próximo dia 4, serão informados os pontos com atividades em cada cidade.
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