BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A um ano das eleições municipais, o PT traça uma estratégia para tentar se recuperar após ver o número de prefeituras desidratar nos últimos anos.

O partido do presidente Lula quer lançar candidato próprio em pelo menos 12 capitais e mira a vice nos principais centros urbanos, São Paulo e Rio de Janeiro, além do Recife.

Coordenador do grupo responsável pelas costuras de alianças para a eleição, o senador Humberto Costa (PT-PE) disse que o plano do partido é ocupar a vice na chapa de Guilherme Boulos (PSOL).

"Está pacificado o acordo para apoiar o Boulos. O PT quer a vice, acredito que não terá problema nenhum", disse Costa à Folha.

O senador se refere ao pacto pelo qual Boulos abriu mão da disputa ao Palácio dos Bandeirantes no ano passado, em favor da candidatura do hoje ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).

Boulos lidera a corrida eleitoral de 2024 na cidade de São Paulo, segundo pesquisa Datafolha divulgada em 31 de agosto. O deputado federal do PSOL marcou 32% da intenção de voto dos paulistanos, à frente do atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), que registrou 24%.

O PT também vai pedir para ocupar a vice em troca do apoio à reeleição dos prefeitos do Rio, Eduardo Paes (PSD), e do Recife, João Campos (PSB).

Apesar dos acenos do PT, Paes e Campos até agora não se comprometeram em ceder a vaga. "Queremos o entendimento, se não houver, o partido vai sentar e ver o que fazer", disse Costa.

Paes apoiou Lula na campanha presidencial e se prepara para enfrentar adversários do campo bolsonarista pela Prefeitura do Rio. No pleito de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) venceu Lula na capital fluminense por uma diferença de 5,3 pontos percentuais.

O PL estuda diferentes opções de candidatura própria no Rio: o deputado Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, o senador Carlos Portinho (PL-RJ) ou o ex-candidato a vice-presidente e ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, Walter Braga Netto.

Já o PSB de João Campos tem uma aliança mais firme com o PT. Trata-se do partido do vice-presidente Geraldo Alckmin.

Para apoiar a reeleição do prefeito do Recife, petistas citam como possíveis nomes para a vice o deputado federal Carlos Veras, a vereadora Liana Cirne e a deputada estadual Rosa Amorim, além de Mozart Sales, que trabalha na Secretaria de Relações Institucionais do Palácio do Planalto. O ministério é comandado por Alexandre Padilha (PT).

Com Lula à frente do Planalto, o PT vê as eleições municipais do próximo ano como uma oportunidade de redenção e retomada de prefeituras perdidas. O partido encolheu por dois pleitos seguidos: em 2016 e em 2020.

Há três anos, o PT saiu da disputa com 183 prefeitos e, pela primeira vez desde a redemocratização, ficou sem o comando de nenhuma das 26 capitais brasileiras. O resultado foi bem inferior aos de 2008 e 2012, quando a sigla chegou a ocupar cerca de 600 prefeituras.

"Não estabelecemos metas, mas temos convicção de que vamos ter um desempenho eleitoral muito melhor do que nós tivemos em 2020. Não há nenhuma dúvida. A gente não quantificou, talvez nem vá quantificar, mas temos certeza absoluta de que vamos ter um desempenho eleitoral muito bom", disse Costa.

O partido pretende definir todos os pré-candidatos até 30 de novembro, para que eles tenham tempo para estruturar a campanha e entrar fortalecidos nas disputas.

Até o momento, a sigla já estabeleceu que 12 capitais terão candidatos próprios. São elas: Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Vitória (ES), Aracaju (SE), Maceió (AL), João Pessoa (PB), Natal (RN), Fortaleza (CE), Teresina (PI), Cuiabá (MT), Campo Grande (MS) e Goiânia (GO).

No entanto, o PT ainda precisa decidir quem concorrerá nessas capitais.

Alguns nomes citados, por enquanto, são a deputada federal Maria do Rosário (Porto Alegre), a deputada federal Natália Bonavides (Natal), o deputado estadual João Novo (Teresina), o deputado estadual e ex-prefeito João Coser (Vitória) e a deputada federal Delegada Adriana Accorsi (Goiânia).

Ainda não há decisão final sobre outras capitais estratégicas para os petistas, como Belo Horizonte (MG), onde o deputado federal Rogério Corrêa já teve a pré-candidatura aprovada pelo diretório estadual do partido. Há uma ala que ainda estuda a possibilidade de apoiar a deputada Duda Salabert (PDT).

O PT também avalia ter candidato próprio em Florianópolis (SC). Já em Salvador (BA), há uma discussão entre lançar um petista ou apoiar um candidato alinhado à sigla.

De forma geral, a orientação é fazer alianças com os outros nove partidos que estavam com Lula desde o começo da corrida presidencial, como PSB, PDT, Solidariedade, Rede, PSOL, PV e PC do B ?esses dois últimos federados com o PT, portanto obrigados a seguir juntos no pleito municipal.

Um segundo grupo é formado por MDB, PSD e União Brasil, que se juntaram ao governo federal após o resultado das urnas.

Já se esperam coalizões entre PT e PL em cidades do Nordeste, especialmente no Ceará, na Bahia e em Pernambuco.

"Acho que o PL não vai permitir nenhuma aliança com o PT. Acho que se algum diretório deles topar fazer, vão terminar cancelando. Mas existem lugares onde, por exemplo, no Nordeste, onde o PL apoiou o presidente Lula, apoiou candidaturas do PT. Então, nesses lugares, aí se discute. E aí pode ter uma aprovação especial de possibilidade de realização de aliança", afirma Humberto Costa.

No fim de agosto, por apenas dois votos, o comando petista aprovou um documento em que decidiu não barrar alianças com o partido de Bolsonaro nas eleições municipais de 2024. Pela decisão do diretório nacional do PT, ficam permitidas coligações com candidatos do PL nos municípios, desde que apoiem Lula.

A resolução do PT não chega a citar o PL, limitando-se a proibir apoio a candidaturas identificadas com o bolsonarismo. "É vedado apoio a candidatos e candidatas identificados com o projeto bolsonarista", diz o documento.


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